“O brasileiro é um narciso às avessas, que cospe na própria
imagem. Eis a verdade: não encontramos pretextos pessoais ou históricos para a
auto-estima”.
Recebemos
alguns amigos em casa recentemente e um dos assuntos tratados foi a realização
da Copa do Mundo e das Olimpíadas. Lá pelas tantas um deles afirmou que será “um erro realizar uma Copa do Mundo e Olimpíadas
nesse país”. Chegou a afirmar: “vamos
passar vergonha”.
Não concordo
com essa visão, acho uma visão provinciana, própria da elite colonizada. Acredito
que a elite (e aqueles que flertam com ela ou é pautado pela sua lógica) tem certo
prazer em manter a auto-estima nacional bem baixa.
Mas não há
nenhuma razão para mantermos ou alimentarmos esse tipo de sentimento ou
replicarmos essa falsa certeza da nossa inferioridade. Afinal há cinquenta ou
há cem anos nossa auto-estima era menor do que hoje; há duzentos anos, nem nos
imaginávamos como nação; há 23 anos nem elegíamos nosso presidente, nem éramos uma
democracia de verdade. E hoje tudo está bem diferente, mas apesar disso alguns setores
da sociedade seguem na sua “missão” de
esgarçar, ao invés de se afirmar aspectos
positivos.
O maior nível de desenvolvimento econômico
poderia ser um ponto a ser ressaltado, mas como afirma o Professor Bresser
Pereira[1]
a auto-estima de um povo não depende apenas do seu nível de desenvolvimento
econômico e cultural, depende também da visão mais ou menos positiva que esse
povo tenha do futuro (talvez seja nesse perspectiva que a Presidenta Dilma
tenha afirmado recentemente que não se mede um país apenas pelo seu PIB).
O fato é que
nestes últimos cinquenta anos houve progresso no Brasil, elevou-se o nível do
desenvolvimento do país, e em função disto nossa auto-estima deveria ter aumentado,
mas não aumentou. Por quê? Há quem afirme que as causas desse complexo de
inferioridade estão no próprio subdesenvolvimento brasileiro, no nível de renda
per capita baixo comparativamente aos países ricos, na brutal desigualdade
entre as classes, no nosso caráter mestiço, apesar do grito forte de Gilberto
Freyre e Darcy Ribeiro (que viram na miscigenação a força fundamental da nossa nacionalidade,
ao invés de sua fraqueza) e, por ultimo, mas não menos importante, no caráter
alienado de nossa cultura.
Uma
manifestação da baixa auto-estima do brasileiro estaria na sua preocupação pela
forma como nos veem lá fora, especialmente nos países desenvolvidos. Há sempre
a queixa que sabem pouco sobre o Brasil, que confundem o Brasil com a Argentina,
que não sabem que no Brasil se fala o português, e que, quando sabem, apenas lembram-se
do futebol e do carnaval. Ora, esse tipo de preocupação faz pouco sentido. O
que interessa não é como nos veem, mas o que somos e o que fazemos. E o Brasil
é um país magnífico e somos um povo fantástico, honesto, trabalhador, feliz, solidário,
generoso, essa é a verdade.
A baixa
auto-estima do brasileiro traduz-se politicamente no complexo de inferioridade
colonial, mas isso tem de acabar esse complexo de vira-lata vai acabar, se em 1950 “O brasileiro é [era] um narciso às avessas, que cospe na própria
imagem. Eis a verdade: não encontramos pretextos pessoais ou históricos para a
auto-estima”, como dizia
Nelson Rodrigues e se “por complexo de vira-lata entendo eu a inferioridade em que o
brasileiro se coloca, voluntariamente, em face do resto do mundo” esses dias
acabaram e a realização Copa do Mundo e das Olimpíadas irá ajudar a sepultar
esse Complexo de vira-lata e a perversa lógica das elites.
E àqueles que não acreditam nisso recomendo que leiam:
"Olimpíada não é para vira-lata" http://www.valor.com.br/cultura/2715370/olimpiada-nao-e-para-vira-lata
[1] IDENTIDADE E AUTO-ESTIMA DO BRASILEIRO, de Luiz Carlos
Bresser-Pereira, in http://bresserpereira.org.br/papers/2000/63IdentidadAutoEstimaBras.pdf
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