"Quem não se
movimenta, não sente as correntes que o prendem"
Rosa
Luxemburgo
O mineiro de Passa Quatro José Dirceu de Oliveira e Silva não é apenas mais um político brasileiro, ele é uma
das personalidades mais importantes da política brasileira desde a última
década do século XX e no inicio do século XXI e antes sua biografia é marcada
pelo heroísmo daqueles que nos anos 60 e 70 opunham-se à ditadura militar e
resistiram bravamente à sua lógica. O filho da Dona Olga, irmão do Luiz e amigo leal dos amigos e às suas convicções,
Algumas reflexões
são necessárias.
Conta-se que um senhor de idade
avançada plantava tâmaras no deserto quando um jovem o abordou perguntando:
“Mas por que o senhor perde tempo plantando o que não vai colher?”. O senhor
virou a cabeça e, calmamente, respondeu: “Se todos pensassem como você, ninguém
colheria tâmaras”. Ou seja, não importa se você vai colher, o que importa é o
que você vai deixar... Cultive, construa e plante ações que não sejam apenas para
você, mas que possam servir para todos e para o futuro.". É assim que vejo
Zé Dirceu.
Durante todo ano de
2012 escrevi que Zé Dirceu foi "herói de uma geração", mantenho essa
opinião, ela tem fundamento e viés histórico, pois todos os jovens progressistas
daquela
geração - que hoje tem entre 60 e 80 anos - que se opuseram à
ditadura militar são heróis, afinal naquele contexto aqueles muitos jovens
foram presos, barbaramente torturados, outros foram expulsos do país e outros
foram mortos ou simplesmente desapareceram, tudo obra de uma ditadura militar
cruel, era necessário ser um herói para manter-se na oposição.
O "herói" é uma figura
arquetípica que reúne em si os atributos necessários para superar de forma
excepcional um determinado problema de dimensão épica. Acredito que são heróis
daquela geração TODOS que lutaram - cada um a seu modo - contra a ditadura e pela democracia. Portanto, para mim Zé Dirceu é um
herói.
Sou um democrata de esquerda, sem
preconceitos e disposto ser convencido, fundamentadamente, de posições novas,
mas ressalvo que o fato de o herói da
juventude ter sido declarado, na maturidade, corrupto ou corruptor não
apaga da sua biografia o heroísmo da juventude.
É assim que eu penso, é assim que
pretendo seguir, polemizando – se necessário - e defendendo por meus filhos, o
Estado de Direito, a Democracia e os valores republicanos e principalmente a
verdade e a História.
Não ignoro que Zé Dirceu deixou
o Governo Lula acusado de ser o
mentor do “Mensalão”, que em 2012 foi condenado, sem provas, pelo STF na ação penal 470, que em 2013 foi preso,
que em 18 de maio de 2016, Dirceu foi condenado a prisão por crimes como:
corrupção passiva, recebimento de vantagem indevida e lavagem de dinheiro no
esquema de corrupção descoberto na Petrobras pela Operação Lava Jato.
Mas é necessário registrar que a mídia sempre pré-julga. E no caso do Mensalão
pré-julgou. A pessoa que corresponde às expectativas e interesses da
mídia passa a ser herói nacional e quem não corresponde passa a ser o
vilão. Esse é um problema muito sério, que se vê, sobretudo, em casos
criminais. O Mensalão é um caso criminal, onde ocorreu enorme pressão da mídia,
a qual forma a opinião pública. Não é a pressão da opinião pública, porque a
opinião pública é manejada pela mídia. Mas nos casos criminais do Brasil, o que
é proibido em outros países, a mídia condena sem processo e dificilmente absolve
[1].
Em relação à condenação na AP 470
escrevi que a decisão do
STF foi um simulacro de Justiça, pois Zé Dirceu foi condenado sem provas,
através da equivocada e oportunista aplicação da “Teoria do Domínio do Fato”;
em relação à segunda condenação, inegavelmente exagerada, penso que ela está inserida
em algo maior que ainda não compreendemos; mas o tempo, primo irmão da verdade,
haverá de esclarecer o significado de tudo isso. Aos setenta anos e condenado a mais de duas
décadas de prisão é possível que Zé Dirceu não deixe mais o cárcere, uma
tragédia pessoal enorme, mas os grandes homens surpreendem.
Retomei a leitura dos “Cadernos do Cárcere” de Antonio
Gramsci. Tem sido um desafio para mim, um estimulante desafio. Antonio Gramsci nos
estimula a pensar profundamente os mais diferentes temas, assuntos e problemas
de todas as áreas do pensamento social e nos impressiona ver a sua coerência,
nunca abalada, seja pela diversidade das questões tratadas nos Cadernos, como também pelas
circunstâncias históricas, Gramsci foi preso pelo fascismo italiano que, em
novembro de 1926, sentenciou por 20 anos para “impedir que este cérebro funcione” [2].
Mas na prisão Gramisc produziu
os Cadernos do Cárcere que são a
prova de que, apesar da reclusão e de todas as privações por que passou,
Gramsci derrotou a violenta sentença, dedicou-se até o último momento ao
combate tenaz a um dos regimes mais odiáveis que já existiram: o fascismo.
Aguardo de Zé Dirceu algo parecido, pois se “Aos oito anos, todos nós somos guerreiros. Aos quinze, todos nós somos
poetas. Daí para adiante nem sempre somos alguma coisa...” [3]
ele sempre foi muito e manteve sempre no coração, na mente e na ação, o
guerreiro e o poeta vivos e em movimento livre, inquieto e inspirador. Força
comandante, afinal “Quem planta tâmaras, não colhe
tâmaras!”
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