As urnas em 5 de outubro de 2014 impuseram às
esquerdas uma retumbante derrota no estado de São Paulo, não adianta “tapar o Sol com a peneira”.
A medíocre votação do candidato a governador Alexandre
Padilha, a diminuição de cadeiras na assembleia legislativa do estado e no
congresso nacional revelaram que a esquerda deveria “pôr as barbas de molho”, e fazer uma autocritica capaz de orientar
um acertamento nas suas alianças futuras. Isso não aconteceu até agora.
A esquerda e o PT em especial deveriam avaliar
com serena honestidade “por que”
perderam o histórico apoio da chamada classe
média, dos micro e pequenos empresários, dos professores, profissionais
liberais, bem como por que perdeu a hegemonia de representatividade junto à classe
trabalhadora, especialmente no estado de São Paulo repita-se, único espaço que
tenho condições de avaliar validamente.
Afirmo isso porque está evidente que setores
conservadores e seu discurso moralista cooptaram e cooptam a classe média em especial, mas também a chamada
nova classe média e os setores
citados acima, todos aliados históricos dos setores progressistas, socialdemocratas
e socialistas.
E a classe
média e a nova classe média, seduzidas
pela cantilena liberal e abastecida por uma fortíssima campanha midiática,
aparentemente passou a rejeitar todos os entes coletivos que possam geram
turbulência aos interesses àqueles que a seduziram.
Na prática o sonho de uma sociedade fundada no Welfare State não foi varrido do mapa
definitivamente em razão da vitória de Dilma Rousseff também no segundo turno,
mas o sonho do Welfare State e o
projeto social-desenvolvimentista estão a sofrer críticas desde então. Essa
inflexão conservadora pode ter levado à aprovação do terrível Projeto de Lei 4330, que trata da terceirização,
por exemplo.
Bem, após aquele 5 de outubro os setores progressistas, a direção do
Partido dos Trabalhadores, a militância e os simpatizantes nas três semanas seguintes
responderam com discurso e ação política criativa, generosa e propositiva e
levaram Dilma a sua segunda vitória. Mas desde antes da posse a Presidente
reeleita não teve um dia de paz.
Dias após o primeiro turno um jornal publicou um longo artigo que
escrevi contendo essa avaliação, reafirmando minha fé nos setores
progressistas, nos trabalhadores, no micro, pequeno e médio empresário, a
confiança e a certeza que o Brasil pode e deve seguir avançando nas mudanças
iniciadas em 2003.
Afirmei
também “não tenho dúvida alguma que o PT enfrentará no dia 26 de outubro a
eleição mais dura de sua história e, independentemente do resultado é
necessária uma reflexão honesta acerca da tática, das ações no governo e, em
qualquer hipótese buscar a reconciliação com antigos companheiros que buscaram
acolhida no PSB, PSOL, PV, afinal todos tem muito a dizer, aprender e ensinar. ”. Bem,
Dilma Rousseff venceu as eleições e a autocritica do PT não aconteceu, mas
sempre é tempo.
Penso que é fundamental ao PT uma autocritica e um acerto de contas com
sua história, acredito que as futuras alianças devam ocorrer do centro para a
esquerda, está comprovado que as alianças longevas do centro para a direita, em
nome da governabilidade, levaram a esquerda brasileira à encruzilhada moral em
que se encontra inegavelmente.
Não estou sozinho.
Uma opinião muito interessante é a do ex-Presidente do PT e
ex-governador do Rio Grande do Sul Tarso Genro. Para ele a forma tradicional de partido está
superada e esquerda deveria, por exemplo, ter receita própria para o ajuste
fiscal ao invés de deixar-se levar pelo modelo tão próprio dos
seguidores de Milton
Friedman.
O Ex-governador do Rio Grande do Sul, foi também ministro da Justiça no
governo Lula e presidente do PT na época do chamado 'mensalão', é um dos quadros históricos do partido e um dos poucos
que tem feito críticas públicas, e muito corretas, às escolhas dos governos
petistas e ao atual momento da legenda. Para ele, uma das razões da crise pela
qual a sigla passa é o fato de o PT ter se tornado “um partido excessivamente de
governo" e a solução seria o PT tomar “um choque de sociedade
civil”, pois a capacidade de renovação interna do PT "está esgotada”, noutras
palavras, o PT distanciou-se da sociedade, de suas demandas e colocou-se como
capaz de dizer o caminho, sem ouvir os caminhantes.
Tarso
Genro tem autoridade histórica e moral para fazer essas afirmações, pois foi
ele um dos escolhidos pelo ex-presidente Lula para construir o campo de. E do
alto dessa inegável autoridade de quem ajudou a garantir a governabilidade às
gestões petistas, afirma que “esse formato começou a ruir no primeiro mandato de Dilma”, pois o sistema
de coalizão não presta mais para nada e propõe uma frente ampla, “uma frente que, exemplificadamente, fosse do Bresser-Pereira ao Jean Wyllys”, afirma Tarso Genro.
E
sobre essa ideia da frente ampla o ex-presidente e intelectual Roberto Amaral a
propõe como instrumento estratégico de
resistência aos ataques conservadores e para avanço de políticas públicas
progressistas.
Roberto Amaral, um dos
pensadores que mais admiro, propõe uma frente ampla, não de partidos, mas uma
frente ampla de caráter nacional popular que congregue as forças progressistas,
para além das esquerdas, partidárias ou não, organizadas de preferência,
mas não necessariamente, como sindicatos, as diversas instituições e
entidades da sociedade civil, intelectuais de modo geral, a comunidade
acadêmica, o pensamento progressista em sentido amplo, compreendendo
liberais de esquerda, a saber, todos os que estiverem convencidos de que só
somando, compartilhando e alargando nossas forças para além de nosso campo,
poderemos fazer frente à ascensão do pensamento e da ação da direita, que se
organiza para a tomada do poder para nele promover, como já anunciada, a
revisão dos avanços sociais, econômicos e políticos logrados pela sociedade
brasileira nas últimas décadas.
O desafio exige
compromissos com a soberania nacional, a retomada do desenvolvimento autônomo e
a preservação dos direitos dos trabalhadores.
Essa frente ampla é uma
grande ideia, desde que não se limite a pensar o imediato, tem de ser um
espaço que não se deixe contaminar pela pequena política praticada pelos
setores lacerdistas da oposição, uma frente que não se isole e que pense o
Brasil para além das próximas eleições, uma frente que pense o Brasil para esta
e para as próximas gerações.
Comentários
Postar um comentário