Aprendemos que no dia 7 de setembro o Brasil emancipou-se e que, por ato de bravura e nacionalismo de um príncipe português, libertou-se do jugo do colonizador. Será?
Mas somos de fato uma nação independente? A nossa carta política é conhecida e respeitada por nossos lideres?
Bem, de 1985 a 2013 é possível dizer
que sim, mas depois da visita de Joe Biden em 2013 e das marchas de junho do
mesmo ano, depois da operação Lava-Jato
e do golpe de 2016 podemos dizer que
vivemos em um estado de permanente risco de ruptura institucional, com
militares assanhados pelo retorno de um regime autoritário.
É possível fazermos um paralelo
entre o IPES, o IBAD e a Operação Brother Sam, com o MBL e seus pares, a propaganda
nas redes via fake news e a Operação
Lava-Jato, apesar do lapso de cinquenta anos, é possível afirmar que ambas
tem a origem na sanha imperialista estadunidense, inaugurada em William
Mckinley.
Fato é que a partir
de meados dos anos 1950 (assim como em 2003), o Brasil deu início a uma
política externa relativamente independente dos Estados Unidos, o que não
significa que o país tenha se afastado dos EUA. A presença norte-americana no
Brasil, especialmente na economia, ainda era muito forte. Porém, o governo
brasileiro passou a estabelecer contatos comerciais também com países que,
internacionalmente, eram inimigos declarados dos Estados Unidos - caso de Cuba
e da China, ambos comunistas. Essa inflexão evidentemente não agradou o
império.
Temos que
compreender aquele momento da História no contexto mais amplo da Guerra Fria,
que opôs os Estados Unidos à União Soviética e em perspectiva o pano de fundo
internacional em que ocorreram os golpes militares na América Latina. Antes de
uma intervenção direta, o governo norte-americano optou pela saída diplomática
e pelos pesados investimentos na economia de países em que julgava haver perigo
de um golpe comunista. Este era o caso do Brasil. Em um segundo momento, mais radicalizado,
a opção foi pelo apoio a grupos civis de direita. Nas eleições de 1962, por
exemplo, os Estados Unidos financiaram várias campanhas políticas de civis
identificados com o governo norte-americano.
Contudo,
a vitória de políticos mais à esquerda em 1962, somada a questões internas,
precipitou o início da terceira e decisiva fase de participação dos Estados
Unidos na política brasileira: o apoio à investida militar contra um governo
constitucionalmente eleito.
A morte
do presidente John Kennedy, em 1963, também representou uma inflexão na
política externa dos Estados Unidos. O então secretário assistente de Estado
para Negócios Interamericanos dos EUA, Thomas Mann, declararia, já em março de
1964, que "os Estados Unidos não
mais procurariam punir as juntas militares por derrubarem regimes democráticos".
Estava dada a senha para o golpe contra Goulart.
Documentos
recentemente tornados públicos pelo departamento de estado dos EUA põe fim a
qualquer dúvida. Os EUA incentivaram, estruturaram e apoiaram o Golpe Militar
de 1964. O Professor da
Universidade de Columbia, John Dingens confirma que os Estados Unidos
participaram ativamente para minar o governo Jango. "O registro histórico é claro", destaca. "Por causa de um medo exagerado de uma
repetição da revolução cubana - um cenário que observadores objetivos
consideraram ser extremamente improvável, beirando a paranoia geopolítica -, o
embaixador e agentes da CIA [sigla em inglês para a Agência Central de
Inteligência, do governo norte-americano], conspiraram e encorajaram militares
brasileiros a depor o presidente eleito pelo povo brasileiro, João Goulart".
Dingens foi jornalista correspondente na América Latina na década de 1970 e
escreveu o livro Operação Condor: Como Pinochet e Seus Aliados Trouxeram
o Terrorismo para Três Continentes.
A Operação Brother Sam consistiu no
deslocamento da frota da Marinha norte-americana estacionada na região do
Caribe para o litoral brasileiro. O apoio logístico em favor dos golpistas fora
solicitado pelo embaixador dos Estados Unidos no Brasil, Lincoln Gordon, com
quem as forças insurgentes já mantinham contatos visando o suporte
norte-americano à derrubada do governo João Goulart.
Mas antes
desse momento o IPES - Instituto de
Pesquisas e Estudos Sociais, fundado em 1961 por Augusto Trajano de
Azevedo Antunes, ligado à Caemi Mineração e por Antonio Gallotti, ligado à
Light S.A, foi um dos principais conspiradores contra Jango, participando
ativamente das articulações que culminaram no Golpe de 1964.
O IPES não
estava sozinho, havia o IBAD – Instituto Brasileiro de Ação Democrática.
Em 1963, a
ação do IBAD levou à instalação de uma
Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI). Isso porque, em 1962, nas eleições
legislativas e para o governo de 11 estados, o instituto captou recursos para a
campanha de mais de uma centena de parlamentares contrários às reformas e ao
governo de Jango.
A CPI
comprovou que muitos documentos do IBAD foram queimados quando suas atividades
começaram a ser investigadas e que suas fontes financeiras eram,
prioritariamente, empresas norte-americanas. Após a apuração da CPI, o
presidente da República suspendeu as atividades do instituto por três meses,
prorrogados por mais três. No fim de 1963, o Ibad foi dissolvido pela Justiça.
Ambos os
institutos estavam incumbidos de fortalecer a direita criar duas certezas: (a)
a certeza de que era
necessário acabar com a corrupção e
(b) frear o avanço do comunismo no
Brasil (a mesma pauta da Lava-Jato, MBL e outros grupos, cujos financiadores
serão revelados pelo tempo, assim como seus interesses).
O golpe
militar de 1964 foi um ato de militares brasileiros, apoiado por parte da
sociedade e do empresariado do país. Historiadores e testemunhas do golpe
afirmam, no entanto, que outro ator teve papel decisivo na ação dos militares.
A divulgação, pela Casa Branca, de gravações de conversas entre o ex-presidente
John Kennedy e o então embaixador dos Estados Unidos (EUA) no Brasil, Lincoln
Gordon, comprovam a preocupação da maior potência do mundo com o caminho que
vinha sendo trilhado pelos brasileiros em sua incipiente democracia.
É, que, sabe
um dia teremos de fato um “7 de Setembro”.
Esses são os
registros de hoje para não esquecermos.
Comentários
Postar um comentário