“O Brasil vive uma crise política
profunda que tem como causa principal a Operação Lava Jato, e como segunda
causa a perda de apoio da presidente Dilma Rousseff junto à sociedade devido
aos maus resultados da economia e ao envolvimento do PT no escândalo da
Petrobras.”
(Bresser Pereira)
A avaliação de Bresser Pereira que
cito acima merece respeito e reflexão. Afinal, a crise econômica do país é
bastante importante, mas não representa que o Brasil está quebrado; quebrar o país
segue sendo prerrogativa do FHC e sua horda de aristocratas incompetentes.
Mas o que nos espera pode ser um período
longo de recessão, especialmente se essa variação constrangida do modelo econômico
neoliberal continuar como única opção.
Precisa ser dito que a nossa crise
econômica não é responsabilidade do modelo desenvolvimentista que Lula e Dilma
implantaram, ela decorre da queda no preço das commodities exportadas pelo
Brasil em 2014 e uma forte expansão fiscal, e, como afirmou Bresser Pereira “Em um país que não aceita mais a
irresponsabilidade fiscal, a crise econômica associada à crise política,
produziu uma grave crise de confiança e a redução dos investimentos”.
O que fazer? Antes de responder
faço uma constatação importante: a crise
política, fomentada pelos herdeiros da UDN e outros vassalos de interesses
internacionais, agrava a crise econômica. Talvez por isso Dilma tenha
apostado numa mudança da política econômica, trazendo Joaquim Levy e Nelson
Barbosa, além de haver entregue a coordenação política ao vice-presidente,
Michel Temer no inicio do ano. Mas as coisas não funcionaram como esperado. Por
isso mudanças necessárias estão acontecendo, Levy deixa o governo, Barbosa
assume a Fazenda e hoje não há duvidas sobre o caráter de Temer.
Bem, talvez tenha chegado a hora de
a presidente ler ou reler a entrevista em que o repórter Eduardo Maretti dialoga com o economista
Luiz Gonzaga Belluzzo no Rede Brasil Atual, sobre o “ajuste fiscal” do Levy. O
texto repercutiu muito menos que merecia na época (a mídia liberal apresentou o
“ajuste fiscal” como uma necessidade técnica – portanto, seria um tema que não
poderia ser submetido ao debate político).
E
em tempos de mudanças talvez fosse saudável a presidente ouvir também o professor Ladislau Dowbor, que afirma que o principal problema da economia brasileira
situa-se no setor financeiro, e não nas finanças públicas. Traduzindo: os entraves ao crescimento, na atual
conjuntura, decorrem de dívidas elevadas e de padrões desatualizados no crédito
bancário, desatualizados porque orientados para a maximização das taxas de
juros e das tarifas aplicadas a serviços financeiros.
Essa abordagem que merece muita
reflexão. Segundo Dowbor além das
empresas, as famílias e o Governo são particularmente atingidos por taxas
bancárias extorsivas e isso tem de mudar. Só no mês de abril calculou-se em
aproximadamente R$ 4 trilhões os créditos direcionados a famílias e ao Governo
(sendo R$ 1,5 trilhão para famílias e R$ 2,5 trilhões para o Governo), segundo
as estatísticas do Banco Central compiladas pelo prof. Bergamini[1].
E com as taxas de juros em vigor, pode-se estimar que as famílias e o Governo
pagam anualmente aos bancos um montante próximo ou maior do que R$ 500 bilhões.
Quinhentos bilhões de reais é muito
dinheiro... É mais do que o dobro do volume nacional alocado à “Formação Bruta
de Capital Fixo, em série anualizado”. Se metade desse valor fosse direcionada
para o binômio poupança/investimento, sem dúvida poderíamos no mínimo dobrar a
taxa de formação de capital fixo no curto espaço de dois anos. E deixaria
igualmente de existir o problema fiscal, pois a moderação da taxa SELIC, para níveis
civilizados reduziria os juros pagos pelo Governo (que extrapolam atualmente os
R$ 100 bilhões, mais do que 10% da receita corrente líquida anual).
Novas
idéias devem ser consideradas Presidenta, afinal se a crise é grande há também oportunidade
de grandes mudanças de viés social e econômico e, por fim penso que o país
precisa mais de Keynes e menos de Hayek.
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