“O
Poder Judiciário, ao qual é própria a função de pacificar as relações sociais,
converteu-se em catalisador de conflitos.” (Desembargador Federal ROGERIO
FAVRETO, do TRF 4ª Região)
“O
Poder Judiciário não é sócio do Ministério Público e, muito menos, membro da
Polícia Federal" (Ministro Gilmar Mendes, STF).
O Poder
Judiciário, cada um dos seus órgãos colegiados ou monocráticos, tem de
respeitar a lei e a constituição, sobretudo naquilo em que consagram direitos e
garantias fundamentais; parece obvia a afirmação, mas nesses tempos sombrios
ela deve ser lembrada de forma recorrente.
A par disso,
o Juízo da 13ª Vara Federal de Curitiba recebeu do Tribunal Regional Federal da
4ª Região verdadeira “carta branca” para desrespeitar a lei e a constituição,
com base na “Teoria do Estado de Exceção”.
Essa é a
minha interpretação da decisão do P.A. CORTE ESPECIAL Nº 000302132.2016.4.04.8000/RS,
relatado pelo Desembargador Federal Rômulo Pizzolatti que decidiu, por maioria,
que a operação "lava jato" não precisa
seguir as regras processuais comuns, por enfrentar fatos novos ao Direito. Quais fatos novos ao Direito? Fomos invadidos
por extraterrestres?
Bem, fundamentou essa temerária decisão do
TRF da 4ª Região a tal “Teoria do Estado de Exceção”, o que, data máxima
vênia, trata-se de uma enorme bobagem, uma barbaridade.
Para
compreender a tal teoria é necessário olhar o que aconteceu na Alemanha após a
1ª Grande Guerra.
Vamos lá.
Terminada a Primeira Guerra Mundial,
em um contexto marcado pela desordem interna e por significativa fragmentação
política, submetida às restrições do Tratado de Versalhes e perante a ascensão
do comunismo, a Alemanha redigiu sua Constituição.
Estamos falando da Constituição de Weimar, muito criticada, principalmente
porque apesar de traçar a estrutura básica do Estado, em consonância com as constituições
erigidas sob a tradição liberal, adotava em sua segunda parte um rol de
direitos fundamentais individuais
e sócio-econômicos que
se identificariam com as pretensões da esquerda social-democrata e
comunista.
A Constituição de Weimar colocou fim ao Segundo Reich, mas não ao legado
autoritário e militar do Império.
Bem, a alegada fragmentação ou contradição ideológica da Constituição de
Weimar estava na base da argumentação de seus críticos.
Para Carl Schmitt, àquele tempo principal opositor da Constituição de
Weimar, naquela constituição havia numerosos dispositivos que não representavam
genuína decisão política da Alemanha pós-guerra e, por conseguinte, prejudicavam
a construção de uma comunidade nacional homogênea.
Resultaria dessa antinomia entre a lei e a vontade ou decisão política
nacional o conceito de exceção,
que passaria legitimamente a ocupar o núcleo da vida política. Noutras palavras
diante da existência de antinomia de impossível harmonização aplicar-se-ia a
“Teoria do Estado de Exceção”.
Essa é, sob censura, a “Teoria do Estado de Exceção”.
O Brasil tem
uma constituição, a qual em breve completará trinta anos, trata-se de uma
constituição de inspiração social-liberal, não há por aqui sistemas jurídicos
antinômicos, não estamos vivendo desordem interna ou
significativa fragmentação política.
Por isso a “carta branca” concedida ao Juízo da 13ª Vara
Federal de Curitiba não se justifica e merece ser revogada pelo Supremo
Tribunal Federal e providências tomadas, pois em não sendo assim estará
decretado o fim do Estado de Direito.
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