Tem muita gente falando e
escrevendo muita bobagem sobre a tal crise econômica pela qual estaria passando
o país.
Também vou escrever as minhas,
mas antes de escrever sobre a natureza da tal crise penso ser necessário lembrar
que Dilma venceu tudo e todos apresentando um projeto social-desenvolvimentista
e que sua derrota significaria a
volta do Estado Mínimo (apenas um dos retrocessos visíveis no projeto
neoliberal e anti-desenvolvimentista de Aécio Neves e sua trupe).
Não
havia nada mais velho e antissocial do que o enganoso “culto da austeridade”, remédio clássico seguido no Brasil dos anos
de 1990 e aplicado na Europa desde 2008 com resultados catastróficos. Não se
pode perder de vista que Política econômica e Política Social são faces da
mesma moeda, e que não há como conciliar política econômica que concentre a
renda e política social que promova a inclusão social. A vitória de Dilma foi a
vitória do povo brasileiro e do projeto social-desenvolvimentista.
Posto
isso vamos analisar o início do governo Dilma.
Mas,
para surpresa e indignação de seus eleitores Dilma estaria a trair o
social-desenvolvimentismo, pois na retórica e na
prática, os primeiros movimentos do novo governo Dilma apontariam para austeridade na condução da política
macroeconômica, com reformas liberais, ajuste fiscal e aperto monetário, um
desespero... Dilma estaria a trazer de volta o fantasma do neoliberalismo que
assombrou o país na década de 1990? Será que é isso mesmo?
Penso que temos de fazer uma análise um pouco mais séria
sobre tudo que está acontecendo. A crise econômica brasileira atual é um fato, mas
não é um caos, nem é catastrófica, como querem fazer crer os especialistas globais que conhecemos de
há muito.
A crise seria conjuntural e derivaria, fundamentalmente, de fatores externos? Essa
é a afirmação da equipe econômica do governo federal e da própria presidente
Dilma. Ou, como afirmam alguns economistas, trata-se na verdade de uma crise estrutural e decorreria de erros do governo na condução da
economia nos últimos 12 anos.
Conceituando. Questões estruturais de uma economia
referem-se às mudanças fundamentais e de longo prazo na sua estrutura, ao
contrário de medidas pontuais ou de curto prazo, que tipicamente visam melhorias conjunturais na produção ou no
emprego. Por exemplo, a transformação de uma economia
de subsistência numa economia industrializada, ou de uma economia mista
regulada numa economia liberalizada.
Mas afinal de contas, o cenário
atual é fruto mais de uma questão conjuntural estrutural ou conjuntural? Tendo a concordar com a análise da Presidente, porque a estratégia
de buscar o desenvolvimento do capitalismo brasileiro, no modelo introduzido em
2003, foi de se apoiar-se no mercado externo, o que justificava afinal, até
2007 ou 2008, o mundo viveu um grande momento, estimulado em especial pela
China.
Nesse contexto o Brasil foi
capaz de formar uma proteção em relação ao caráter especulativo do capitalismo
internacional por meio da criação das reservas, aproveitando o saldo comercial
para liquidar o problema da dívida externa, algo que nos aprisionava. Foram praticamente
duas décadas transferindo entre 5% e 6% do PIB para pagamento desta
dívida.
E, ao mesmo tempo em que a
estratégia se apoiava no mercado externo, buscou-se uma expansão do mercado
interno sustentada na distribuição de renda e da ampliação do acesso ao
crédito, um fato inédito no capitalismo brasileiro nos últimos 50 anos, já que
nunca ocorrera a combinação (i) democracia,
(ii) crescimento econômico e (iii) distribuição de renda.
UM
POUCO DE HISTÓRIA.
Não se pode esquecer que nos anos 1960 o crescimento
econômico foi enorme, mas dado o autoritarismo vigente não se distribuiu renda.
No início dos anos 1980 o Brasil era a oitava economia, mas como o terceiro
país mais desigual do mundo.
Nos anos 1980 e 1990, retomou-se a democracia, mas não
o crescimento, então não havia o que distribuir. Foram décadas perdidas pois
houve uma regressão econômica e social, o país caiu para 13ª economia mundial
no ano 2000.
Com a estratégia econômica adotada pelos governos a
partir de 2003 seria de longo prazo, pretendeu-se de longo prazo, o PAC, nesse
contexto, introduzido em 2006, buscava instaurar um ciclo de expansão por meio
de investimento, mas tudo isto foi interrompido por conta da crise de 2008.
Hoje sabemos que não é uma crise, como alguns diziam
ser, em “V” (com uma queda na atividade que depois volta a se recuperar), é uma
crise de dimensão global iniciada em 2008 estabeleceu um novo regime possível
de expansão das economias capitalistas, que é um regime de expansão muito menor
do que o verificado antes daquele ano. Ou seja, hoje crescer menos é o novo padrão do capitalismo global desde 2008.
Os Estados Unidos, por exemplo, estão crescendo 30% do
que cresciam antes de 2008, a Europa praticamente não está crescendo, está
estagnada, o Brasil cresce 45% do que crescia antes; a China, 75%, o melhor
desempenho vem sendo da Índia, com 83%, 84%. A crise de dimensão global
estabeleceu um novo regime de expansão possível que é de baixíssimo
crescimento. A crise é global.
E o Brasil que antes da crise constituiu o PAC como a
possibilidade de se fazer a ampliação de investimentos, teve que utilizá-lo não
mais com essa finalidade mas sim no âmbito das políticas anticíclicas,
usando-se o fundo público com o objetivo de evitar que os efeitos dessa crise
e, depois de 2011/2012, que os efeitos do baixo dinamismo econômico viessem a
ser transferidos para os mais pobres.
O governo
brasileiro, na expectativa de que a crise estabelecesse uma possibilidade de
voltar a crescer como anteriormente, adotou políticas anticíclicas evitando que
os efeitos recaíssem sobre os mais pobres. Mesmo tendo crescido menos, que é o
caso do período de 2011 pra cá, os pobres praticamente não foram atingidos (e
isso é um mérito do Governo Dilma) continuou caindo a taxa de pobreza, os
salários subiram acima da inflação e não houve aumento do desemprego.
Mas a
presidente Dilma se deu conta de que não seria mais suficiente manter essas
políticas de caráter anticíclico por mais tempo porque a crise não vai
viabilizar no curto prazo a retomada do crescimento, e ela tem de trabalhar com
esse dado de realidade. Por isso me agrada a
análise do Professor de Instituto de Economia da UNICAMP no sentido de que “o debate sobre a economia política brasileira
está mal posto”, pois, os analistas estão pressionados e seriam
prisioneiros de uma perspectiva de curto-prazo. Por que? Porque o que se analisa são os dados de um
mês para o outro, por exemplo, se a inflação desse mês é maior ou menor que a
do mês passado ou do mesmo mês do ano anterior, e o mesmo estaria se passando
com a análise da questão dos empregos, dos salários, etc. O curto-prazo é a análise típica do
mercado financeiro, que tem que tomar decisões de curtíssimo prazo, mas, do
ponto de vista do interesse público, dos projetos nacionais a análise não pode
ser essa, tem de considerar aspectos de maior amplitude.
Posta a
questão nesses termos é possível compreender a crise como conjuntural e os
movimentos da atual equipe econômica como táticos, mas sempre com desconfiança,
pois o país não precisa da fracassada estratégia liberal na economia e uma virada neoliberal ameaça frontalmente as conquistas sociais
recentes e o necessário processo de distribuição de renda e a ampliação dos
direitos sociais. Sabemos que sempre que o tal mercado comemora, o peso da austeridade recai sobre os salários, o
emprego, os benefícios sociais e os serviços públicos.
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