Outro dia almoçando com alguns
amigos, conversávamos sobre tudo que permitido, futebol, religião e politica e,
“lá pelas tantas”, um deles me
perguntou: “Você defende o governo,
defende esse PT tanto... O que você me fala da roubalheira que aconteceu na
Petrobrás?”.
Evidentemente a pergunta teve
caráter provocativo, pois já havíamos esgotado o estoque de questões altamente
relevantes sobre o time dele, um time que “teima” em viver nos anos 70 e
“teima” em ignorar que, de lá para cá, muita coisa mudou e não apenas no
futebol.
Enfrentei a provocação da
seguinte forma. “Ok, vamos falar da corrupção ou apenas da corrupção na PETROBRÁS?”. Ele topou que falássemos de
corrupção e não apenas dos tristes eventos que ocorreram na maior companhia do
país, desde que voltássemos a falar da Petrobrás também.
Concordamos que a corrupção ainda é um grave
problema no Brasil, mas por quê? Porque o verdadeiro combate é novidade por aqui. Foi apenas a partir do
governo Lula com a criação da Controladoria Geral da União que as coisas
começaram a mudar. Essa é a verdade. Somado à criação da CGU e ao fato de a Polícia
Federal ter multiplicado seu efetivo a partir de 2003.
O combate à corrupção tem sido
implacável, tanto que o número de operações da PF e as demissões de servidores
envolvidos em ilícitos se tornaram regra e não exceção.
É uma verdade incomoda aos
setores que pretendem a volta dos serviçais do neoliberalismo reconhecer que antes
de Lula e Dilma a única estatística conhecida e aceita é a do
ex-procurador-geral da República de FHC, Geraldo Brindeiro (primo do
vice-presidente Marco Maciel), que, até 2001, tinha em suas gavetas mais de 4
mil processos parados - fato que lhe rendeu o nada honroso apelido de “Engavetador-geral da República”.
De 2003 a 2013, compreendendo os governos de Lula e Dilma, a expulsão de
servidores acusados de corrupção quase dobrou, passando de 268, em 2003, para
528, em 2013 e as operações da Polícia Federal saltaram
de 9, em 2003, para mais de 200, a partir de 2008, ou seja, passou a haver
inegável diligência e independência da Policia Federal.
Fato é que não existia combate à corrupção
política antes de 2003.
A
comprovada corrupção existente nos escaninhos da PETROBRÁS deve ser apurada
detalhadamente, seus responsáveis denunciados, processados e punidos. Tanto os
agentes públicos, quanto os agentes privados devem ser punidos na forma da lei,
mas não se pode sentenciar a
Política como causadora de todos os males, pois não é, afinal quem
pensava que o campo da Política é um “charco lodoso” eram os primeiros
republicanos, praticantes de um positivismo seletivo, para quem as liberdades
civis, os Direitos Humanos e a participação popular eram
conceitos de segunda categoria, tanto que para esconder seus interesses,
ambições e veleidades pessoais os embalavam cuidadosamente num discurso de
austeridade, de excelência moral, de preferência à eficiência técnica e
eficácia administrativa.
Mas e a
corrupção na PETROBRÁS?
Inicialmente é importante lembrar que a LAVA-JATO
investiga parlamentares do PP, PT, PSDB, PTB, SDD, além de empresários e
diretores de grandes empreiteiras, ou seja, não é “privilégio” do PT. E o
ex-gerente executivo da Petrobrás Pedro
Barusco afirmou em sua delação premiada que houve pagamento de propina desde o
primeiro contrato de navios-plataforma da estatal com a SBM Offshore, durante a
gestão Fernando Henrique Cardoso (PSDB) em 1997, ou seja, o mal é antigo.
Bem, se o PT que surgiu para ser um partido
diferente, e não é o responsável pela implantação da corrupção na companhia,
mas ele é responsável por não ter identificado e acabado com ela e é também responsável
pelos seus quadros que dela participaram. Penso que agora cabe à Policia
Federal, ao Ministério Público Federal e ao Poder Judiciário (sem
espetacularizar os fatos) investigar, denunciar e condenar exemplarmente os
responsável, cada um dos agentes do nojento esquema de corrupção.
E uma
reflexão precisa ser feita.
O PT surgiu para representar os interesses da
classe média urbana em especial, nasceu socialdemocrata e foi caminhando para a
esquerda, mas nos últimos 12 anos após chegar à presidência da republica fez
uma inflexão conservadora e aproximou-se das empreiteiras - corruptores históricos - e de corruptos
contumazes como os neocompanheiros do
PP, que já foi ARENA, por exemplo... E essa aproximação se não foi fatal ao PT,
foi trágica, pois se por um lado setores do PT e da esquerda foram capazes de
implantar politicas socialdemocratas da maior importância, de outro a economia
foi quase o tempo todo neoliberal e a roubalheira
foi mantida como dantes no
quartel de Abrantes.
O PT
envelheceu, burocratizou-se e muitos de seus quadros, como afirmou Tarso Genro
recentemente, ficaram cada vez mais distantes da sociedade, excessivamente
ligados ao governo e às politicas públicas (as quais, num presidencialismo de
coalização, são as “politicas possíveis”) e, eu acrescento, outros
corromperam-se.
Não estou
a ignorar a existência, entre seus quadros, de muita gente boa, políticos
honestamente comprometidos com as lutas populares, com o desenvolvimento social
e econômico do país, não é isso, mas o Partido dos Trabalhadores precisa de um choque
que sociedade e de autocritica.
O PT é, e sempre será, o partido da minha
adolescência e da minha juventude, mas nem todo o carinho do mundo pode impedir,
e não me impede, de fazer criticas necessárias.
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