Tenho
lido que o receituário que prega corte de gastos governamentais e aumento de
impostos para reduzir o déficit público de países como a Espanha, Itália e
Grécia terão apenas como resultado o prolongamento da recessão na Europa. Esse
diagnóstico, em estando correto, é um golpe e uma derrota à lógica neoliberal.
As
políticas de austeridade pregam que cortes nos gastos do governo e aumento de
impostos podem levar à recuperação da economia ao aumentar a confiança das
pessoas no futuro do país. Contudo essa lógica parece estar equivocada, pois as
evidências mostram justamente o contrário, pois o que se vê é que quando se
corta gastos do governo e se aumentam impostos, na verdade o que ocorre é uma
queda na confiança e um atraso na recuperação, fato que torna ainda mais difícil
a redução do déficit.
Outra
evidência é que essa política neoliberal em essência causa aumento do
desemprego. Ora, sacrificar o emprego e a vida das pessoas é uma estultice. O
desemprego na zona do Euro já atingiu níveis recordes... A Espanha em abril de
2012 apresentava 24,4% de desemprego em abril. A Grécia 21,7 (dados de janeiro)
e Portugal 15,3% em março. Mais grave é o desemprego na Espanha que afeta 51,1%
entre os jovens menores de 25 anos. Esses dados contrastam com o desempenho de
países como Áustria (4%), Holanda (5%) e Alemanha (6,8%) e mesmo dos EUA (8,2%)
que mantém os gastos do governo como
instrumento macroeconômico que compõe a formula geradora de atividade econômica
e renda.
E
há outro aspecto que merece reflexão. Paul Krugman e Richard Layard afirmam
ainda que a origem da crise atual é o alto endividamento do setor privado e não
do setor público. Isso mesmo. Esses economistas de peso afirma que a crise na
Europa não foi causada por orçamentos públicos irresponsáveis, como a maioria
dos analistas afirmam. Eles defendem que até 2008 a maioria dos países tinham
orçamentos responsáveis, especialmente países como Espanha e Itália. A verdade
da origem da crise estaria na irresponsável concessão e tomada de empréstimos
privados, os quais provocaram o colapso bancário e este à recessão, causadora
do déficit público. Afirmam que ele [o déficit público] é consequência e não
causa da crise.
O
endividamento do setor privado teria sido causado pela falta de regulação e por
praticas bancárias irresponsáveis. Os bancos assumiram riscos injustificáveis e
o fizeram de má-fé, pois sabiam que os governos socorreriam o setor financeiro.
As
constatações de que o mercado precisa de regulação firme, de que o gasto
público não é pecado e que a política irracional de austeridade econômica é destrutiva
pode ser um passo importante para a implantação em todo mundo de políticas de
viés social-desenvolvimentista.
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