Simone de Beauvoir, uma das
importantes pensadoras do século XX, não fala do "ser mulher" como
uma figura fisiológica ou biológica, mas como produto cultural, uma figura
socialmente construída.
É sobre isso senhores
vereadores de Campinas que tratou o fragmento do texto contido na prova de
ciências humanas do ENEM, não se tratava de nada "demoníaco"...
Afirmar que esse pensamento é demoníaco flerta com a estupidez.
Estupidez ou mau-caratismo
do vereador que usou a expressão, pois, gênero não é o mesmo que sexo, o sexo é
biológico, nascemos com o sexo, já o gênero é uma construção social. Análise
esta, pontuada nos estudos das ciências humanas e da sociedade como a Sociologia,
a História por exemplo. Portanto a propositura deste conteúdo em avaliações
como o ENEM (Exame Nacional do Ensino Médio) mostra consonância com a realidade
social brasileira e internacional, sua historicidade e contemporaneidade.
Márcia Tiburi está certa
"Ele [o livro de Simone de Beauvoir] deveria ser lido não por feministas
apenas, mas por mulheres, homens e todas as pessoas que, de um modo ou de
outro, estão marcados pela questão de gênero, porque se trata de um livro
básico, que nos ensina a pensar sobre as desigualdades e privilégios de gênero,
aqueles que experimentamos como os mais naturais sem perceber como nos
marcam."
É verdade também que o Papa
Francisco, recentemente, falou da ideologia de gênero como de uma
"colonização ideológica", como "expressão de frustração",
como um apagamento da diferença sexual, essa é uma reflexão. Ele não fala em
nada demoníaco, essa é a verdade, esse é o debate.
Mas a diferença sexual da
qual fala o Papa Francisco é concebida como dada na natureza, objetiva, sem
discussão, tem-se de entender esse contexto, a reflexão do Papa não considera a
dinâmica e complexidade das relações humanas hoje.
Há ainda Joseph Ratzinger
que escreveu, faz mais de 10 anos, na Carta aos bispos da Igreja Católica sobre
a "colaboração do homem e da mulher na Igreja e no mundo", que o
gênero é inimigo, uma forma de feminismo hostil.
Joseph Ratzinger trata as
grandes teóricas, Judith Butler e Simone de Beauvoir (e a sua frase "não
se nasce mulher, torna-se") da mesma forma...
Mas Ratzinger não conta
como uma posição cristã genuína, pois foi ele que baniu Leonardo Boff e
a Teoria da Libertação e privou milhões de pessoas da ação cristã, da
generosidade humana e sepultou orientação da Igreja Católica correta do
Concílio Vaticano II e da Conferência de Medellín.
Mas quem quer ser
intelectualmente honesto tem de reconhecer contradições da posição da Igreja,
afinal o Papa e a Igreja aceitam o progressismo social, mas tem dificuldade de
reconhecer a mudança das relações entre os humanos; eles podem aceitar, na
misericórdia, os homossexuais, mas paradoxalmente não aceitam a comunidade
LGBT; falam do inegável valor das mulheres, criticam a violência contra elas,
mas não reconhecem a sua autodeterminação.
Ninguém precisa concordar
com Simone de Beauvoir ou com a Igreja , mas discordar com honestidade é
fundamental, tem-se de usar o argumento intelectual correto, no ambiente
adequado, fora desses não se deve perder tempos com a estupidez humana
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