Já que o golpe está
consolidado volto minha atenção às decisões da equipe econômica do governo
golpista e suas conseqüências.
Sob aplausos da FEBRABAN (e de alguns incautos da indústria), com apoio
diligente e “desinteressado” da mídia familiar, os golpistas, de tesoura na
mão, cortam todos os investimentos e gastos públicos que podem e também os que
não podem, restabelecem a política de austeridade, apesar de ela ter falhado em
todo o mundo.
Sustentam suas certezas no argumento infantil de que “o governo é como sua casa... e não pode gastar mais do que arrecada”...
Bem, voltemos um pouco no tempo.
CRISE
DE 2008.
Ao contrário do que a mídia corporativa insiste em afirmar a grande
crise do capitalismo iniciada em 2007/2008 continua pautando a economia, as
finanças públicas e privadas, com reflexos na esfera social e política do mundo
todo. O Brasil passou imune ao caos em razão das políticas anticíclicas
adotadas nos governos Lula e Dilma, mas ele chegou em 2012.
Relembremos. A falência do banco de investimentos Lehman Brothers é o
símbolo do fracasso desse sistema econômico e a partir dele teve inicio uma quebradeira geral, cujo ápice foi em
2009. Faliram grandes bancos, seguradoras e, também, grandes empresas do setor
produtivo por conta das operações especulativas da moda: os derivativos.
Tudo decorrente da regra-mor do neoliberalismo: a tal desregulamentação,
desregulação e liberalização dos mercados.
De lá para cá os governos dos Estados do centro capitalista optaram por
injetar trilhões de dólares de dinheiro público para socorrer e salvar suas
economias.
Ou seja, foi o investimento público que salvou suas economias.
A crise está ai, não foi embora.
Lembro que em meados de 2010 um grande jornal trouxe um interessante artigo
assinado pelo economista Paul Krugman, publicado
originalmente no The New York Times tratando do assunto e lá
pelas tantas o Prêmio Nobel de Economia afirma: “Receio que estejamos nos estágios iniciais de uma terceira depressão. E
o custo para a economia mundial será imenso”.
Krugman afirma ainda que as recessões
são comuns, mas as depressões são raras. Teria havido apenas duas situações
qualificáveis como depressões. Ele afirma ainda que
viveríamos uma depressão “... vai
assemelhar-se mais à Longa Depressão do que à Grande Depressão mais severa”,
e seguiu afirmando que o custo para a economia mundial, sobretudo, para milhões
de pessoas arruinadas pela falta de emprego será imenso.
Algum tempo depois o presidente Barack Obama, na linha do que Paul
Krugman previu, afirmou que os americanos ricos, muitos dos quais pagam
relativamente poucos impostos, devem arcar com parte do custo da redução do
déficit orçamentário a longo prazo. Evidentemente os deputados republicanos
ficaram histéricos, tendo um deles respondido aos gritos “guerra de classes”. Esses republicanos são patéticos, pois eles, ao
pretenderem isentar os muito ricos de arcarem com qualquer fardo de tornar as
finanças dos EUA sustentáveis, é que estão travando uma guerra de classes. Essa
é inclusive a opinião de Krugman noutro artigo publicado no mesmo jornal em 25
de setembro de 2011, ambos disponíveis na web.
Entre 2003 e 2010 o Brasil não incorreu no erro que os EUA cometeram no
que diz respeito à geração e distribuição de renda. Lá nos EUA, entre 1979 e
2005, a renda corrigida pela inflação das famílias de renda média subiu 21%. É
um crescimento pequeno, especialmente em comparação aos 100% de aumento da
renda média ao longo de uma geração após a Segunda Guerra Mundial.
Mas o trágico não foi isso. No mesmo período, a renda dos muito ricos,
ou seja, 0,01% da população dos EUA aumentou 480%, isso mesmo 480%! Não sei se
na história recente do capitalismo há exemplo de tamanha injustiça.
E apesar dessa realidade o Partido Republicano afirma serem os ricos
vítimas em potencial de uma guerra de classes estimulada por Obama... Patético!
SOBRE
AS TAIS POLITICAS DE AUSTERIDADE.
Mas voltando ao artigo de 2010. Krugman critica a lógica do “apertar o cinto, quando o problema são os
gastos inadequados” e afirma ao final do artigo que esse estado de coisas
representa a “... vitória de teses
conservadoras que não se baseiam numa análise racional e cujo principal dogma é
que nos tempos difíceis, é preciso impor sofrimento a outras pessoas para
mostrar liderança. E quem pagará o preço pelo triunfo dessas teses? A resposta:
dezenas de milhões de desempregados, muitos deles sujeitos a ficar sem emprego
por anos e outros que nunca mais voltarão a trabalhar”.
Noutras palavras cortar investimentos é um erro, a grande contribuição
que governos podem e devem dar é qualificar os gastos e investimentos. Parece
que Temer e Meireles não concordam com Paul Krugman e conduzem o país ao caos
para atender interesses da FEBRABAN.
Na linha do que Paul Krugman afirma é fundamental lembrar que por aqui os
governos Lula e Dilma avançaram o Projeto Nacional de Desenvolvimento, ou seja,
buscou-se investir, produzir riqueza e distribuir renda.
Investir em infra-estrutura, na modernização da indústria nacional,
investir em tecnologia, investir na formação educacional com vistas ao
exercício pleno da cidadania e não apenas com vistas à lógica do mercado. Isso
parece que não ocorreu de fato, quando lemos e ouvimos a mídia familiar e seus
editoriais.
MINHAS
CRITICAS A DILMA.
Para que a política econômica seguisse virtuosa após os dois governos
Lula, teria sido necessária uma autoridade política forte e disposta a ouvir
todos e muitas vezes, mas a presidente Dilma Rousseff não foi capaz de fazer
isso.
Sua incapacidade política fragilizou a efetividade de seu governo no
enfrentamento das conseqüências da crise mundial sobre o país, das sabotagens
políticas da neo-UDN e dos lacaios dos interesses internacionais (especialmente
das Big Oil); Dilma Russeff e seus
egocêntricos auxiliares foram incapazes também de seguir liderando a formação
de um novo pacto político e social que proporcionasse ao país avanços estruturais
e históricos, adequando a política macroeconômica, manter e aprofundar o viés
social das políticas públicas, foram incapazes de denunciar o ataque das Big
Oil ao pré-sal.
Como Dilma Roussef poderia ter se fortalecido como autoridade política?
Ora, buscando a unidade dos setores progressistas, unindo a base política do
governo, pois como escreveu à época o líder do PCdoB na Câmara, o deputado
federal Osmar Junior: “A História tem nos
ensinado que todos os movimentos vitoriosos resultaram sempre de uma coalizão
de forças políticas.”.
Merece registro que o hegemonismo político do PT, a incapacidade
política de Dilma e o egocentrismo de figuras como Mercadante impediram a
necessária mobilização, participação e a luta da sociedade para a realização das
reformas democráticas estruturais; entre essas reformas a reforma política para
ampliação da democracia, fortalecimento do pluralismo e dos partidos, uma
reforma que tivesse sido capaz de combater a corrupção a partir do fim do
financiamento empresarial das campanhas (essa mudança chegou tarde).
O artigo de Krugman é de junho de 2010; estive na Espanha em maio de
2011 mais de um ano depois e vi por lá protestos dos jovens espanhóis.
Conversei com eles na Praça de Catalunya e ouvi que o sentimento daqueles jovens era de
perdimento, essa foi a realidade que o capitalismo financeiro e as políticas de
austeridade legaram a toda uma geração na Espanha e noutros países europeus.
A crise mundial chegou ao Brasil, mas há responsáveis internos, são
eles: a oposição irresponsável, a mídia familiar, tendo o hegemonismo político
do PT, a incapacidade política de Dilma e o egocentrismo de figuras do entorno
da presidente.
OS
RESPONSÁVEIS PELA CRISE MUNDIAL.
E àqueles que insistem em acreditar nas bobagens dos especialistas globais
uma dica: assistam ao documentário Capitalism:
A Love Story, do diretor Michel Moore. O documentário, que se propõe a
discutir as razões do colapso do sistema financeiro capitalista mundial, a
partir dos EUA, responde a muitas perguntas, de forma pertinente.
Penso que todos aqueles que defendem como desnecessária a regulação da
economia pelo Estado deveriam assistir pelo menos umas dez vezes.
O documentário trata da política fiscal da administração Reagan (1981/89)
e seus efeitos de médio e longo prazo e deixa claro que não apenas o sistema
financeiro ganha, e muito, com a falta de regulação do Estado, mas a população
perde muito. A falta de regulação do Estado foi segundo Michel Moore, o que
possibilitou que as operações do sistema financeiro se tornassem muito
complexas (derivativos, subprime, etc.) e foi ela que deu carta branca para as
grandes corporações, especialmente os bancos, lucrarem à custa do interesse
público e da boa-fé do povo americano, para depois serem salvas pelo dinheiro
público.
O documentário revela que todos aqueles que defendem o “Estado mínimo” e
“marcos regulatórios simples e flexíveis” estão na realidade defendendo
interesses que colidem com qualquer projeto sério de desenvolvimento econômico
e humano com características de sustentabilidade.
O CORAÇÃO DE QUALQUER GOVERN O ESTÁ
EM SEU ORÇAMENTO.
Há ainda um belíssimo artigo do Professor Jeffrey Sachs chamado
“Ingovernável orçamento americano” que deveria ser lido, debatido e divulgado.
Por quê? Porque é um artigo honesto, uma opinião honesta, sobre um tema que os
“especialistas” globais têm escrito e falado sem a mesma honestidade, qual
seja: o orçamento público.
Jeffrey Sachs, que é professor de Economia e diretor do Instituto Terra
na Universidade Colúmbia e também é conselheiro especial do secretário-geral da
ONU para as Metas do Milênio, afirma que “o coração de qualquer governo está em
seu orçamento” e que sem um orçamento adequado não há política pública nem
Estado. E que seria por falta de um orçamento adequado que nos EUA há muitos
discursos e pouca política pública.
O presidente Barack Obama vive,
segundo Sachs, dilema próprio daquele pais, pois seus adversários do Partido
Republicano, querem menos impostos e todos sabem que sem impostos, não será possível manter uma
economia americana moderna e competitiva. Num discurso sobre Estado da União,
Obama acertadamente enfatizou que a competitividade no mundo atual depende de
uma força de trabalho instruída e infra-estrutura moderna, daí a necessidade de
um orçamento justo e capaz de manter o Estado no protagonismo das políticas
públicas transformadoras.
Quem pensa diferente reproduz ou representa a visão de mundo da velha
UDN e do Partido Republicano americano e o faz sem constrangimento, pois eles
sabem que para qualquer pais manter e
elevar o padrão de vida de seus cidadãos não bastam apenas as forças do
mercado, não basta apenas a sua competitividade em capacitação avançada,
tecnologias de ponta e infra-estrutura moderna. É necessário um Estado que
tenha capacidade de fazer o que o artigo 173 e 174 da nossa Constituição brasileira
orienta e determina, é necessário um
povo.
CONCLUSÕES.
O Estado não existe para servir às regras do mercado, mas ao seu povo.
Essa é a lógica válida.
É por isso que Obama, ao contrário de Temer e Meireles, defende o aumento
do investimento público americano em três áreas: educação, ciência e tecnologia
e infra-estrutura (inclusive internet de banda larga, transporte ferroviário
rápido, e energia limpa), e não ouvi nem li criticas a ele dos milicianos da
neo-UDN brasileira.
Pensar moderno é acreditar e praticar que o crescimento no futuro
dar-se-á com investimentos públicos e privados de forma complementar, pilares
apoiando-se mutuamente.
Não se pode esquecer que as
conseqüências econômicas e sociais do corte de investimentos são enormes, não se
pode esquecer que as políticas de austeridade transformaram uma geração inteira
na Europa em uma geração sem perspectiva, sem presente e sem futuro, pois com
menos atividade econômica o PIB despenca, a atividade econômica cai e o caos se
instala. Os EUA, segundo Krugman, estão perdendo sua competitividade
internacional, negligenciando seus pobres, tanto que uma em cada cinco crianças
americanas está aprisionada na pobreza por lá, legando uma montanha de
endividamento para seus jovens e para as futuras gerações.
Temos o dever de ter o nosso destino
em nossas mãos e não nas mãos do pessoal da FEBRABAN e da FIESP.
Comentários
Postar um comentário