O
Povo tomou as ruas, o fenômeno não é inédito, pois surgiu inicialmente no norte
da África em 2011, em países como a Tunísia e na Líbia, que ficou conhecido
como a “Primavera Árabe”.
De modo impressionante, tais manifestações populares se
alastraram para a Europa, com protestos, ocupações e greves na Espanha e na
Grécia, revoltas em Londres e mobilizações também nos Estados Unidos.
Os manifestantes, ao tomarem Wall Street, onde se localiza
a Bolsa de Valores de Nova York, um ícone do sistema capitalista, batizaram o
movimento como “Occupy Wall Street”. Meus filhos estavam nas ruas, estou
profundamente orgulhoso da atitude deles e de todos que estavam lá.
Participei intensamente do movimento pela redemocratização
desde 1980, do movimento das “Diretas Já” em 1984 e do impeachment de Collor em
92 e acredito desde então que o centro de gravidade do desenvolvimento social e
humano não está propriamente nas estruturas, instituições e Poderes, mas na
sociedade mesma, afinal é a sociedade que os cria, legitima ou transforma.
Evidentemente o movimento contém tendências contraditórias na grande onda de
movimentações populares e legitimas em todo o país.
É preciso refletir
sobre essas contradições. O movimento popular tem na experiência atual um
manancial de ensinamentos para orientar-se corretamente e resguardar-se de
atuar como massa de manobra da direita golpista. Direita Golpista? Sim ela está
presente e o programa eleitoral do PPS do dia 20 de junho tem no golpismo sua
inspiração, o mesmo PPS que ao lado do PSDB e do DEM fazem oposição ao
social-desenvolvimentismo e às políticas públicas de distribuição de renda,
dentre outras. E não se pode negar, e quem esteve nas ruas é testemunha, que às
manifestações foram infiltrados provocadores que realizaram atos violentos e
assumiram bandeiras políticas conservadoras. A transformação da luta
democrática e social em um cenário de caos e desordem só favorece as forças da
direita golpista, só favorece aqueles que não acreditam na democracia e na sua
evolução.
Há na sociedade uma tensão continua entre a ação humana e
as estruturas sociais, pois na primeira a diversidade se contrapõe a unidade da
segunda.
As estruturas e instituições, os Poderes, as associações,
os sindicatos, as ONGs são artefatos humanos, tem por função harmonizar a
tensão entre ação humana e estruturas sociais, assim como compatibilizar
diversidade e unidade e colaborar com o desenvolvimento social e econômico.
A ocupação das ruas pelo povo em todo Brasil alertou as
estruturas e instituições, os Poderes, que a representação legitima deles está
em “xeque” e quando não há reconhecimento da representação a mudança é
fundamental.
Tanto
isso é verdade que podemos afirmar que as estruturas e instituições
transformam-se continuamente. Daí
a importância das reformas, especialmente da “Reforma Política” e da “Reforma
Tributária”, mas sempre no viés social-desenvolvimentista e fundamentalmente
democrático e pluralista.
As transformações ocorrem ou através de rupturas
institucionais ou pelas reformas. E os jovens (e “os jovens há mais tempo”) que
saíram às ruas nos deram uma lição de cidadania e de liberdade genuína, por
isso o Brasil amanheceu mais forte.
O que não podemos aceitar é a “despolitização” do
movimento, assim como um caráter “apartidário”. O movimento é político e suprapartidário.
Quem defende seu “apartidarismo” flerta com o golpe.
Penso que as manifestações no Brasil
são diferentes da espanhola, grega, etc. Aqui as pessoas protestam não pelo que
lhes "foi tirado", mas pelo que "ainda não receberam" e
apesar de o país haver melhorado nestes últimos 20 anos há muito o que fazer
ainda.
E agora?
Bem, o movimento deve organizar-se e exigir serviços
públicos melhores, uma maior atenção e responsabilidade da classe política e da
classe empresarial às necessidades e interesses dos cidadãos, sob pena
de mais coisas acontecerem, o movimento deve politizar-se e afastar-se daqueles
que estão de olho nas próximas eleições apenas.
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