No início do ano, um ano tão
conturbado e cheio de injustiças e dor por todo o mundo, o Papa Francisco
chamou nossa atenção em uma homilia
sobre o estilo cristão de construção de uma vida virtuosa.
A construção de uma vida cristã passa pela cruz, esse
é o caminho que que nos leva à alegria; e no caminho temos de buscar a
companhia da humildade, da mansidão e da generosidade.
Francisco, que na minha opinião é o maior desde João
XXIII, a partir do Evangelho de S. Lucas refletiu sobre esta frase de Jesus: “Se alguém quer vir após de mim, negue-se a
si mesmo, tome a sua cruz, dia após dia, e siga-me. ”, segundo ele vida
cristã não pode ser vivida fora deste caminho ou distante dessas virtudes.
Nós não podemos pensar a
vida cristã fora do caminho da humildade, mansidão e generosidade, pois apenas o
exercício dessas virtudes nos salvarão e à humanidade, e nos conduzirão à
alegria que a paz de espirito proporciona.
Temos
de nos afastar do consumo irrefletido, vencer o egoísmo e a vaidade e,
arrependidos, reparar os erros cometidos.
Bem, estamos próximos do
Natal, uma época de pensarmos numa dessas virtudes: a generosidade. Penso que
Jesus Cristo esteve entre nós também para semear essa virtude divina, que ao
lado do amor, nos leva a outra
dimensão, relevante, bonita, mas ao mesmo tempo de difícil prática.
A virtude amor merece uma breve reflexão.
O que fazemos
por amor sempre se consuma além do
bem e do mal, dizia Nietzsche; eu digo: o amor
é Deus e por isso é o próprio bem, basta que pensemos no que sentimos pelos nossos
filhos, filhas, pais, esposas e maridos e o quanto isso nos emociona... Onde há
amor há a possibilidade de vivermos a perfeição, mesmo numa sociedade
imperfeita e cheia de injustiças como a nossa.
Mas voltemos à generosidade. Ela é uma virtude divina e é muito maior que a Justiça, pois vai além.
É certo que a Justiça é virtude humana fundamental, mas
a pessoa generosa não se limita a dar ao outro aquilo que é dele ou lhe
pertence, vai além e é capaz de dar ao outro o que faz mais falta ao outro.
Enquanto a justiça é uma virtude que depende, sobretudo, da reflexão, a generosidade depende apenas do coração e
do temperamento.
E não se pode confundir
generosidade com caridade, pois se a segunda é uma ação altruísta de
ajuda a alguém, sem busca de qualquer recompensa, a generosidade está na gênese
dela e a estrutura, possibilitando a sua existência.
O filosofo Comte-Sponville distingue,
assim, a generosidade da justiça de forma precisa: "é certo
que a justiça e a generosidade têm ambas que ver com as nossas relações com os
outros; mas a generosidade é mais subjetiva, mais singular, mais afetiva, mais
espontânea, ao passo que a justiça, mesmo aplicada, conserva algo de objetivo,
de mais universal, de mais intelectual ou mais refletido".
Nesses tempos sombrios, onde
as versões e as injustiças se apresentam triunfantes, que o Natal possibilite
reflexão honesta e que essa semeie em nossos corações o desejo de realizarmos
ações generosas, dizermos palavras generosas e nos reconciliarmos, assim, com a
verdade e com a Justiça.
Comentários
Postar um comentário