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JULGAMENTO OU ESPETÁCULO MIDIÁTICO?




O inicio do julgamento espetáculo tem inicio em agosto. Não é apenas um julgamento técnico-político, é um espetáculo midiático, um reality show onde os setores conservadores não esperam um julgamento correto, mas um linchamento.
É verdade que a corrupção é reconhecidamente um dos maiores desafios das sociedades contemporâneas, mas ao contrario do que podemos imaginar não está presente apenas nos governos, mas nas ações dos cidadãos comuns, das entidades públicas e privadas. Por isso todas as ações politicias e do Ministério Público merecem apoio e aplausos naquilo que é positivo e naquilo que nos lembra a Operação Mãos Limpas. Contudo, lembram também, em certa medida, ao macartismo (em se verificando que há uma certa seletividade das operações, como se comenta em alguns meios) e a santa inquisição também.
O que o ex-ministro Zé Dirceu vem passando desde 2005 lembra a Santa Inquisição. Isso mesmo, pois assemelha-se àquela medonha e vergonhosa corte religiosa, que era operada por autoridades da igreja e que decidia quem eram os hereges. E quando uma pessoa era declarada herege, a punição era entregue às autoridades seculares, pois "a igreja não derramava sangue". 

Parte da imprensa tem feito as vezes da “santa inquisição” e decidiu que Zé Dirceu é “herege” e cobra (pressiona mesmo) do Poder Judiciário não um julgamento justo, mas uma punição dura. A "santa inquisição" moderna já condenou Zé Dirceu, já o declarou herege, bruxo, mafioso.

E faz tudo isso desprezando o princípio de inocência ou Presunção da Inocência, princípio jurídico aplicado ao direito penalque estabelece a inocência como regra. Esse princípio tem sido solenemente ignorado por setores da imprensa e da classe política, os quais apesar de saberem que somente após um processo concluído em que se demonstre a culpabilidade do réu é que o Estado poderá aplicar uma pena ou sanção. Mas em relação a Zé Dirceu, diariamente, a santa imprensa o expõe a vergonha pública, ele é tratado como se condenado fosse.

Esses setores da mídia desprezam a Constituição Federal que prevê no art. 5° LVII"Ninguém será considerado culpado até o trânsito em julgado em sentença penal condenatória", e tratam o ex-ministro como condenado o que eu considero anti-jornalismo, postura que lembra o método de propaganda do fascismo também, além da santa inquisição. Não tenho nenhuma divergência à necessária investigação e condenação de culpados, mas divirjo do método de espetacularizar circunstâncias e condenar previamente aqueles que são, em principio e por principio, inocentes.

Setores da imprensa, assim como fazia a santa inquisição, expõem o ex-ministro a vergonha pública recorrente, e esses mesmos setores da impresa não informam que boa parte das acusações iniciais contra Zé Dirceu foram abandonadas pela Procuradoria Geral da União e que as demais não estão baseadas em nenhuma prova documental ou testemunhal tratando-se de verdadeiro auto-de-fé e se ele for condenado será a vitória desses setores e daqueles que eles representam.
Alguns desses veículos qualificam o dirigente partidário e ex-ministro Zé Dirceu como chefe de uma organização criminosa e a capa de uma revista semanal referiu-se a ele como “O Poderoso Chefão”. Há condenação? Não, não há. Mas há freqüente desrespeito à privacidade e intimidade do cidadão Zé Dirceu, fato que por si só já mereceria atuação firme do Ministério Público e do Poder Judiciário, além de desagravo político do campo progressista. E o Princípio de Inocência ou Presunção da Inocência? Por que esses setores são tão generosos e comedidos com José Serra e sua filha Verônica Serra, apesar de todos os documentos apresentados pelo jornalista Amaury Ribeiro Junior, e tão pouco responsáveis e republicanos com Zé Dirceu?

Merece registro que Zé Dirceu nunca foi condenado por nenhum crime, mas apesar disso a mídia interfere no senso comum ignora a presunção de inocência e cria fatos, transformando em verdades suas versões oportunistas e fim: “Zé Dirceu é um herege e merece ser queimado em praça pública”, essa é a mensagem subliminar. Isso merece reflexão.

Mauro Santayana escreveu faz muitos anos que os semeadores a discórdia não precisam de terra boa para semear, pois transformam a terra mais infértil em fecunda usando como adubo a irresponsabilidade da mentira e da versão. É o que setores da mídia fazem com um único objetivo: prestar-se a manter viva a campanha ideológica de combate às políticas macro-econômicas e às políticas sociais inauguradas no governo Lula e que seguem firmemente no atual governo da Presidenta Dilma, bem como tentam criar cizânia entre o ex-presidente Lula e a Presidenta Dilma, entre o dirigente partidário Zé Dirceu e a Presidenta.

Podemos afirmar que a oposição, não tendo elementos de critica substantiva, terceirizou para setores da imprensa - alinhados ideologicamente à lógica do mercado - a tarefa política e legitima de opor-se.

Mas quem é de fato Zé Dirceu ou José Dirceu de Oliveira e Silva? Zé Dirceu é herói de uma geração e isso tenta ser apagados através das mentiras e das versões repetidas milhares de vezes pelos serviçais dos setores conservadores e preconceituosos.

Por que herói? Porque, sob qualquer prisma que se analise, o jovem Zé Dirceu foi um Herói.

Foi líder estudantil, presidente da UNE - União Estadual dos Estudantes, da qual é presidente de honra, combateu a ditadura e por isso foi preso, em 1968, ao organizar e participar do 30º Congresso da União Nacional dos Estudantes, em Ibiúna (SP), um congresso organizado corajosamente na clandestinidade, foi um dos 15 presos libertados por exigência dos seqüestradores do embaixador norte-americano Charles Burke Elbrick, foi banido do país pela ditadura militar.

Banido Zé Dirceu exilou-se em cuba, onde trabalhou e estudou, tendo corajosamente voltado clandestinamente ao país por duas vezes.  Com a anistia, voltou à legalidade, em dezembro de 1979. Não há registro de que ele tenha participado da luta armada. Faço essa ressalva porque a luta armada mereceu e merece criticas - enquanto ação tática de combate, resistência e denuncia contra o regime de exceção - mas nenhuma critica racional retira dos jovens que tombaram ou daqueles que sobreviveram o único adjetivo que validamente lhes cabe: HERÓIS e suas ações são exemplo clássico de heroísmo. Por isso é injusta a perseguição em curso, especialmente com olhos no jovem Zé Dirceu. O jovem Zé Dirceu estava disposto, na luta pela democracia e por seus ideais, dar a vida aos seus irmãos, é herói porque renunciou a tanto e nada buscava para si próprio, ele e todos os jovens daquela geração são heróis porque eram mais que justos, eram generosos.

Por outro lado Zé Dirceu maduro, foi deputado estadual constituinte (exercendo mandato entre 1987 e 1991, nesse período, notabilizou-se pela forte oposição à administração do então governador Orestes Quércia), foi deputado federal (no exercício do mandato de deputado federal, foi o autor - ao lado do senador Eduardo Suplicy - do pedido para a instalação da CPI que levou o então presidente Fernando Collor de Mello ao impeachment), foi coordenador da campanha vitoriosa de Lula em 2002 e ministro de Estado, na vida pública do Zé não há uma mácula sequer anterior aos fatos/factóides de 2005. Zé Dirceu nunca foi condenado pelos fatos de 2005 e a sua cassação pela Câmara dos Deputados será julgada pela história ou revista por aquela casa um dia.

E novamente os representantes dos derrotados em 2002, 2006 e 2010 tentam, atacando e pressionado o STF a condenar Zé Dirceu, atingir o que Lula e Dilma representam. Mas a verdade vai triunfar derrotar a mentira e a versão, armas dos mentirosos e dissimulados.

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