A queda dos preços do petróleo e de
outras commodities que se acentuaram a partir de 2014 deve limitar o
crescimento de países que vinham tentando usar seus recursos naturais para
alcançar patamares superiores no desenvolvimento econômico e social.
Essa é a explicação da imprensa
liberal sobre a crise que agora alcança também os países da América Latina e África, que nos últimos dez anos buscaram aproveitar os preços altos das
matérias-primas para melhorar o padrão de vida de sua população de baixa renda.
O fato é que governos como o do
Brasil que procuraram dar saltos de desenvolvimento criando programas de
bem-estar social e tomando iniciativas ambiciosas para geração de emprego,
trabalho e renda através do investimento em obras de infraestrutura como
estradas, rodovias, portos, indústria naval, etc., terão menos dinheiro para
isso.
É o momento em que os críticos do
modelo desenvolvimentista saem das tocas e armados com seu previsível e
recorrente discurso moralista e pela lógica conservadora da meritocracia passam
a criticar o modelo de governança.
Mas o problema é de fato a política desenvolvimentista?
Teria sido melhor a manutenção das políticas liberais?
Penso que o exemplo da Espanha
ilustra o meu ponto de vista sobre as questões acima.
A monarquia ibérica que sucedeu a
ditadura de Franco e que mantém a política
e a lógica neoliberal alcançou a taxa desemprego de 24% no terceiro
trimestre de 2014, conforme noticiou um importante jornal brasileiro especializado
em economia e negócios. Ou seja, praticamente ¼ da população economicamente ativa na Espanha está desempregada, são
quase 6 milhões de pessoas sem trabalho.
Na Espanha não foram aplicadas políticas
desenvolvimentistas e keynesianas, portanto não é possível que o neoliberalismo
seja uma opção, salvo para aqueles que vivem da exploração do trabalho alheio
através dos juros e das rendas.
O fato é que ao compreender o
capitalismo como uma forma de relação social tem-se que aceitar o fato de que
ele [o capitalismo] exige, por sua processualidade interna, a reprodução
ampliada do sistema de produção de valor e temos de ser honestos e concordar
que existe uma consequência lógica inevitável do funcionamento desse modo de
produção. Qual consequência?
Bem, o sistema econômico que chamamos
de capitalismo é fundado na exploração do trabalho assalariado e tem na esfera
da produção e circulação de mercadorias a essência de seu funcionamento, já que
é lá que é produzido o valor,
necessita, diante do fato de que a riqueza de cada indivíduo é parte alíquota
da riqueza global, aumentar incessantemente a quantidade de valor
produzido.
Mas esse aumento incessante é impossível,
por isso ocorrem as crises, porque o sistema contém falhas e contradições
incorrigíveis. As falhas e contradições são incorrigíveis e insuperáveis e o capitalismo
gera suas próprias crises e elas ocorrem de forma cíclica.
Em outras palavras, a sociedade
capitalista tem como contradição inerente o fato de que a capacidade de
reprodução ampliada do capital (objetivo da produção) é obstruída pelo próprio
sistema econômico posto em funcionamento em razão da acumulação desproporcional
de riqueza, da incapacidade de distribuição da riqueza produzida – dentre
outras causas, impedem a produção de mais capital e o sistema tem de
desintegra-se para recomeçar e tudo isso ocorre sem considerar que as pessoas
tem uma vida para viver.
Essa é a causa verdadeira da crise
pela qual o mundo está passando, não o preço das commodities.
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