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Habemus Papam e uma Igreja Católica está em crise.


O Papa Francisco é eleito e recebe uma igreja em crise. Ele próprio é acusado de haver colaborado com a ditadura argentina. Bem, a inegável crise da Igreja Católica Apostólica Romana decorre do fato dela não haver encontrado o seu lugar no mundo moderno e  no mundo globalizado.
As estruturas da Igreja Católica são medievais, essa não é apenas a minha opinião, mas de Leonardo Boff e de Francisco Isolino de Siqueira, com quem conversamos meu primo Mauro Calais Siqueira e eu alguns meses antes de seu falecimento. A Igreja é uma monarquia, e o que é pior, uma monarquia absolutista, que concentra o poder em pouquíssimas mãos. Nesse sentido ela está em contradição com o sonho originário de Jesus que foi o de criar uma comunidade fraterna de iguais e sem nenhuma discriminação.
E a Igreja Católica pode (e deve) se modernizar sem perder a essência de seus princípios e, consequentemente, sua identidade, basta libertar-se do Direito Canônico anacrônico, o qual foi escrito, também segundo Boff “para legitimar desigualdades e conservadorismos”. Todas as pessoas têm direito de receber a mensagem de Jesus na linguagem de nossa cultura moderna, coisa que a Igreja não faz. Ela coloca sob suspeita e até persegue quem tenta fazer, vide o que fizeram João Paulo II e Bento XVI com os Teólogos da Libertação.
Um bom começo para o Papa Francisco seria subscrever a Carta dos Direitos Humanos da ONU, o que a Igreja Católica ainda não fez, sob o pretexto de que ela não faz nenhuma referência a Deus. Bem como apoiar a Unicef, independentemente do fato da Unicef aconselhar o uso de preservativos para combater a Aids e fazer o planejamento familiar. Sem esses movimentos não será, para mim possível levar a sério também esse Papa.

A Igreja Catolica que eu desejo estimulará a ordenação de mulheres, pois as mulheres, nos evangelhos, nunca traíram Jesus, como fez Pedro, foram as primeiras testemunhas do fato maior para a fé cristã, que é a ressurreição, e também foram discípulas, isso tem de significar algo. A Igreja dos meus sonhos vai debater o casamento dos padres.
A Igreja que eu desejo deve enfrentar o debate sobre pedofilia e celibato, pois entre a pedofilia e o celibato há um denominador comum que é a ­sexualidade. A educação sexual que os candidatos ao sacerdócio é inadequada e falseada, pois é feita longe do contato com as mulheres. Sabe-se que o homem amadurece sob o olhar da mulher e vice-versa. Quando se tolhe um desses polos da equação, pode surgir o recalque, a sublimação e as eventuais distorções. A pedofilia é uma distorção de uma educação sexual mal realizada. Ademais, a pedofilia é um pecado e um delito. O pecado pode ser perdoado, mas o delito tem de ser punido. Esse é o ponto.
A Igreja Católica que eu desejo respeita os muçulmanos, os judeus, as mulheres, os homossexuais e todas as religiões do mundo. A Igreja de Francisco de Assis jamais baniria os teólogos da libertação.
A minha Igreja Católica é a Igreja de João XXIII, é dom Helder Câmara, é a Irmã Dulce, a Irmã Doroty Stang, é dom Pedro Casaldáliga, a de Leonardo Boff e tantos e tantas.

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