O projeto
desenvolvimentista sofreu importante revés em razão da crise da dívida externa
no início da década de 1980, por conta disso o Brasil internalizou gradualmente
o modelo neoliberal.
Os novos
liberais, ou neoliberais, afirmavam entendimento de que o Estado deveria
retirar-se das atividades econômicas, as quais seriam destinadas exclusivamente
ao Mercado, e levou à formulação de diversas profecias não realizadas com o
passar dos anos.
Pelo lado
internacional, constatou-se que a inserção passiva e subordinada gerou grande
fragilidade externa. A cada instabilidade externa produzia internamente a
interrupção da expansão produtiva e enormes conseqüências sociais negativas.
Mas os dias
de hegemonia neoliberal acabaram.
Podemos
afirmar isso, pois há uma aceleração da transição nas relações de poder no
mundo, com o prolongamento da crise sistêmica da economia mundial. Crise é a marca destacada na evolução da
situação internacional.
Há também uma
nova correlação de forças em formação. O mundo está passando por importantes
transformações com o surgimento de novos pólos geopolíticos. O contorno dessa
transição pode vir a ser a tendência à multipolarização, mas isso ainda é uma
possibilidade, não uma certeza. Entretanto, ganha ritmo o declínio relativo e
progressivo da hegemonia dos Estados Unidos, em relação à rápida ascensão da
China e ao desenvolvimento econômico e protagonismo político crescente dos
BRICS (China, Rússia, Índia, Brasil e África do Sul), apesar da propaganda
contrária esse é o fato.
Nesse
contexto, vale a pena lembrar quem em 1986 o filme “O declínio do império
americano”, do canadense Denys Arcand e a
seqüência de 2003 “As invasões bárbaras”
profetizaram o fim da hegemonia americana, apesar da limitação do diretor em
compreender a juventude atual e sua importância libertadora.
Bem, voltemos ao tema. Sabe-se que problemas sociais e econômicos não podem ser considerados
separadamente, aquela lógica de “primeiro fazer o bolo crescer, para depois
reparti-lo” impôs a parcelas enormes da população uma condição de
miserabilidade desnecessária, considerando-se a riqueza produzida no país, e
concentrou por muitas décadas a riqueza na mão de poucos. Os 50% mais pobres da população respondem por apenas 1% da riqueza do
planeta, aponta órgão ligado às Nações Unidas, quase um terço do patrimônio dos
10% mais ricos está nos EUA. A renda pessoal está distribuída de maneira tão
desigual no mundo que os 2% mais ricos da população adulta detêm mais de 50%
dos ativos mundiais, enquanto os 50% de pessoas mais pobres detêm apenas 1% da
riqueza do planeta. Essas são as conclusões de um estudo da Universidade
Federal de Campina Grande.
Esse é o grande desafio dos
governos.
Gerar e distribuir riqueza com justiça social,
respeitando as
expectativas do mercado,
pois essa é a realidade.
Não é novidade que o
desenvolvimento econômico influencia o desenvolvimento social de um país,
embora o desenvolvimento econômico seja uma condição necessária, mas não
suficiente para o desenvolvimento social. Apenas por si, a economia de mercado
não consegue resolver todos esses problemas. Para se compatibilizar a
democracia e a justiça social com a competitividade, é necessário um estado
forte e que intervenha de forma seletiva. Isto é o que determina a economia
social de mercado, esse é um ponto delicado do argumento, pois as paixões
afloram... Temos, de um lado, o liberalismo e, de outro, o socialismo.
Um pessoal do Rio de
Janeiro, gente de respeito como João Sicsú,
Luiz Fernando de Paula, Renaut Michel apresenta os termos novo-desenvolvimentismo e neo-estruturalismo,
retomando a idéia da necessidade de um desenvolvimento endógeno, mas não deixam
de lado a necessidade do livre comércio para alcançar competitividade
internacional e, assim, um crescimento sustentado. Da mesma forma que a
economia social de mercado, o novo-desenvolvimentismo é um caminho do meio
entre dois extremos, este entre o livre comércio incondicional e o
protecionismo econômico, aquele entre o liberalismo e o socialismo. Há um bom
livro que trata disso “Novo-desenvolvimentismo” que pretende ser uma contribuição à
discussão brasileira na questão das reformas econômicas e sociais necessárias
ao país e, dessa forma, representa uma grande variedade de posições, idéias e
ideais. Está lançado o debate sobre caminhos novos para estimular o crescimento
econômico e erradicar a pobreza simultaneamente.
Acredito que nos últimos anos o Brasil
passou a acusar importantes sinais de início da transição da macroeconomia da financeirização da riqueza
para o modelo do social-desenvolvimentismo,
que difere um pouco do novo-desenvolvimentismo do pessoal do Rio de Janeiro,
mas não vou tratar disso aqui.
O Estado passou a fazer parte
das soluções dos problemas existentes, sem implicar a simples reprodução dos
traços marcantes do velho modelo nacional desenvolvimentista que vigia durante
as décadas de 1930 e 1970.
De um lado, pela reafirmação
da soberania nacional frente à profunda revisão da inserção internacional do
Brasil, com a passagem da condição de devedor para a de credor de organismos
multilaterais como o Fundo Monetário Internacional, bem como a formação de
significativas reservas externas e o redirecionamento do comércio externo e da
cooperação técnica para o âmbito Sul-Sul. Assim, as crises externas deixaram de
expor a sociedade brasileira às mesmas dificuldades observadas durante a
vigência do modelo neoliberal. De outro, os compromissos firmados com o avanço
do sistema produtivo permitiram a expansão média anual de 4,2%, bem como a
queda da despesa pública com a financeirização da riqueza para quase 2 pontos
percentuais a menos do que o modelo neoliberal.
Com isso, tornou-se possível
a ampliação do gasto social para 23% do PIB (quase 4 pontos percentuais a mais
do que nos anos 90) com o atendimento de mais de 1/3 da população brasileira com
mecanismos de garantia mensal de renda.
O resultado final decorrente
da elevação do crescimento econômico, combinada com a ampliação do gasto
social, se mostrou evidente, com a queda na taxa de pobreza para menos de 1/3
da população e a desigualdade de renda do trabalho se aproximando de 0,50
(Gini). Ao mesmo tempo, percebe-se que a recente volta da mobilidade social que
incluiu ao padrão básico de consumo uma verdadeira massa de milhões de
brasileiros e transforma a figura de pirâmide em barril social aponta para um
novo e ainda incompleto modelo social-desenvolvimentista.
Se este modelo for mantido e
aprofundado, os próximos anos poderão indicar a sua maior eficácia e
efetividade no Brasil, mas e se voltarmos ao modelo anterior? Bem, sugiro uma
análise nos números dos EUA, Grécia, Espanha, Portugal, França, Irlanda,
Inglaterra. A resposta está por lá.
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