É uma estultice dizer que os governos
Lula e Dilma foram incompetentes. É uma estultice e uma leviandade porque basta
lembrarmos que entre 2003 e 2013, houve significativo progresso econômico e
social. No período citado mais de 26 milhões de pessoas saíram da pobreza e a
desigualdade foi reduzida de forma exemplar, temos de registrar que o
coeficiente de Gini caiu 6% em 2013, chegando a 0,54.
E não é só.
A renda dos 40% mais pobres da
população cresceu, em média, 6,1% (em termos reais) entre 2002 e 2012, em
comparação aos 3,5% de crescimento da renda da população total, ou seja, a
renda de todos cresceu de forma importante no período em comento.
Tanto isso é verdade que o economista norte-americano e Prêmio Nobel Paul
Krugman disse em março do ano passado que o Brasil não enfrenta tantos
problemas hoje em dia, ou em suas palavras: “É
importante olhar para trás de vez em quando e entender que momento de desastre
nós passamos”, disse Krugman ao abrir o evento "Fórum Brasil - Diálogos para o Futuro", de Carta Capital, em São Paulo. Ele afirmou ainda que “Enfrentamos [o mundo] o segundo maior desastre da história. O
primeiro foi a Grande Depressão. A crise recente afetou seriamente o Produto
Interno Bruto (PIB) das economias desenvolvidas. O crescimento agora persiste
lento, após o auge da crise de 2008/2009”.
No evento citado Krugman lembrou que
a Comissão Europeia considera um crescimento de 1% na região, em vez de 0,5%, o
que pode ser visto como a “medida do
sucesso agora”. "A catástrofe
foi evitada, mas o crescimento dos países avançados é ainda vagaroso",
disse ele, antes de lembrar que a recuperação econômica de hoje é mais lenta
quando se compara com a referente à crise de 1929.
OS SINAIS DE
ESTAGNAÇÃO - Contudo, também é inegável que tanto
a redução da pobreza, quanto a desigualdade vem mostrando sinais de estagnação
desde 2013. E o Banco Mundial é fonte segura para a análise que faço a seguir.
A estagnação da desigualdade merece
atenção e ação. O lado preocupante é verificável, por exemplo, na taxa de
crescimento do PIB brasileiro, que diminuiu de 4,5%, entre 2006 e 2010, para
2,1% entre 2011 e 2014 e 0,1% em 2014 e a inflação, indesejada por todos,
permanece alta.
INFLEXÃO LIBERAL DO
GOVERNO DILMA? Para enfrentar os atuais
desequilíbrios em nível macro e revitalizar o crescimento, as autoridades
formularam metas de superávit primário para 2015 e 2016 e, para reduzir o
déficit fiscal, foram anunciadas medidas de redução de direitos, corte de
despesas discricionárias e redução do apoio do Tesouro aos bancos públicos e ao
setor energético, o que é uma triste inflexão liberal de um governo que deveria
ser, no mínimo, socialdemocrata.
O ajuste fiscal seria uma política
passageira, que não veio para ficar, garantiu recentemente o ministro da
Ciência e Tecnologia, Aldo Rebelo. Segundo o ministro, o governo estaria se
adaptando para se adequar às exigências dos ajustes necessários ao orçamento e
para a retomada do crescimento do País. Alentadora a afirmação do amigo Aldo
Rebelo, alentadora, mas pouco esclarecedora. Há muitas questões que precisam
ser respondidas com honestidade pelo governo.
O tal
ajuste fiscal é o
nome dado ao esforço para equilibrar as contas do Estado brasileiro
e gerar superávit primário. O ajuste será
duro por conta de anos de uma gestão econômica errática, segundo a
oposição, os liberais e seus porta-vozes e “exigirá esforço”, completam.
Esforço? Mas que tipo de esforço? Esforço de quem e
para quem? As contas estão desequilibradas? Desde quando? Os liberais estavam
certos? Qual o tamanho do sacrifício? Essas são as perguntas a serem respondidas, com honestidade e
clareza, pelo governo. Honestidade e clareza, era isso que eu esperava da
Presidente Dilma e de sua equipe, afinal votei nela em 2010 e 2014.
Há
um pelo artigo postado no blog do Professor da UNICAMP Fernando Nogueira da
Costa tratando disso, o titulo é “Razão do Ajuste
Fiscal – Realinhamento Tarifário-Tributário-Cambial-Inflacionário-Depressivo:
Lógica do Capital”.
A OPINIÃO DE LUIZ
GONZAGA BELLUZZO – o
ajuste fiscal não é uma necessidade técnica, há outros caminhos.
Não é demais lembrar que em 31 de dezembro, a Rede Brasil Atual publicou excelente
entrevista em que o repórter Eduardo Maretti dialogou com o economista Luiz
Gonzaga Belluzzo, sobre o “ajuste fiscal” iniciado pelo governo Dilma. O texto
repercutiu muito menos que merecia, por motivos previsíveis, afinal aos setores
conservadores procuram apresentar o “ajuste fiscal” como uma necessidade
técnica – portanto, um tema que não pode sequer ser submetido ao debate
político.
Algumas medidas já
anunciadas e encaminhadas ao Congresso ou em estudo estão longe de representar
o que o eleitorado de Dilma e do PT esperavam.
A OPINIÃO DE LADISLAU DOWBOR - o
principal problema da economia brasileira situa-se no setor financeiro, e não
nas finanças públicas.
E
é triste observar, aqui na minha insignificância, a incapacidade de o Congresso
debater, por exemplo, a posição de Ceci
Juruá, que num artigo que li no blog do Dr. Roberto Amaral faz importante
referência à entrevista publicada em CARTA MAIOR, na qual o professor Ladislau
Dowbor reafirma o que pensam muitos e bons economistas brasileiros: o principal
problema da economia brasileira situa-se no setor financeiro, e não nas
finanças públicas.
Por que isso não é debatido?
Será que é porque os bancos
(todos) são doadores de campanhas eleitorais para partidos (todos)?
Ou, noutras palavras, os entraves ao crescimento, na atual conjuntura,
decorrem de dívidas elevadas e de padrões desatualizados no crédito bancário,
desatualizados porque orientados para a maximização das taxas de juros e das
tarifas aplicadas a serviços financeiros. Além das empresas, as famílias e o
Governo são particularmente atingidos por taxas bancárias extorsivas.
A matéria indica que no mês de abril de 2015 calculava-se em aproximadamente
R$ 4 trilhões os créditos direcionados a famílias e ao Governo (sendo R$ 1,5
trilhão para famílias e R$ 2,5 trilhões para o Governo), segundo as
estatísticas do Banco Central compiladas pelo prof. Bergamini. Com as taxas de
juros em vigor, pode-se estimar que esses atores – famílias e Governo – pagam
anualmente aos bancos um montante próximo ou maior do que R$ 500 bilhões. Seria
muito dinheiro, mais do que o dobro do volume nacional alocado à Formação Bruta
de Capital Fixo, em série anualizado.
Se metade desse valor, os R$ 500 bilhões, fosse direcionada para o
binômio poupança/investimento, sem dúvida poderíamos no mínimo dobrar a taxa de
formação de capital fixo no curto espaço de dois anos. Deixaria igualmente de
existir o problema fiscal, pois a moderação da taxa Selic, para níveis
civilizados reduziria os juros pagos pelo Governo (que extrapolam atualmente os
R$ 100 bilhões, mais do que 10% da receita corrente líquida anual).
Compartilhei esse texto antes de publicá-lo com meu Professor do Instituto
de Economia da UNICAMP Fernando Nogueira da Costa e ele, sempre generoso,
afirmou não concordar com a
assertiva de que “o principal problema da economia brasileira
situa-se no setor financeiro, e não nas finanças públicas”. Segundo o professor Fernando “Esse
setor é o tradicional "bode expiatório" da esquerda cristã medieval
antiusura e antissemita... E dos marxistas que acham que o capital produtivo é
melhor do que o capital financeiro e, pior, que são separados!”, registro a
opinião que respeito muito.
Mas voltemos a problemas a serem observados. O déficit em Conta Corrente
aumentou de 2,1% do PIB, em 2011, para 4,2% em 2014, refletindo o agravamento
dos termos de troca e a queda das exportações de produtos manufaturados. Embora
grande parte do déficit seja financiada por influxos de Investimento
Estrangeiro Direto (2,9% do PIB), os fluxos de portfólio têm demonstrado
comportamento volátil, evidenciando sua vulnerabilidade às reversões do fluxo
de capital. Apesar do fraco desempenho econômico e das pressões sobre o setor
externo, não há ameaça iminente de crise externa, visto que o Brasil possui US$
360 bilhões de reserva (cerca de 17% do PIB) e um setor financeiro sólido, essa
é a boa noticia nesse quadrante. Nessa linha Krugman
afirmou que as economias emergentes, como a brasileira, têm se mostrado mais
resilientes. Com o fim do problema de dívida externa, o Brasil tem menos
exposição ao câmbio, tem mais estabilidade, com a inflação sob controle e a
política fiscal mais responsável.
Para Krugman as companhias
brasileiras, por meio de entidades offshore, tomaram muito empréstimo externo
no valor de 300 bilhões de dólares, que é menos de 15% do PIB, lembrou, o que
também não preocupa, mas alertou: “O
Brasil exporta primariamente commodities e vai sofrer com a desaceleração da
China. Não estamos falando de catástrofe, mas algo que pode ser manejável.”
O
CLIMA - E São Pedro não ajudou... A seca prolongada fez
surgir ainda o risco
de racionamento de água e eletricidade em algumas partes do país. Isso teria
consequências sobre as atividades econômicas e os preços e colocaria em risco a
renda real - especialmente dos pobres.
CONCLUSÕES (ou
duvidas?) - Na lógica liberal, abraçada pelo
segundo governo Dilma, as perspectivas de médio prazo do Brasil vão depender do
sucesso dos ajustes atuais e da adoção de novas reformas que são promessa de
favorecimento e retomada do crescimento.
Mas não vi respostas claras acerta do
necessário aumento da produtividade e da competitividade, tido como um dos principais
desafios para o Brasil aumentar seu índice de crescimento no médio prazo. Com o
recuo dos fatores que fomentaram o crescimento ao longo da última década - o
consumo alimentado pelo crédito e a expansão do mercado de trabalho e das
commodities - serão necessários mais investimentos e ganhos de produtividade
para promover o crescimento. De onde verão os investimentos? Quando virão?
E
sempre atentos, pois como lembrou bem Fernando Nogueira da Costa, não podemos
perder de vista que a
produtividade aumenta quando se desemprega, ou seja, quando se produz o mesmo
com menos... Os neoliberais acham que isso é mais "eficiente" e tentam
nos convencer que a baixa produtividade existe porque ela esteve abaixo dos
ganhos dos trabalhadores na Era Social
desenvolvimentista. É reação falaciosa dos reacionários que desejam que
voltemos à Era Neoliberal dos anos 90 com "reengenharia" e
"downsizing"...
Mas não se pode esquecer também que o
Brasil possui diferenças regionais extremas, especialmente em indicadores sociais
- como a saúde, mortalidade infantil e nutrição.
Os indicadores das regiões
mais ricas do Sul e do Sudeste são muito melhores que os indicadores do Norte e
do Nordeste, mas somos uma nação e apesar da redução da pobreza conquistada na
última década, a desigualdade permanece relativamente alta para um país de
renda média.
Após garantir a cobertura universal da educação primária, o Brasil
agora luta para melhorar a qualidade e os resultados do sistema, especialmente
nos níveis básico e médio.
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