Dilma, desesperada em razão do
golpe que se anuncia e ciente de sua incapacidade de articulação política,
implorou que Lula assumisse um ministério para tentar trazer o PMDB de volta e
“implodir” o acordo de Temer e seu PMDB com o PSDB.
Qual acordo?
Bem, o que se comenta nos
escaninhos de Brasília e sob o Sol do
Outono é que caminhamos para uma democracia relativa, que seguirá o
seguinte roteiro:
a) em 90 dias Dilma Rousseff será apeada da Presidência da
República por um Congresso acovardado e conservador;
b) o vice-presidente Michel Temer assume a Presidência da
República e, como num passe de mágica, a má noticia que contaminam os
noticiários televisivos e as manchetes dos jornais desaparecerão;
c) a OPERAÇÃO LAVA-JATO aos poucos vai sendo “abafada” através da
transferência de Policiais Federais e Delegados Federais, tudo para “livrar” os
cardeais tucanos e peemedebistas (serão presos apenas petistas e “peixes
menores”).
Esse teria sido o acordo firmado
entre os cardeais do PSDB e do PMDB, tudo devidamente anuído pelos “marechais
da mídia” e sob a diligente tutela do ministro tucano.
O acordo prevê ainda que Habeas
Corpus sejam discretamente concedidos para que os empreiteiros possam voltar à
ativa e patrocinar seus parceiros tradicionais.
Os serviços prestados por Eduardo
Cunha para consecução do acordo também não serão esquecidos, ele sim. Cunha não
será cassado, nem condenado e poderá seguir desfrutando dos milhões que mantém
em contas secretas mundo a fora, sem que ninguém se importe com isso.
Sérgio Moro irá num primeiro
momento dar aulas numa universidade de prestigio nos EUA e voltará para assumir
uma vaga no STF, provavelmente no lugar do Ministro Celso de Mello.
Bem, eu que acredito que o
centro de gravidade do desenvolvimento jurídico não está na legislação, na
ciência do direito ou na jurisprudência, mas na sociedade e no processo político, na democracia estou evidentemente indignado, afinal esse desfecho
exclui do centro das decisões e do desenvolvimento as pessoas,
por isso carece de legitimidade e moralidade.
Ademais, há na sociedade uma tensão
contínua e necessária entre a ação
humana e as estruturas sociais, tensão de natureza dialética que
é indutora do aperfeiçoamento humano e institucional; contudo, quando as elites políticas e empresariais firmam acordos como esse e interferem nessa tensão dialética as conseqüências seguintes
são previsíveis, basta que olhemos a História.
É inegável que o PT falhou e que faltou a seus dirigentes
discernimento e, principalmente, cuidado com os aproveitadores e faltando-lhes
isso lançaram aos porcos suas pérolas, lançaram aos cães o que lhe era mais
caro, colocaram o grande líder do Brasil em uma situação constrangedora, apesar
de Lula ter sido o melhor presidente da história do Brasil, apesar de haver
olhado e agido em favor dos pobres.
Mas os aproveitadores de hoje, aliados de ontem, se uniram para salvar a si próprios e as conseqüências
se nos apresentam como tragédia e como farsa.
Penso que podemos
comparar as “pérolas” a que me referi com a honestidade de propósitos que
acompanhava os fundadores do PT (e que acompanham boa parte da militância e
simpatizantes até hoje); podemos compará-las com o desejo genuíno de romper com
a lógica cruel das oligarquias nacionais que são o que são: autoritárias,
antidemocráticas e que não tem nenhum compromisso com a nação.
Tínhamos certeza que a chegada do PT ao poder representaria
garantia de que Política poderia ser feita com ética e tendo em perspectiva
irrenunciável o interesse público, o desenvolvimento econômico e social e a
necessária distribuição de renda. O governo Lula fez coisas fantásticas, mas
viu-se refém da tal governabilidade e para garanti-la e para conseguir
implantar políticas sociais essenciais perdeu-se e perdeu a luz, perdeu – pelo
menos de mim - a confiança irrestrita e defesa incondicional, pois se deixou
cooptar pelos porcos e vê-se sendo despedaçado por eles.
Mas não podemos perder de vista que as
oligarquias não perdoam e que buscam tomar o poder com ou sem votos, nossa
História é rica nisso... D. Pedro II foi deposto através de um golpe militar
apoiado pelas oligarquias inconformadas com a abolição da escravidão no país;
em 1954 Getúlio Vargas suicidou-se após resistir às pressões e às denuncias de
corrupção, nunca provadas, as quais eram veiculadas diariamente mídia da época;
em 1961 elas levaram Jânio Quadros a renuncia e em 1964 depuseram João Goulart
e apoiaram uma ditadura. E hoje se movimentam novamente buscando fazer
prevalecer seus interesses. Mas é constrangedor ver lideres populares manterem relações “de amizade” com empreiteiros e banqueiros... O
PT deixou de ser o PT, deixou-se cooptar e transformou-se em um partido igual
aos demais, mas os golpistas sempre foram golpistas e continuaram sendo.
Por tudo isso, apesar das manifestações de ontem legitimarem Lula
e Dilma, talvez não dê mais tempo de a democracia ser salva pelas mãos de Lula e
sendo assim viveremos um período de inflexão conservadora, de Democracia
relativa. Tempos sombrios.
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