Lula buscou no Alto Comissariado dos Direitos
Humanos da ONU dar ciência ao mundo, através de recurso adequado e pertinente,
que é vítima de abuso de poder por um juiz, com a cumplicidade do MPF e dos meios
de comunicação.
O ex-presidente afirmou que tais abusos não
podem ser satisfatoriamente corrigidos na legislação brasileira e ele tem
razão.
Creio que essa providência de Lula deveria
ser vista como um alerta à sociedade brasileira sobre aspectos que me parecem
fundamentais: (i) o Poder Judiciário é infinitamente maior que qualquer juiz e (ii)
a Justiça deve estar sempre em perspectiva e à luz da dialética social, pois
não se faz Justiça em gabinetes de órgãos monocráticos ou colegiados do
Judiciário, a Justiça é ideal humano e Justiça é construção cotidiana.
Fato é que Lula levou à ONU uma verdade
incômoda: o Juiz da 13ª Vara Federal de Curitiba normalizou violações dos
direitos humanos e Lula vem sofrendo os efeitos disso e é suscetível de sofrer
outros tantos, como a invasão de privacidade, prisão arbitrária, detenção antes
do julgamento, presunção de culpa e a impossibilidade de recusar um juiz como
Moro que é tendencioso e hostil a ele.
As práticas e o manejo do processo pelo Juiz
Sérgio Moro são contrárias ao direito internacional dos direitos humanos, por
isso Lula buscou providencias em Genebra; buscou uma decisão que forneça alguma
compensação pela violação de seus direitos e também ajude os futuros governos
na elaboração de leis e procedimentos que possam aprimorar o combate à
corrupção, enquanto protegem os direitos básicos daqueles que são investigados.
Na sua peça Lula não escondeu que a corrupção
há muito tem sido um problema no Brasil, mas ressalvou que há um estudo recente
que concluiu ser menos grave do que na maioria dos países e que há exagero da mídia
local, conforme seus interesses.
Uma coisa tem-se de reconhecer durante os
seus mandatos presidenciais, Lula tomou uma série de iniciativas legislativas
para combater a corrupção no País, como também o fez Dilma Rousseff.
Mas a grande questão é que o Juiz Sérgio Moro,
segundo Lula, vê-se como uma espécie de “soldado”, talvez numa referência
romântica às Cruzadas e acredita que as condenações de corrupção devem ser
obtidas a qualquer custo, mesmo que
sejam através de procedimentos que violam os direitos humanos.
Justiça a qualquer custo não é Justiça, é
barbárie.
Nunca ouvi uma palestra de Sergio Moro, mas
dizem que ele sustenta que certa hostilidade pública deve ser estimulada contra
determinados suspeitos políticos poderosos, porque assim as acusações se tornam
mais fáceis se forem apoiadas pela opinião pública; sustentaria também que
suspeitos devem ser mantidos na prisão até que confessem, ou até ser feita uma
delação, pois a prisão impõe ao suspeito constrangimento e descrédito público,
sendo ou não sendo condenados; sustentaria que provas obtidas por escutas
telefônicas que possam mostrá-los, ou as suas famílias, como más pessoas, devem
ser divulgadas ao público, em sendo isso que ele pensa não se trata de um juiz,
mas de representante legítimo dos tribunais do Santo Oficio.
Se essas forem de fato as opiniões de Moro
ele não pode de fato prestar tutela jurisdicional.
Penso que todos deveriam ler a peça de 153
páginas entregue em Genebra e firmada por advogados corajosos que merecem
nossas homenagens e admiração.
Registro um aspecto que me chamou atenção de todos.
Trata-se do que foi chamado de uma “anomalia da lei brasileira”, que é o
fato do juiz que tem jurisdição sobre uma investigação (aquele que aprova as
ações, os mandados e o desenvolvimento das investigações do caso por parte da
polícia e do Ministério Público) ser também o juiz que determina a culpa ou a
inocência, depois que ele decidir que o caso deve proceder a um julgamento.
Esse aspecto merece atenção, merece ser
pensado criticamente, afinal no Brasil o tribunal do júri existe apenas para
casos relacionados a homicídio ou tentativa, por aqui o juiz atua sem
assessores, havendo enorme risco de parcialidade, no caso de um juiz que tento
dado início a procedimentos de investigação contra um suspeito, que ordenou
procedimentos de busca e intercepção na esperança de incriminá-lo, com o
pressuposto de que ele é provavelmente culpado, etc., seja também o responsável
pelo julgamento do caso.
Na maioria dos países as jurisdições são
separadas; há uma fase de investigação,
presidida por um magistrado e uma fase de
julgamento, que terá outro magistrado, mas o Brasil não; aqui todas as
outras fases ou jurisdições são concentradas nas mãos de uma única pessoa. Há
outros países que permitem judicialmente ao réu recusar o juiz da instrução que
demonstrou hostilidade ao réu, pois um juiz hostil não pode ser considerado
imparcial.
Bem, fato é que almoçando com alguns amigos, conversávamos
sobre tudo que permitido, futebol, religião e politica e, “lá pelas tantas”, um
deles me perguntou: “Você defende o
governo, defende esse PT tanto… O que você me fala da roubalheira que aconteceu
na Petrobrás?”.
Evidentemente a pergunta teve caráter provocativo, pois e
não defendo o PT, defendo o Estado de Direito e a Democracia, mas enfrentei a
provocação dizendo: “Ok, vamos falar da
corrupção ou apenas da corrupção na PETROBRÁS?”. Ele topou que falássemos
de corrupção e não apenas dos tristes eventos que ocorreram na maior companhia
do país, desde que voltássemos a falar da Petrobrás também.
Concordamos que a corrupção ainda é um grave problema no
Brasil, porque o verdadeiro combate é novidade por aqui; concordamos que foi
apenas a partir do governo Lula com a criação da Controladoria Geral da União
que as coisas começaram a mudar. Essa é a verdade. Somado à criação da CGU e ao
fato de a Polícia Federal ter multiplicado seu efetivo a partir de 2003.
O combate à corrupção tem sido implacável, tanto que o
número de operações da PF e as demissões de servidores envolvidos em ilícitos
se tornaram regra e não exceção.
E uma verdade incomoda os setores que pretendem a volta dos
serviçais do neoliberalismo: reconhecer que antes de Lula e Dilma a única
estatística conhecida e aceita é a do ex-procurador-geral da República de FHC, o
tal Geraldo Brindeiro (primo do vice-presidente Marco Maciel), que até 2001
tinha em suas gavetas mais de 4 mil processos parados, circunstância que lhe
rendeu o nada honroso apelido de “Engavetador-geral da República”.
De 2003 a 2013, compreendendo os governos de Lula e Dilma, a
expulsão de servidores acusados de corrupção quase dobrou, passando de 268, em
2003, para 528, em 2013 e as operações da Polícia Federal saltaram de 9, em
2003, para mais de 200, a partir de 2008, ou seja, passou a haver inegável
diligência e independência da Policia Federal.
Fato é que não existia combate à corrupção política antes de
2003.
A comprovada corrupção existente nos escaninhos da PETROBRÁS
deve ser apurada detalhadamente, seus responsáveis denunciados, processados e
punidos; tanto os agentes públicos, quanto os agentes privados devem ser
punidos na forma da lei, mas não se pode sentenciar a Política como causadora de todos os males, como faz Sérgio Moro,
pois não o é, afinal quem pensava que o campo da Política é um “charco lodoso”
eram os primeiros republicanos, praticantes de um positivismo seletivo, para
quem as liberdades civis, os Direitos Humanos e a participação popular eram
conceitos de segunda categoria, tanto que para esconder seus interesses,
ambições e veleidades pessoais os embalavam cuidadosamente num discurso de austeridade,
de excelência moral, de preferência à eficiência técnica e eficácia
administrativa.
Mas e a corrupção na PETROBRÁS?
Inicialmente é importante lembrar que a LAVA-JATO investiga
parlamentares do PP, PT, PSDB, PTB, SDD, PMDB e outros tantos “pês”, além de
empresários e diretores de grandes empreiteiras, ou seja, não é “privilégio” do
PT. E o ex-gerente executivo da Petrobrás Pedro Barusco afirmou em sua delação
premiada que houve pagamento de propina desde o primeiro contrato de
navios-plataforma da estatal com a SBM Offshore, durante a gestão Fernando
Henrique Cardoso (PSDB) em 1997, ou seja, o mal é antigo.
Ressalvo que se o PT, que surgiu para ser um partido
diferente, não é o responsável pela implantação da corrupção na companhia, ele
é responsável por não ter identificado e acabado com ela e é também responsável
pelos seus quadros que participaram da lambança.
Penso que agora cabe à Policia Federal, ao Ministério
Público Federal e ao Poder Judiciário (sem espetacularizar os fatos)
investigar, denunciar e condenar exemplarmente os responsáveis, cada um dos
agentes do nojento esquema de corrupção, mas o Poder Judiciário não se resume
ao Juiz da 13ª Vara Federal de Curitiba.
Reflexões e provocações de hoje.
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