O titulo do artigo faz referência ao evangelho de Mateus. Mateus. Trata-se de um evangelho escrito para que os
judeus pudessem conhecer e compreender os ensinamentos de Jesus.
Mateus mostra uma face de Jesus numa linguagem compreensível aos
judeus (tanto que aparecem centenas de citações do Antigo Testamento) e apresenta
Jesus como uma espécie de novo Moisés, tanto que as bem-aventuranças são proclamadas
em um monte, remetendo a outra imagem: a dos “10 mandamentos” dados por Deus a
Moisés no Monte Sinai.
A famosa frase “não lance as perolas aos porcos” se
situa no primeiro livro de Mateus e trata da Justiça. É interessante ler e
reler Mateus, pois ele nos apresenta uma narrativa afirmativa no sentido de que
a Justiça é que liberta a pessoa, a
verdade é libertadora.
Eu acredito que o centro de gravidade do desenvolvimento jurídico
não está na legislação, na ciência do direito ou na jurisprudência, mas na
sociedade. Há na sociedade — entre a ação humana e as estruturas sociais — uma
tensão contínua de natureza dialética, pois na ação humana a diversidade se contrapõe
a unidade das
estruturas sociais e isso é indutor do o aperfeiçoamento.
É nesse quadrante que encontramos
as bem-aventuranças, as quais, creio, são uma espécie de “carta magna” do
cristianismo. E através da leitura das
bem-aventuranças podemos alcançar a consciência
de nós mesmos, a consciência de que não podemos coisa alguma sozinhos, pois dependemos
uns dos outros e do exercício das virtudes humanas e divinas na construção
cotidiana do bem.
Os que confiam na
sua própria justiça e em seus próprios méritos, sendo orgulhosos e auto-suficientes
que se afastam do bom caminho. O orgulho e a auto-suficiência nublam a nossa
consciência sobre todas as coisas válidas, necessitamos o tempo todo exercitar
a humildade e a autocrítica. Não lançar pérolas aos porcos é a advertência de Mateus, que nos alerta que a justiça não é uma teoria abstrata, mas é
prática e deve ser observada no nosso dia-a-dia e nos ajuda a colocar em
prática valores válidos e virtudes essenciais. Podemos dizer que são conselhos
práticos: sobre o risco de julgar as outras pessoas; sobre o discernimento, a
confiança em Deus e cuidado com os aproveitadores.
Lanço mão do meu evangelista favorito para dizer novamente que o PT
falhou, que faltou a seus dirigentes discernimento e, principalmente, cuidado
com os aproveitadores e faltando-lhes isso lançaram aos porcos suas pérolas,
lançaram aos cães o que lhe era mais caro e agora todos
se voltam contra essas atitudes e as conseqüências se nos apresentam como
tragédia ou como farsa.
Penso que podemos comparar
as “pérolas” com a honestidade de propósitos que acompanhava os fundadores do
PT (e que acompanham boa parte da militância e simpatizantes até hoje). Havia o
desejo genuíno de romper com a lógica cruel das oligarquias nacionais que são o
que são: autoritárias, antidemocráticas e que não tem nenhum compromisso com a
nação.
Todos nós tínhamos certeza que a chegada do PT ao poder
representaria garantia de que Política poderia ser feita com ética e tendo em
perspectiva irrenunciável o interesse público, o desenvolvimento econômico e
social e a necessária distribuição de renda. Mas em nome da governabilidade e
para conseguir implantar políticas sociais essenciais o PT perdeu-se e perdeu a
luz, perdeu – pelo menos de mim - a confiança irrestrita e defesa
incondicional, deixou-se cooptar pelos porcos e vê-se sendo despedaçado por
eles.
É verdade que não podemos perder de vista que as
oligarquias não perdoam e que buscam tomar o poder com ou sem votos, nossa
História é rica nisso... D. Pedro II foi deposto através de um golpe militar
apoiado pelas oligarquias inconformadas com a abolição da escravidão no país;
em 1954 Getúlio Vargas suicidou-se após resistir às pressões e às denuncias de
corrupção, nunca provadas, as quais eram veiculadas diariamente mídia da época;
em 1961 elas levaram Jânio Quadros a renuncia e em 1964 depuseram João Goulart
e apoiaram uma ditadura. E hoje se movimentam novamente buscando fazer
prevalecer seus interesses. Mas é constrangedor ver lideres populares manterem relações “de amizade” com empreiteiros e banqueiros... O PT
deixou de ser o PT, deixou-se cooptar e transformou-se em um partido igual aos
demais.
Por isso repito, ou o PT faz uma autocrítica pública e honesta,
recompõe-se e põe fim ao delírio da inatacabilidade e inalcançabilidade de seus
quadros ou a socialdemocracia e os setores progressistas do país estarão sob
risco de serem varridos nas eleições desse ano e enterrados em 2018. Sem
autocrítica pública e honesta, sem debate político qualificado boa parte
importante da militância e dos simpatizantes da esquerda seguirá solidária a
Lula, reconhecendo sua História e valor, gratos aos heróis da redemocratização,
mas cada vez mais distantes da ação Política necessária e válida e esse espaço
que será ocupado por aproveitadores e heróis fabricados para cada ocasião.
Sem uma
esquerda responsável e democrática, sem os lideres progressistas distantes de
suspeitas que nos constrangem corremos o risco de ouvirmos bater à nossa porta
algum tipo de Donald Trump tupiniquim. É tempo de autocrítica, pacificação,
reconciliação e abrir nossas casas a todos que acreditem na democracia, do
Estado democrático de Direito e na Justiça Social acima de tudo.
Muito bom. E com uma baita trilha sonora:
ResponderExcluirhttps://www.youtube.com/watch?v=1wdAT7AGoIg