Pular para o conteúdo principal

Ousadia e generosidade para vencer a falta de moral e de humanidade.


Não tem sido fácil afirmar-se de esquerda atualmente, pois o neoliberalismo foi virtuoso por quase trinta anos, período em que foram mascaradas as mazelas do capitalismo e forjou-se ideologicamente toda uma geração (jovens abaixo de 35 anos nasceram e cresceram num tempo em que a ideologia neoliberal não sofria contestações e era difundida pela mídia como sendo o “paraíso na terra), e temos que conviver ainda com o fato de alguns dos quadros da esquerda terem equiparado suas ações às práticas históricas da direita e ao “lambuzarem-se” (como disse Jaques Wagner) deram munição aos desafetos.

E ocorreu ainda nesse período a queda do Muro de Berlim e do fim da URSS, fatos históricos apresentados ao mundo como a reconquista da liberdade na Alemanha e nas repúblicas soviéticas. Bem, essa visão de reconquista da liberdade não é totalmente descabida ou equivocada, pois os regimes do leste europeu não merecem admiração quando lembramos o totalitarismo lá presente e que a experiência soviética não foi socialista e democrática, mas como um Estado Operário burocraticamente degenerado.

E a história do Ocidente não é menos triste, afinal está fundada num paradoxo, como escreveu Emir Sader, o qual pode ser compreendido a partir da história dos EUA.

Qual paradoxo?

Bem, a democracia liberal, desenvolveu-seno âmbito da comunidade branca e simultaneamente à existência de relações de escravidão dos negros e deportação dos índios. Por trinta e dois anos, dos primeiros trinta e seis anos de vida dos Estados Unidos, proprietários de escravos detiveram a presidência, assim como foram esses proprietários de escravos os que elaboraram a Declaração da Independência e a Constituição.

Ou seja, compreender o conceito de "liberdade"no liberalismo do american way of live exige não perdemos de vista esses fatos históricos, bem como não se pode perder de vista as palavras de Roosevelt:

"Não chego a acreditar que os índios bons sejam apenas os índios mirtos, mas acredito que nove em dez sejam assim; e não gostaria de me aprofundar muito sobre o decimo"

ou as de John Hobson, o qual afirmou que a expansão colonial caminha paralelamente ao

"extermínio das raças inferiores que não podem ser exploradas com lucro pelos colonizadores brancos superiores.".

democracia e a liberdade na qual o tal liberalismo, neoliberalismo ou capitalismo acreditam tem essa origem. 

Creio que temos de fazer nosso próprio caminho, que podemos reinventar nosso país e nossa sociedade, para torná-la mais humana, ética, solidária, inclusiva, justa, democrática e sustentável. Temos de pensar o Brasil de baixo para cima, semeando os processos horizontais e interativos, garantindo o efetivo empoderamento das pessoas numa nova concepção da ação politica. É necessário um novo fazer político, uma práxisque transforme em realidade os discursos que falam de vida digna, saúde, paz, conhecimento, ciência, trabalho, sustentabilidade, arte, lazer, respeito à diversidade de gênero, credo, etnia e cultura.


Temos de fazer isso com ousadia e generosidade para vencer a falta de moral e de humanidade que está deteriorando as instituições e empobrecendo a alma do povo brasileiro.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

SOBRE PERIGOSO ESTADO MINIMO

O governo Temer trouxe de volta a pauta neoliberal, propostas e ideias derrotadas nas urnas em 2002, 2006, 2010 e 2014. Esse é o fato. Com a reintrodução da agenda neoliberal a crença cega no tal Estado Mínimo voltou a ser professada, sem qualquer constrangimento e com apoio ostensivo da mídia corporativa. Penso que a volta das certezas que envolvem Estado mínimo, num país que ao longo da História não levou aos cidadãos o mínimo de Estado, é apenas um dos retrocessos do projeto neoliberal e anti-desenvolvimentista de Temer, pois não há nada mais velho e antissocial do que o enganoso “culto da austeridade”, remédio clássico seguido no Brasil dos anos de 1990 e aplicado na Europa desde 2008 com resultados catastróficos. Para fundamentar a reflexão e a critica é necessário recuperarmos os fundamentos e princípios constitucionais que regem a Ordem Econômica, especialmente para acalmar o embate beligerante desnecessário, mas sempre presente. A qual embate me refiro? Me ref...

DA FAMÍLIA CORLEONE À LAVA-JATO

A autolavaggio familiare agiu e reagiu, impondo constrangimento injusto ao atacar a reputação de advogados honrados. Me refiro a Roberto Teixeira e Cristiano Zanin. Já perguntei aqui no 247 [1] : “ Serão os jovens promotores e juízes "de baixa patente" os novos tenentes" Penso que sim, pois assim como os rebeldes do inicio do século XX, os jovens promotores e juízes, passaram a fazer política e interferir nas instituições e estruturas do Estado a seu modo. Mas em alguns momentos as ações e reações deles lembram muito a obra de Mario Puzzo. As ideais dos rebeldes do início do século XX, assim como dos promotores e juízes desde inicio de século XXI, eram ao mesmo tempo conservadoras e autoritárias; os tenentes defendiam reformas políticas e sociais - necessárias naquele momento -, e no discurso estavam presentes os sempre sedutores temas do combate à corrupção e defesa da moralidade política. Deltan Dallagnol e Sérgio Moro representam os jovens promotores e juízes d...

PALOCCI, UM GRANDE FILHO DA PUTA.

Todos que jogam ou jogaram futebol, bem como aqueles apaixonados que frequentam as arquibancadas para torcer pelo seu time do coração ouvem e, por certo, já proferiram a libertadora expressão “ filho da puta ” ou, com mais esmero, “ filho de uma puta ”, dentre outros palavrões de caráter igualmente libertador. E todos sabem que tal expressão tem semântica própria, pois ninguém que refere à mãe daquele a quem direcionamos qualquer dos necessários palavrões. O adequado uso de palavrões representa síntese e expressa indignação diante de um erro inescusável do Juiz ou de um dos jogadores de qualquer dos times, há, portanto, uma dialética nos palavrões e isso merece atenção. Ou seja, é há uma dialética do palavrão. Na literatura também encontramos o uso de palavrões. Entre os escritores mais lidos da literatura brasileira, o romancista baiano Jorge Amado (1912-2001) é um dos que mais usa o palavrão em sua vasta obra literária. E falando em romances, Amado não é o único int...