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ainda sobre a elite autoritaria

Para a filosofa Marilena Chauí para que possamos compreender a sociedade brasileira temos de aceitar que ela é autoritária e violenta. A sociedade brasileira seria autoritária e violenta.

Essa afirmação contraria a ideia consagrada de que no Brasil há uma cultura que seria formada pelo acolhimento recíproco e pela cordialidade, só por isso merece atenção e reflexão.

Numa entrevista que nossa filosofa concedeu à CULT[1] ela diz que não se trata de considerar os brasileiros individualmente violentos, mas de reconhecer históricas que produzem uma vida social em que o espaço público e republicano é submetido aos interesses privados de uma elite medieval, fato que reproduz esses interesses e as relações de poder no cotidiano social.

Como exemplo desse autoritarismo, formador das nossas estruturas de poder, pode-se citar o Golpe de Estado que se construiu com o concurso da mídia para afastar a Presidente Dilma Rousseff e empossar um lacaio dos interesses privados, dando inicio de uma espécie de ditadura parlamentar, tutelada pela própria mídia, pelo MPF e por uma vara federal de Curitiba, revelando a falta de apreço que a elite nacional e a classe média urbana tem pela democracia.

Aliás, como escreveu Roberto Amaral, no Brasil a democracia representativa nunca encontrou um campo fértil, jamais deu à vontade soberana do povo e ao voto a sua importância genuína[2].

Vivemos, segundo ele, “...desgraçadamente nessa ordem -, construindo uma sociedade autoritária e, daí, um Estado autoritário, regido por um direito autoritário.”.



[1] CULT, Nº 209, p. 9 a 17.
[2] “Apontamentos para a reforma política – A democracia representativa está morta; viva a democracia participativa”, in Brasília a. 38 n. 151 jul./set. 2001.

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