Meu pai tem uma grande capacidade de sintetizar seus argumentos.
Essa
semana ele conversava com alguns amigos sobre a pertinência de votar em Aécio
Neves... Disse meu pai: “Sendo você um banqueiro, grande industrial
ou rentista é coerente que você vote em Aécio e no PSDB, pois são esses
interesses que eles defendem”. Meu pai está certo, afinal “o
que é, não pode ser e não ser ao mesmo tempo” e quem não é banqueiro,
industrial ou rentista não poderia votar no candidato da atual UDN, salvo em
estado de absoluta insanidade.
Ouvi ele dizer aos amigos que “Marina Silva e o PSB prestaram-se a ‘jogar
o jogo’ dos setores mais conservadores e atrasados desse país, e isso é muito
triste... Arraes deve estar constrangido no céu, ao lado de Jamil Haddad e
Evandro Lins e Silva.”, eu acrescentaria outros socialistas que devem
estar constrangidos e irados com a decisão dos neossocialistas, dentre eles o
próprio Eduardo Campos.
Refleti também sobre quais seriam esses tais “setores conservadores” e conclui que meu pai refere-se aos banqueiros,
industriais e rentistas (cujos compromissos são e estão distantes do interesse
público), os mesmos que no passado "colaram" em Getúlio, JK, João
Goulart o rótulo de "corruptos", para logo depois darem, em nome da
defesa da democracia, golpes na própria democracia, são os mesmos hoje tão simpáticos
à candidatura do PSDB.
Esse é o jogo da elite: a injuria, a desqualificação e o golpe. E essa
gente está a construir um novo GOLPE à democracia.
Como fazem isso?
Estou a falar sobre a questão do “método” que a elite usa para engendrar
seus golpes, ou seja, "MÉTODO" enquanto regras
básicas, passos de como deve ser o procedimento a fim de produzir um certo resultado, para elas chegar
ao poder numa democracia, mesmo não tendo votos.
Bem, quando grupos políticos,
partidos, companhias de diversas áreas e a mídia corporativa unem-se,
inconformados por não ocupar o centro do poder pelos mecanismos habituais do
sistema político democrático (as eleições), seguem um caminho muito tortuoso em
busca do poder, usam o GOLPE em suas várias faces.
Começam por transferir para os tribunais e para a tela da TV
conflitos que são essencialmente ideológicos, ou mesmo meramente policiais, por
meio de denúncias ao Ministério Público (e algumas vezes do próprio MP),
ajuizando ações diversas, criando espetáculo midiático, um verdadeiro “big Brother”.
O GOLPE começa ai, com o espetáculo midiático.
Ocorre a renúncia ao debate e sua substituição por um
monólogo moralista que no passado deu ao país Jânio Quadros e Collor de Mello. É
triste ver partidos e parlamentares renunciando ao debate democrático e
deslocando para o Judiciário e para a mídia conflitos que não são, a priori,
jurídicos ou judiciais, mas sim ideológicos. E é igualmente triste quando vemos
o Ministério Público e órgãos do Poder Judiciário usar sua credibilidade e a credibilidade
da imprensa para obter apoio da opinião pública para afirmação de suas
convicções e teses, mesmo antes da conclusão de suas próprias investigações ou
de uma sentença que a confirme. O que passa a importar é a denúncia em si, não
o resultado final do processo.
E o objetivo dessa tática (transferir tudo para o Judiciário
e usar a imprensa) é, por meio da exposição negativa de seus adversários,
compensar a sua falta de votos. E
pasmem: qualquer que seja o desenlace da judicialização e da midiatização, pois
enfraquecer, ou mesmo liquidar politicamente o adversário é o objetivo, sem
qualquer zelo ético ou orientação democrática. A verdade é irrelevante, o que
importa é desgastar o adversário.
No momento em que isso ocorre, a classe política, ou parte
dela, tende a provocar convulsões sérias no sistema político, porque a renúncia
ao debate democrático e a transformação da luta política em luta judicial e
midiática, tendo como palco os jornais e a TV ao invés da tribuna do parlamento,
enfraquece a Política e a Democracia. Enfraquecer a Política, os políticos e a
democracia é outro passo importante do GOLPE.
Essa judicialização da
política pode conduzir à politização
da Justiça, que consiste num tipo de questionamento da justiça que põe em
causa, não só a sua funcionalidade, como também a sua credibilidade, ao
atribuir-lhe desígnios que violam as regras da separação dos poderes dos órgãos
de soberania.
Ademais, a politização da Justiça coloca o sistema judicial
numa situação de estresse institucional que, dependendo da forma como o gerir,
tanto pode revelar dramaticamente a sua fraqueza, como a sua força.
A midiatização das investigações e das operações do
Ministério Público busca transformar a plácida obscuridade dos processos judiciais
na trepidante ribalta midiática dos dramas judiciais. Esta transformação é
problemática em razão das evidentes diferenças entre a lógica da ação
midiática, dominada por tempos instantâneos, e a lógica do processo judicial,
dominada por tempos processuais lentos.
É certo que tanto a ação judicial como a ação midiática
partilham o gosto pelas dicotomias drásticas entre ganhadores e perdedores.
Mas, enquanto o primeiro exige prolongados procedimentos de contraditório e
provas convincentes, a segunda dispensa tais exigências.
Em face disso, quando o conflito entre o judicial e o
político ocorre na mídia, esta, longe de abranger veículos neutros, é um fator
autônomo e importante do conflito. E, sendo assim, as iniciativas tomadas para
atenuar ou regular o conflito entre o judicial e o político não terão qualquer
eficácia se os meios de comunicação social não forem incluídos no pacto
institucional. É preocupante que tal fato passe despercebido e que, com isso,
se trivialize a lei da selva midiática em curso.
O uso do judiciário e da mídia, o deslocamento desmedido de
questões políticas e policiais para o campo judicial e midiático revela
ausência de espírito democrático de quem age assim e é, em tese, verdadeira
litigância de má-fé e ausência de espírito republicano, é, enfim GOLPE.
E os golpistas de hoje (travestidos de
democratas indignados), assim como seus interlocutores, estão irritados e se
reúnam porque o governo brasileiro distribui renda (como no sistema escandinavo)
a fim de sustentar um ainda tímido, mas necessário, “welfare state”, como fez Lula e faz Dilma com o Bolsa-Família. É
contra políticas públicas como essas reúnem-se bacharéis e banqueiros,
políticos, as empresas de comunicação, alguns jornalistas e inocentes úteis.
Não é sem proposito lembrar o apego que a elite tem pelo poder político
e econômico...
A História do Brasil nos dá exemplos. Antes de partir para
Portugal o Rei D. João VI teria dito a seu filho que tomasse ele a coroa “antes que algum aventureiro lance mão”
repetiu-se isso irrefletidamente como algo positivo ao longo do tempo, desde os
bancos escolares. Mas quem eram os aventureiros? Os aventureiros éramos nós, o
povo brasileiro. A gente como Tiradentes, Simon Bolívar, Artigas, Sucre, San
Martin O´Higgins a quem referiu-se D.
João VI. Tiradentes e Simon Bolívar foram heróis que lideraram revoluções de
independência nos seus países, expulsando os colonizadores em processos
articulados dos países da região. Por conta dessa decisão da elite tivemos dois
monarcas descendentes da família imperial portuguesas, ao invés de uma
República, perdemos décadas de avanço institucional e atrasou-se a construção
de um Estado Nacional independente, republicano, os nossos colonizadores não
foram expulsos, mantiveram-se “pessoas de bem” e influenciam até hoje o país.
Talvez esse tenha sido o primeiro pacto de elite da nossa história, no qual as
elites mudaram a forma da dominação, para imprimir continuidade a ela, sob
outra forma política. Naquele 1822 a monarquia ganhou quase sete décadas de
sobrevida.
Ai vem o segundo pacto da elite: a República foi proclamada como um
golpe militar, que a população assistiu “bestializada”, segundo um cronista da
época, sem entender do que se tratava – o segundo grande pacto de elite, que
marginalizou o povo das grandes transformações históricas. Sempre o povo a
atrapalhar as “pessoas de bem”.
Outros pactos se seguiram a esses dois (a História está ai para ser
conhecida e compreendida, vou escrever sobre eles um dia) e todos eles buscaram
atender os interesses da elite nacional. Uma elite conservadora, preconceituosa
e sem qualquer compromisso além da manutenção de seus privilégios, verdadeiros
vassalos dos interesses estrangeiros.
Estamos vivendo mais um pacto da elite que busca, com o diligente
concurso de parcela da mídia (que através da GLOBONEWS, da TV VEJA faz 24 horas por dia de propaganda contra o governo de esquerda), desqualificar o governo de esquerda, suas
realizações e conquistas e criminalizá-lo. Reduzindo 12 anos de enormes conquistas
a fatos e atos que estão sendo apurados de forma exemplar pela Policia Federal
e pelo Ministério Público.
Mas voltemos a 1955…
JK candidatou-se para suceder Vargas, e elegeu-se
em três de outubro de 1955 e a empossou–se em 31 de janeiro do ano seguinte,
mas JK teve de lidar com o ódio que a UDN – União Democrática Nacional
endereçara a Vargas (UDN que, assim como o PSDB de hoje, representava
interesses distantes dos nacionais e populares). A UDN constituía-se do velho
resíduo do bacharelismo nacional, de origem oligárquica, que perdera sua
posição hegemônica na sociedade, a partir da Revolução de 30, mais ou menos
como o PSDB hoje.
Juscelino, médico, que fora um simples telegrafista e oficial da
Força Pública de Minas, que provinha da “low middle class”, filho de uma
professora e de um caixeiro-viajante morto aos 33 anos (que não pertencia, pela
atividade, nem pela formação, ao setor da sociedade tradicionalmente ligado à
velha aristocracia remanescente do Império, que a UDN representava e o PSDB é
herdeiro legitimo) teve a ousadia de vencer as eleições.
Tivemos o metalúrgico e sindicalista que com mais evidência não
pertence à classe representada por esse grupo, assim como a “terrorista”.
Após a vitória de JK teve início uma campanha para “colar” em Juscelino
o rótulo de corrupto, como fizeram com Getúlio e depois com João Goulart, e
agora no primeiro governo de esquerda do país. Não sou eu a dizer, é a
História.
O “corrupto” Juscelino sofreu todas as perseguições conhecidas. Foi
humilhado por interrogatório movido por oficiais inferiores.
Reproduziu-se com JK, o que pretenderam os golpistas contra Getúlio, ao
instaurar Inquérito Policial Militar em uma dependência da Força Aérea: a fim
de o interrogar, julgar e condenar o Presidente – também sob o pretexto da
corrupção – com o aplauso da UDN.
Pretendem fazer o mesmo com Lula,
Dilma e com o PT.
É nesse contexto [do
GOLPE, ínsito à elite nacional] que devem ser compreendidos esses fatos todos,
inclusive, a AP 470 que tramitou no STF, assim como a incansável campanha da imprensa
conservadora contra o governo de esquerda.
Comentários
Postar um comentário