A
Venezuela vive um clima de angustia em relação às reais condições de saúde do
Presidente Hugo Chaves, o qual não podendo tomar posse e fazer o juramento, na
forma prevista na constituição daquele país, mediante juramento perante o
congresso nacional teve validada sua posse pelo Tribunal Supremo de Justiça, o
qual deu uma interpretação bastante elástica ao artigo 231 da Constituição
Venezuelana, considerando que em caso de reeleição a formalidade não é
fundamental.
O
artigo 231 prevê que “El candidato elegido o candidata elegida tomará posesión del
cargo de Presidente o Presidenta de la República el diez de enero del primer
año de su período constitucional, mediante juramento ante la Asamblea Nacional.
Si por cualquier motivo sobrevenido el Presidente o Presidenta de la República
no pudiese tomar posesión ante la Asamblea Nacional, lo hará ante el Tribunal
Supremo de Justicia.”, considero
bastante polêmica a decisão Tribunal Supremo de Justiça, mas ela tem caráter democrático.
Sem um pronunciamento
do Poder Judiciário haveria uma situação de incerteza institucional, o que
seria grave. E a decisão do Judiciário respeitou regras da democracia representativa
e dá ao país vizinho tranquilidade e equilíbrio institucionais necessários.
Essa decisão, contudo, não se sustentará se o afastamento do presidente se
prolongar por muito tempo.
Não concordo com
aqueles que chamam a decisão de "contorcionismo
constitucional", o que configuraria um atentado ao Estado democrático
de Direito, pois há centenas de milhares de venezuelanos nas ruas de Caracas a
legitimar a decisão do Tribunal Supremo de Justiça. Ademais, é possível que o
tribunal tenha informações seguras de que o presidente venezuelano vai
recuperar-se, em sendo assim seria um verdadeiro golpe institucional uma decisão
diferente da que foi tomada pelo Tribunal Supremo de Justiça, pois se a
democracia não concebe que o detentor do poder não seja eleito, igualmente não
tolera açodamento nesses momentos.
Acredito,
contudo, que se o afastamento de Chaves prolongar-se muito a decisão não se
sustentará e o Presidente da Assembleia deverá assumir o poder e convocar
eleições dentro do prazo constitucionalmente previsto.
Simpatizo com a posição do cineasta Oliver Stone que voltou a
criticar a posição dos EUA face à Venezuela nos últimos anos, em
particular o ter feito do país sul-americano "um inimigo
regional", ao mesmo tempo em que os meios de comunicação social
norte-americano tenham "ignorado a revolução social" na América
Latina. Nem a Venezuela, nem Hugo Chaves são inimigos regionais, isso
é uma bobagem meramente ideológica a qual os cacarejantes alienados repetem irrefletidamente.
O fato é que o controvertido (e as vezes caricato) Hugo
Chaves realizou avanços sociais significativos na Venezuela. Há estudos que dão
conta que o desenvolvimento
econômico e social da Venezuela entre 1999 e 2008, desde o início do governo
Chávez, é significativo.
Através da análise de
indicadores econômicos e sociais vê-se que o crescimento econômico venezuelano
ocorreu com aumento dos gastos públicos, que passaram de 23,7% do PIB em 1998,
para 31% em 2006.
Nesse período, os gastos
sociais subiram de 8,2% do PIB, para 13,6%. Entre os programas do governo, o
destaque são as missões sociais,
espécie de cooperativas de trabalho, e os programas específicos de crescimento
econômico.
Na análise da política
petrolífera destacam-se a Lei dos Hidrocarbonetos e as ações da estatal PDVSA.
Essas políticas e a elevação do preço do petróleo contribuíram para o
crescimento econômico acelerado a partir de 2003, com redução do desemprego de
19,2% em 2003, para 9,3% em 2007.
O IDH subiu de 0,75 em 2000
para 0,88 em 2006. O coeficiente de Gini caiu de 0,486 em 1998 para 0,424 em
2007; no mesmo período, os 20% mais pobres da população aumentaram sua
participação na renda de 4,1% para 5,1%; o índice de pobreza extrema caiu de
24,7% da população total, para 9,4% e o número de indigentes se reduziu de 4,5
milhões, para 2,6 milhões.
Contudo, “não são apenas flores”, pois a redução das receitas petrolíferas e
a fuga de capitais, decorrentes da crise econômica surgida a partir de 2008,
trouxeram restrições à manutenção das políticas de desenvolvimento do governo
Chávez; porém o controle de câmbio vem permitindo a manutenção dos principais
programas sociais, com a redução do crescimento econômico de 5,6% em 2008, para
apenas 0,3% no primeiro trimestre de 2009, ano em que o PIB sofreu uma queda.
De toda sorte a Venezuela é
maior que Hugo Chaves, sobreviverá a ele e a democracia na América Latina é uma
conquista de seus povos, não das elites. Essas elites, hoje tão ciosas por
democracia, ao longo da História sempre estiveram ao lado dos golpes, dos
golpistas e das ditaduras.
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