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"Você acredita na inocencia de Zé Dirceu?"



Sim. Acredito. Acredito e desejo.
Essa pergunta me foi feita por um colega advogado, um pouco mais velho e experiente que eu, a quem respeito e admiro pela cortesia e urbanidade no trato com todos os demais colegas de profissão, serventuários e quero crer no trato com juízes e promotores.
A principio respondi que desejo que Zé Dirceu seja inocente. Contudo, depois de ter contato com o conjunto das acusações e provas encartadas aos autos do processo e em razão dos fatos novos que revelaram que o “mensalão” é criação artificial do DEM, com ajuda de bandidos (os quais tinham livre acesso a Senadores, Deputados e Governadores) e depois vendido, sob encomenda ou não, à imprensa militante e representante dos setores mais conservadores do país, posso responder que acredito que Zé Dirceu seja inocente.
Por quê?
Porque Zé Dirceu é um dos heróis da geração de 68 e os heróis lideram. O jovem Zé Dirceu é herói porque estava disposto, na luta pela democracia e por seus ideais, a dar a vida aos seus irmãos, herói porque renunciou a tanto e nada buscou para si próprio, herói porque os jovens de sua geração eram mais que justos, eram generosos.
O “Herói” é uma figura arquetípica que reúne em si os atributos necessários para superar de forma excepcional um determinado problema de dimensão épica. Para os Gregos, o herói situa-se na posição intermédia entre os deuses e os homens, sendo, em geral filho de um deus e uma mortal (Hércules, Perseu), ou vice-versa (Aquiles). Portanto, o herói tem dimensão semi-divina.
Se o povo brasileiro elegeu e reelegeu Lula, um migrante, operário e sem curso superior como presidente o fez para dizer ao mundo: “sim, nós [o povo] podemos”.
E se depois elegeu uma mulher que renunciou ao conforto de sua vida de classe média alta da então conservadora Belo Horizonte dos anos 60 e entregou-se à luta contra a ditadura militar para calar as elites decadentes e resistentes ao  novo e ao povo, o fez para elevar ao patamar de heróis os jovens da geração de Zé Dirceu, que foi preso, torturado, exilado compulsoriamente por ser um líder estudantil, por defender a liberdade de pensamento e de expressão.
O povo brasileiro, sábio, devolveu a toda uma geração seu lugar na História, um lugar que se lhe havia sido arrancado pelos maus militares e pelas elites colonizadas e não podem os herdeiros dessas mesmas elites, que inventaram, midiatizaram e espetacularizaram o mensalão, pressionar o STF para que ocorra um linchamento. Se Zé Dirceu for julgado com isenção ele será absolvido porque é inocente.
O poeta campineiro Guilherme de Almeida disse certa feira “deixei de ser eu para ser nós”, e Lula e Dilma não representam apenas o que parecem representar, representam a nação que o povo brasileiro quer ver forjada, uma nação que transcende a si mesma, que transcende a sua condição humana e finita e que é capaz apresentar facetas e virtudes que o homem comum não consegue, mas gostaria de atingir: fé, coragem, força de vontade, determinação, paciência, justiça, lealdade, amor, afeto, amizade, etc., uma nação heroica.
Uma nação de heróis guiados por ideais nobres e altruístas, como liberdade, fraternidade, sacrifício, coragem, justiça, generosidade, moral e pacifismo choca os desavisados, os alienados e os conservadores. Por isso desejo que Zé Dirceu seja absolvido.
E porque ele é progressista, democrata e de esquerda. Zé Dirceu representa esse Brasil, representa aqueles que são, em primeiro lugar, os governos, as forças políticas e as instituições que lutam pela construção de um mundo multipolar, que enfraqueça a hegemonia imperial hoje dominante, que busque a resolução dos conflitos de forma política, negociada e pacifica, contemplando a todas as partes em conflito, ao invés da imposição da força e da guerra. Para isso é necessário obedecer à constituição federal e fortalecer os processos de integração regional a partir da América Latina, priorizar o intercâmbio entre os países da região e os intercâmbios entre o Sul do mundo, em contraposição aos Tratados de Livre de Comércio com os Estados Unidos.
José Dirceu de Oliveira e Silva defende o fortalecimento do MERCOSUL, da Unasul, do Banco do Sul, do Conselho Sul-americano de Defesa, a Alba, a Celac, entre outras iniciativas que privilegia o intercambio regional; ele acredita e prioriza o comércio com os países do Sul do mundo e as organizações que os agrupam, como os Brics, entre outras. Zé Dirceu é representante de um sonho, o sonho de no mundo haverem majoritariamente governos que afirmam políticas externas soberanas e não de subordinação aos interesses e orientações dos Estados Unidos.
Impor a Zé Dirceu o rótulo de um crime que ele não cometeu é tentar calar o representante daqueles que colocam o acento fundamental na expansão dos mercados internos de consumo popular, na extensão e fortalecimento das políticas que garantem os direitos sociais da população, que elevam continuamente o poder aquisitivo dos salários e os empregos formais, ao invés da ênfase nos ajustes fiscais, impostos pelo FMI, pelo Banco Mundial e pela OMC e aceitos pelos governos de direita.
Além disso, as forças progressistas que Zé Dirceu representa se caracterizam pelo resgate do papel do Estado como indutor do crescimento econômico, deslocando as políticas de Estado mínimo e de centralidade do mercado, e como garantia dos direitos sociais da população.
Por isso tudo desejo que ele seja inocente e seja absolvido.

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