Pular para o conteúdo principal

SOBRE O MORALISMO LACERDISTA (ou o verdadeiro combate à corrupção)

Apenas a esquerda pode representar a luta genuína de combate à corrupção, diferenciando-a do moralismo lacerdista que presenciamos hoje no país, especialmente promovido pela revista VEJA.
Ver herdeiros e sucessores da velha UDN defender o combate à corrupção é de fazer rir. 

Essa gente não é honesta, são corruptos e corruptores desde o início da nossa História. 

O que esses senhores fazem é usar a bandeira do combate à corrupção de forma moralista e não honesta, da mesma forma que a velha UDN usava, da mesma forma que Carlos Lacerda fez nos anos 50 e inicio dos anos 60.

Não podemos esquecer que a UDN foi sucedida pela ARENA e depois pelo PDS, PFL, PSDB, DEM, PP, parcela PSD, dentre outros. Até parcela do antigo PCB, o PPS, foi cooptado.

Por que estou escrevendo sobre isso? Porque toda a alegada corrupção de filiados ou pessoas próximas ao PT, ao longo de seus 12 anos de governo só foi investigada, julgada e punida graças ao próprio PT. Pois, ao contrário do que se propaga, não houve aparelhamento das estruturas e instituições republicanas nos últimos 12 anos.
Bem diferente do que aconteceu nos tempos do PSDB. Por que? Porque os tucanos aparelharam os órgãos de controle, como a Procuradoria Geral da República. Essa mesma Procuradoria, comandada por um primo do vice de FHC, impediu a investigação de caso amplamente divulgado à época: a compra de votos de Deputados e Senadores para aprovar a emenda constitucional que permitiu a FHC disputar a própria sucessão em 1998. Não houve apuração. Uma vergonha!
Se no tempo do PSDB na presidência houvesse na PGR um procurador-geral como os que o PT indicou ao chegar ao poder, o próprio ex-presidente seria condenado por ter o "domínio do fato" de um escândalo (compra de votos) que o beneficiou pessoalmente. Contudo, o ex-presidente tucano nomeou para o cargo primo do então vice-presidente da República e nada foi investigado.
O nome do primo do vice-presidente é Geraldo Brindeiro. Ele, então Procurador-geral da República, era primo do vice de FHC, ficou OITO ANOS no cargo e sua atuação foi tão escandalosamente parcial em prol de quem o indicou que ficou conhecido como "engavetador-geral da República". Em todo o seu tempo à frente da PGR, não incomodou uma só vez o governo que o indicou.
Enquanto FHC manteve um só procurador-geral por 8 anos, no mesmo tempo de governo Lula nomeou três procuradores gerais. O terceiro, Antonio Fernando de Souza, inclusive, foi quem literalmente massacrou o PT ao fazer ao STF a denúncia do mensalão.
Mas esse é um assunto que não me agrada comentar. Pois penso que o combate à corrupção não é uma agenda política propriamente, acredito também que os mecanismos de controle interno e externo da administração pública tem de funcionar, por isso não seria adequado construir-se torno do combate à corrupção a ação governamental. A construção das políticas públicas não podem limitar-se a esse aspecto.

O que dizer do combate à miséria? O permanente controle da inflação? Os cuidados com a política macroeconômica? Os necessários investimentos em infraestrutura? As políticas públicas no campo da educação, da saúde e da cultura?

Obviamente, o combate à corrupção é necessário. Mas, esta não é uma agenda propriamente dita. Não podemos paralisar programas e projetos de Estado ou de governo por conta disso. Mesmo porque o combate à corrupção deve estar contido nas ações cidadãs e nas de Estado e de todas as estruturas e instituições públicas e privadas do país.
Apoiado pelos maiores veículos de comunicação do Brasil e por setores da direita, o movimento de combate à corrupção não foi abraçado, assumido ou protagonizado por setores conservadores, setores que são em verdade agentes de multiplicação dessa mesma corrupção.

O combate à corrupção sempre foi uma bandeira da esquerda, dos setores progressistas, dos partidos políticos, dos intelectuais, dos estudantes, das centrais sindicais etc., e não dos lacerdistas e seu moralismo de ocasião.

Vale lembrar que o combate à corrupção nunca foi uma bandeira dos setores conservadores, salvo episodicamente e de forma oportunista e distorcida, como agora.

Há uma contradição lógica entre os valores do sistema que os conservadores defendem, em que os interesses individuais e imediatos vigoram, e os valores de um sistema que respeita os Direitos Humanos e tem como foco o coletivo e os interesses nacionais em longo prazo.


Para reflexão.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

DA FAMÍLIA CORLEONE À LAVA-JATO

A autolavaggio familiare agiu e reagiu, impondo constrangimento injusto ao atacar a reputação de advogados honrados. Me refiro a Roberto Teixeira e Cristiano Zanin. Já perguntei aqui no 247 [1] : “ Serão os jovens promotores e juízes "de baixa patente" os novos tenentes" Penso que sim, pois assim como os rebeldes do inicio do século XX, os jovens promotores e juízes, passaram a fazer política e interferir nas instituições e estruturas do Estado a seu modo. Mas em alguns momentos as ações e reações deles lembram muito a obra de Mario Puzzo. As ideais dos rebeldes do início do século XX, assim como dos promotores e juízes desde inicio de século XXI, eram ao mesmo tempo conservadoras e autoritárias; os tenentes defendiam reformas políticas e sociais - necessárias naquele momento -, e no discurso estavam presentes os sempre sedutores temas do combate à corrupção e defesa da moralidade política. Deltan Dallagnol e Sérgio Moro representam os jovens promotores e juízes d...

INDEPENDÊNCIA? QUAL?

Aprendemos que no dia 7 de setembro o Brasil emancipou-se e que, por ato de bravura e nacionalismo de um príncipe português, libertou-se do jugo do colonizador. Será? Mas  somos de fato uma nação i ndependente? A nossa carta política é conhecida e respeitada por nossos lideres? Bem, de 1985 a 2013 é possível dizer que sim, mas depois da visita de Joe Biden em 2013 e das marchas de junho do mesmo ano, depois da operação Lava-Jato e do golpe de 2016 podemos dizer que vivemos em um estado de permanente risco de ruptura institucional, com militares assanhados pelo retorno de um regime autoritário. É possível fazermos um paralelo entre o IPES , o IBAD e a Operação Brother Sam , com o MBL e seus pares, a propaganda nas redes via fake news e a Operação Lava-Jato, apesar do lapso de cinquenta anos, é possível afirmar que ambas tem a origem na sanha imperialista estadunidense, inaugurada em William Mckinley. Fato é que a partir de meados dos anos 1950 (assim como em 2003), o Bras...

SOBRE PERIGOSO ESTADO MINIMO

O governo Temer trouxe de volta a pauta neoliberal, propostas e ideias derrotadas nas urnas em 2002, 2006, 2010 e 2014. Esse é o fato. Com a reintrodução da agenda neoliberal a crença cega no tal Estado Mínimo voltou a ser professada, sem qualquer constrangimento e com apoio ostensivo da mídia corporativa. Penso que a volta das certezas que envolvem Estado mínimo, num país que ao longo da História não levou aos cidadãos o mínimo de Estado, é apenas um dos retrocessos do projeto neoliberal e anti-desenvolvimentista de Temer, pois não há nada mais velho e antissocial do que o enganoso “culto da austeridade”, remédio clássico seguido no Brasil dos anos de 1990 e aplicado na Europa desde 2008 com resultados catastróficos. Para fundamentar a reflexão e a critica é necessário recuperarmos os fundamentos e princípios constitucionais que regem a Ordem Econômica, especialmente para acalmar o embate beligerante desnecessário, mas sempre presente. A qual embate me refiro? Me ref...