Pular para o conteúdo principal

Sobre a necessária formação acadêmica do Jornalista


O senador Antonio Carlos Valadares do PSB de Sergipe apresentou, na quarta-feira (1º/7), Proposta de Emenda à Constituição (PEC) que torna obrigatória a exigência de diploma para exercer a profissão de jornalista. Há quem diga que se aprovada a emenda já nasceria inconstitucional porque o Supremo Tribunal Federal afirmou recentemente que a liberdade de expressão é cláusula pétrea e não pode ser restringida. Acredito que regulamentação da profissão proposta pelo Senador socialista não fere a clausula pétrea da liberdade de expressão, pois há indubitavelmente aspectos tecnicos, filosóficos e éticos que somente a universidade pode oferecer ao jornalista, especialmente nesses tempos em que há inumeros meios de comunicação, nos tempos da multimidia.
Acredito que a consequência óbvia da não obrigatoriedade do diploma de jornalista para o exercício da profissão será a rápida desqualificação do corpo de profissionais da imprensa do país. Empresas jornalísticas poderiam passar a contratar qualquer um que se declare como jornalista, fato que interessa às corporações e não à sociedade.
A PEC vem em boa hora e devolve à sociedade a possibilidade do debate e de acordo com o parlamentar, teria foi elaborada para superar o impasse provocado pela decisão do Supremo Tribunal Federal. Os ministros consideraram inconstitucional o Decreto-lei 972/69, que previa a obrigatoriedade de diploma, a proposta, entretanto, apresenta duas ressalvas, ao permitir que colaboradores possam publicar artigos ou textos semelhantes, e os jornalistas provisionados continuem atuando, desde que com registro regular. Os jornalistas provisionados com registro regular são aqueles que exerciam a profissão até a edição do Decreto-lei, não sei se essa é a melhor forma de tratar talvez fosse o caso de criar duas categorias: a do jornalista profissional e do colaborador.
Conforme o senador, a principal atividade desenvolvida por um jornalista é "a apuração criteriosa de fatos, que são então transmitidos à população segundo critérios éticos e técnicas específicas que prezam a imparcialidade e o direito à informação", como será possível a quem não tenha a necessária e adequada formação técnica e ética desenvolver validademente essa atividade?
Concordo com o Senador Valadares quando ele rebate as críticas dos que consideram que a PEC é uma afronta ao Supremo, afinal a exigência do diploma diz respeito não à liberdade de expressão, mas à qualificação indispensável para uma atividade profissional que interfere diretamente, e de forma ampla, no funcionamento da sociedade, e há um fato que não se pode ignorar: em todos os órgãos de imprensa do Brasil existe a figura do colaborador e isso é uma prova de que a liberdade de expressão não está sendo impedida, muitopelo contrário.
Há médicos, advogados e outros profissionais que escrevem textos técnicos sobre os campos onde atuam, ou até sobre outras áreas que envolva seu conhecimento e vivência, mas não são os colaboradores que "fazem" o jornal, são os jornalistas. O que deve ser garantido, e vem sendo, é a liberdade de expressão.
Fica o registro e a idéia.

Comentários

  1. Muito bem colocado, concordo plenamente. Sem mudar uma vírgula!

    Acredito ainda, que a política deveria seguir o mesmo caminho, com formação acadêmica.

    ResponderExcluir

Postar um comentário

Postagens mais visitadas deste blog

DA FAMÍLIA CORLEONE À LAVA-JATO

A autolavaggio familiare agiu e reagiu, impondo constrangimento injusto ao atacar a reputação de advogados honrados. Me refiro a Roberto Teixeira e Cristiano Zanin. Já perguntei aqui no 247 [1] : “ Serão os jovens promotores e juízes "de baixa patente" os novos tenentes" Penso que sim, pois assim como os rebeldes do inicio do século XX, os jovens promotores e juízes, passaram a fazer política e interferir nas instituições e estruturas do Estado a seu modo. Mas em alguns momentos as ações e reações deles lembram muito a obra de Mario Puzzo. As ideais dos rebeldes do início do século XX, assim como dos promotores e juízes desde inicio de século XXI, eram ao mesmo tempo conservadoras e autoritárias; os tenentes defendiam reformas políticas e sociais - necessárias naquele momento -, e no discurso estavam presentes os sempre sedutores temas do combate à corrupção e defesa da moralidade política. Deltan Dallagnol e Sérgio Moro representam os jovens promotores e juízes d...

INDEPENDÊNCIA? QUAL?

Aprendemos que no dia 7 de setembro o Brasil emancipou-se e que, por ato de bravura e nacionalismo de um príncipe português, libertou-se do jugo do colonizador. Será? Mas  somos de fato uma nação i ndependente? A nossa carta política é conhecida e respeitada por nossos lideres? Bem, de 1985 a 2013 é possível dizer que sim, mas depois da visita de Joe Biden em 2013 e das marchas de junho do mesmo ano, depois da operação Lava-Jato e do golpe de 2016 podemos dizer que vivemos em um estado de permanente risco de ruptura institucional, com militares assanhados pelo retorno de um regime autoritário. É possível fazermos um paralelo entre o IPES , o IBAD e a Operação Brother Sam , com o MBL e seus pares, a propaganda nas redes via fake news e a Operação Lava-Jato, apesar do lapso de cinquenta anos, é possível afirmar que ambas tem a origem na sanha imperialista estadunidense, inaugurada em William Mckinley. Fato é que a partir de meados dos anos 1950 (assim como em 2003), o Bras...

SOBRE PERIGOSO ESTADO MINIMO

O governo Temer trouxe de volta a pauta neoliberal, propostas e ideias derrotadas nas urnas em 2002, 2006, 2010 e 2014. Esse é o fato. Com a reintrodução da agenda neoliberal a crença cega no tal Estado Mínimo voltou a ser professada, sem qualquer constrangimento e com apoio ostensivo da mídia corporativa. Penso que a volta das certezas que envolvem Estado mínimo, num país que ao longo da História não levou aos cidadãos o mínimo de Estado, é apenas um dos retrocessos do projeto neoliberal e anti-desenvolvimentista de Temer, pois não há nada mais velho e antissocial do que o enganoso “culto da austeridade”, remédio clássico seguido no Brasil dos anos de 1990 e aplicado na Europa desde 2008 com resultados catastróficos. Para fundamentar a reflexão e a critica é necessário recuperarmos os fundamentos e princípios constitucionais que regem a Ordem Econômica, especialmente para acalmar o embate beligerante desnecessário, mas sempre presente. A qual embate me refiro? Me ref...