O ajuste fiscal seria uma política
passageira, que não veio para ficar, garantiu recentemente o ministro da Ciência
e Tecnologia, Aldo Rebelo. Segundo o ministro, o governo está se adaptando para
se adequar às exigências dos ajustes necessários ao orçamento e para a retomada
do crescimento do País. Alentadora a afirmação do amigo Aldo Rebelo,
alentadora, mas pouco esclarecedora. Há muitas questões que precisam ser
respondidas com honestidade pelo governo.
Afinal, o que é o
ajuste fiscal?
Bem, ajuste fiscal é o
nome dado ao esforço para equilibrar as
contas do Estado brasileiro e gerar superávit primário. O ajuste será duro
por conta anos de uma gestão econômica errática, segundo os liberais e seus
porta-vozes.
Esforço?
Mas que tipo de esforço? Esforço de quem e para quem? As contas estão
desequilibradas? Desde quando? Os liberais estavam certos? Qual o tamanho do
sacrifício?
Essas
são as perguntas a serem respondidas, com honestidade e clareza, pelo governo.
Honestidade e clareza era isso que eu esperava da Presidente Dilma e de sua
equipe, afinal votei nela em 2010 e 2014.
O
que sei é que a meta do tal esforço é chegar a um superávit primário de 1,1% do
PIB no Governo Federal, ou seja o objetivo realizar superávit primário. O
superávit primário é receita menos a despesa, excluído o gasto do Governo com o
pagamento de juros da dívida pública. Ou seja, todo esse esforço é para gerar
superávit primário e pagar os juros de sua dívida pública e, eventualmente,
parte do principal, é um esforço para equilibrar a relação Dívida/PIB.
O
argumento a sustentar o ajuste é que o Governo, depois de anos de política
expansiva, políticas anticíclicas e aumento de despesas, e principalmente do
déficit de 0,63% do ano passado, não pode gastar mais do que arrecada. Uma
gestão austera enviaria aos mercados
e aos investidores uma mensagem positiva sobre a condução da economia. E no
médio prazo, se o ajuste der certo, o Governo promete que a economia voltará a
crescer de maneira sustentável. Para este ano, a perspectiva é de uma queda de
1,2% do PIB, a pior em 20 anos.
Os
defensores da inflexão liberal dizem que o
Governo se descontrolou nos anos anteriores e deu subsídios e benefícios não
sustentáveis. A equipe econômica da presidenta argumenta que as medidas pretéritas
visavam preservar emprego e renda.
O fato é que em relação ao ajuste de hoje os apoiadores do
Governo, inclusive dentro do PT, atacam o ajuste porque dizem que só os mais pobres vão pagar a conta do ajuste fiscal,
e apontam alternativas. Uma das alternativas seria a inclusão dos mais
ricos no quadrante dos que ajudarão a solução, através da instituição do imposto
sobre grandes fortunas.
Há ainda os que temem que o arrocho na economia seja tão
grande que acabe aprofundando os problemas e retardando a volta do crescimento,
eu me alinho a esse grupo. Penso que essa inflexão liberal é reflexo da captura
do sistema político pelos interesses do mercado, mas esse é outro tema, tema para
um outro artigo.
Basicamente a “economia” que se anunciou virá de várias
frentes: (i) da alta de tributos; (ii) cortes de benefícios; (iii) do
congelamento de gastos não obrigatórios do Governo, as chamadas despesas
discricionárias.
E semana passada o Governo detalhou “o congelamento de gastos
não obrigatórios”, pois decidiu congelar dos gastos discricionários, os quais
reconhece importantes, mas não obrigatórios, que podem ser cortados - em
relação à Lei do Orçamento já aprovada. No total, serão congelados 69,9 bilhões
de reais em gastos, ou 35% do total desse tipo, segundo o ministro Nelson
Barbosa (Planejamento). O Governo também vai congelar o mesmo porcentual (35%)
dos gastos previstos nas emendas de parlamentares (projetos e obras pelos quais
os deputados e senadores aprovaram verbas).
Todas as áreas terão cortes, incluindo os ministérios da
Educação e da Saúde, duas das pastas com os maiores orçamentos do Governo. O
Planalto promete, porém, que vai manter os programas considerados prioritários,
como o
Bolsa Família (27,7 bilhões de reais), já o
“Minha Casa Minha Vida” sofrerá uma redução do ritmo do programa, que subsidia
a compra da casa própria e o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), o
principal programa de infraestrutura do Governo, vai ser cortado, o que na
minha opinião um erro tático de consequências nefastas ao plano estratégico de
desenvolvimento social e econômico iniciado em 2003. De um governo que se pretendia, ao menos, socialdemocrata eu não esperava
isso.
Obras de infraestrutura do programa, espalhados por todo o
país, vão atrasar. A população terá que esperar mais por elas e haverá,
provavelmente, corte de empregos na construção civil, noutras palavras: cortar o PAC é uma estupidez liberal que manchará
a presidência de Dilma Rousseff e imporá ao país sofrimento desnecessário.
Um ajuste fiscal é sem dúvida necessário, é evidente que o
Governo precisa melhorar sua situação fiscal, especialmente em razão da
conjuntura mundial, que vive um momento que já vem sendo chamado de “período da
grande estagnação”, mas sem comprometer conquistas e avanços.
É possível que que tenha havido erros na condução da política
econômica, não tenho condições de avaliar isso, contudo, é fundamental que
todos paguem pelo ajuste de hoje, não apenas as camadas mais pobres, pois como
disse Celso Rocha de Barros “um pouco de liberalismo e um pouco de
redistribuição de renda, com impostos progressistas, etc. Essa é a fórmula que
deu ao PT quatro mandatos na presidência”, afinal o Brasil é um pais
capitalista, mas me parece que Dilma esqueceu-se disso e a inflexão liberal está
em vantagem.
O risco de um ajuste liberal demais é a penalização apenas os
mais pobres e o perdimento da necessária fórmula da distribuição de renda. O ajuste
fiscal é necessário, sempre é necessário avaliar e ajustar, o risco que vejo é
o crescimento da desigualdade.
O que deve ser discutido e garantido é a distribuição de
renda e o nosso projeto de país. Em que país queremos viver e que país queremos
legar aos nossos filhos e netos?
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