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O aeroporto do tio do Aécio


“Banalizar” é um verbo transitivo direito e significa fazer com que algo que deveria causar mal-estar fique banal ou comum. Significa também tornar vulgar. Já “banalização” é substantivo feminino que significa tornar vulgar, tornar comum, tornar banal.

O que li esse final de semana é de tirar o folego... Lá nas Minas Gerais no final de seu segundo mandato o então governador Aécio Neves gastou 14 milhões de reais na construção de um aeroporto dentro da fazenda de seu tio-avô Mucio Tolentino, irmão de sua avó Risoleta Neves, viúva de Tancredo Neves.

O aeroporto fica no município de Claudio e, apesar de ter sido construído com 100% de dinheiro público, é o tio-avô do Senador do PSDB que fica com as chaves do portão do aeroporto “público” e, segundo a notícia, para pousar ali é necessário pedir autorização aos filhos do tio Múcio. A operação desse aeroporto é considerada ilegal pela ANAC – Agência Nacional de Aviação Civil e uma curiosidade: o município de Claudio fica a 150 km de Belo Horizonte e quando o “aeroporto da família” foi construído o município vizinho de Divinópolis, a 50 km de Claudio, já dispunha de um regular e regularizado. Mas o senador-candidato afirmou à imprensa, sem nenhum constrangimento, que na escolha da fazenda do tio Múcio foram adotados apenas critérios técnicos.

Absurdo?

Sim um absurdo, pois o tratamento dado ao fato é inusitado e ignora a presença do indesejado “patrimonialismo”, tão absurdo que lembrei do “teatro do absurdo (designação criada pelo crítico húngaro Martin Esslin -1918-2002), tentando sintetizar uma definição que agrupasse as obras de dramaturgos de diversos países que, apesar de serem completamente diferentes em suas formas, tinham como centro de sua obra o tratamento inusitado de aspectos inesperados da vida humana.
Esse fato é exemplo do que chamamos de patrimonialismo. O patrimonialismo é a característica de um Estado que não possui distinções entre os limites do público e os limites do privado. Foi comum em praticamente todos os absolutismos. O monarca gastava as rendas pessoais e as rendas obtidas pelo governo de forma indistinta, ora para assuntos que interessassem apenas a seu uso pessoal (compra de roupas, por exemplo), ora para assuntos de governo (como a construção de uma estrada). Como o termo sugere, o Estado acaba se tornando um patrimônio de seu governante. 
Esse é melhor o candidato da oposição. Meu Deus do céu!

Aguardemos cenas dos próximos capítulos.

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