"Quando,
enfim, os bacharéis mais reacionários ocuparam o poder com os militares,
coube-lhes encontrar as fórmulas jurídicas para defender o estupro do Estado de
Direito" (Mauro
Santayana)
Os
setores mais conservadores estão assanhados e os incautos os acompanham num
movimento que pode visto como um movimento
de manada[1]
e sob a batuta desses setores conservadores (me refiro aos mesmos setores que
no passado "colaram" em Getulio, JK, João Goulart o rotulo de
"corrupto" para logo depois darem golpes à democracia) teve inicio a “temporada
de caça a Lula e sua família”, agora desavergonhadamente.
Mas por quê? Quais
interesses esses senhores defendem?
Talvez os golpistas
e seus interlocutores estejam irritados e se reúnam porque o governo brasileiro
distribui renda, como no sistema escandinavo, a fim de sustentar um ainda
tímido, mas necessário, “welfare state”, como fez Lula e faz Dilma com o
Bolsa-Família, ou invés de deixar-se pautar pelo mercado.
Fato é que reúnem-se
bacharéis, banqueiros, políticos, alguns jornalistas e inocentes úteis em torno
do conteúdo meticulosamente produzido pelos “tomás de torquemada de Curitiba” no “Tribunal
do Santo Oficio de Curitiba” e diariamente seguem a sanha de destruir e
reescrever a História de Lula, do PT e do governo de coalização comandado pelo PT.
Mas isso
não é novidade. Vamos visitar a História dessas elites e dês seus vassalos na
Brasil.
Antes de partir para Portugal o
Rei D. João VI teria dito seu filho que tomasse ele a coroa “antes que algum aventureiro lance mão” repetiu-se
isso irrefletidamente longo do tempo, desde os bancos escolares. Mas quem eram os aventureiros? Os aventureiros éramos
nós, o povo brasileiro. Os aventureiros temidos por D. João VI eram: Tiradentes,
Simon Bolívar, Artigas, Sucre, San Martin O´Higginsque; heróis que lideraram
revoluções de independência nos seus países, expulsando os colonizadores em
processos articulados dos países da região. Por conta da decisão da elite em
manter-se na monarquia tivemos dois monarcas descendentes da família imperial
portuguesas, ao invés de uma República, perdemos décadas de avanço
institucional e atrasou-se a construção de um Estado Nacional independente.
Os nossos exploradores coloniais não
foram expulsos, mantiveram-se “pessoas de bem” e influenciam até hoje o país.
Talvez esse tenha sido o primeiro pacto de elite da nossa história, no qual as elites mudaram a forma
da dominação, para imprimir continuidade a ela, sob outra forma política.
Naquele 1822 a monarquia ganhou quase sete décadas de sobrevida.
Ai vem o segundo pacto da elite: a República foi proclamada como um golpe militar,
que a população assistiu “bestializada”, segundo um cronista da época, sem
entender do que se tratava – o segundo grande pacto de elite marginalizou o
povo das grandes transformações históricas.
Outros pactos se seguiram a esses dois (a História está ai para ser conhecida e
compreendida, vou escrever sobre eles um dia) e todos eles contemplaram os
interesses da elite nacional, conservadora, preconceituosa e sem qualquer
compromisso além da manutenção de seus privilégios.
Estamos vivendo mais um pacto da elite que busca, com o diligente concurso de parcela da mídia, tem
desqualificar o governo de esquerda, suas realizações e conquistas e
criminalizá-lo.
Mas voltemos a 1955... JK
candidatou-se para suceder Vargas, e elegeu-se em três de outubro de 1955 e a
empossou–se em 31 de janeiro do ano seguinte, mas JK teve de lidar com o ódio
que a UDN - União Democrática Nacional endereçara a Vargas (UDN que como o PSDB
representa interesses distantes dos nacionais e populares). A UDN constituía-se
do velho resíduo do bacharelismo nacional, de origem oligárquica, que perdera
sua posição hegemônica na sociedade, a partir da Revolução de 30, mais ou menos
como o PSDB hoje.
Ai o médico
Juscelino[2],
que fora um simples telegrafista e oficial da Força Pública de Minas, que
provinha da “low middle class”, filho
de uma professora e de um caixeiro-viajante morto aos 33 anos, teve a ousadia
de vencer as eleições. O metalúrgico e sindicalista com mais evidência não
pertence à classe representada por esse grupo.
Então teve inicio
uma campanha para “colar” em JK o rótulo de corrupto, como fizeram antes com
Getúlio e depois com João Goulart, ou seja, esse método é não é novidade, não
sou eu a dizer, é a História.
O “corrupto” Juscelino sofreu todas as
perseguições conhecidas. Foi humilhado num interrogatório movido por oficiais
inferiores para regozijo da UDN. JK, presidente eleito, respondeu às perguntas em
pé, na conhecida “republica do galeão”[3].
Reproduziu-se com
JK, o que pretenderam os golpistas contra Getúlio, ao instaurar Inquérito
Policial Militar em uma dependência da Força Aérea a fim de o interrogar, julgar
e condenar o Presidente, também sob o pretexto da corrupção, com entusiasmados aplausos
da UDN.
Essa gente impugnou na justiça eleitoral as vitórias de Getúlio e de JK,
perseguiu-os e levou o primeiro ao suicídio; essa gente que hoje apóia os “tomás de torquemada de
Curitiba” apoiou o golpe
militar; essa gente cassou e provavelmente ajudou a matar JK e João Goulart.
Pretendem fazer o mesmo com Lula?
Pobres dos “tomás
de torquemada de Curitiba”, serão julgados pela História e terão no futuro
a mesma importância e grandeza dos membros da conhecida “Republica do Galeão”,
dos golpistas de 64 e serão fonte de vergonha para seus filhos, netos e
bisnetos.
Uma
ressalva necessária: apenas os corruptos, os corruptores e os imbecis de todo
gênero são contrários a investigações que punam os malfeitores, por isso temos de apoiar as policias, o MP, o MPF e
os órgãos do Poder Judiciário sempre. Contudo, não se pode confundir os
necessários movimentos de combate à corrupção
(que é desejo genuíno de todos nós; desejo de passar a limpo os Poderes,
Instituições e estruturas, públicas e privadas) com a esculhambação dos
princípios fundamentais de Direito, patrocinado pelos “tomás de torquemada de Curitiba”.
[1]
Comportamento de manada é um termo usado para
descrever situações em que indivíduos em grupo reagem todos da mesma forma,
embora não exista direção planejada. O termo se refere originalmente ao
comportamento animal; por analogia, também se aplica ao comportamento humano,
em situações tais como a ocorrência de uma bolha especulativa. Neste caso, diz respeito ao
comportamento de agentes econômicos, em um contexto de informação assimétrica ou incerteza, quando uma grande
parcela dos agentes participantes de um dado mercado não tem informações suficientes para a
tomada de decisão - acerca do mercado de ações, mercado
cambial ou o mercado
de crédito,
por exemplo - e cada agente decide imitar a decisão de outros, supostamente
mais bem informados, ou seguir a maioria.
[2] JK não pertencia, nem pela atividade de seus pais,
nem pela formação deles, ao setor da sociedade tradicionalmente ligado à velha
aristocracia remanescente do Império, que a UDN representava e o PSDB é
herdeiro legitimo, por isso sofreu.
[3]
É uma referência histórica à República do Galeão; como
ficou conhecida a Base Aérea do Galeão, no Rio de Janeiro
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