Interessante como algumas discussões despertam paixões e,
como diz um personagem do filme Matrix, “a
paixão e a insanidade tem a mesma freqüência”.
Mas o trágico mesmo é ver um Ministro do STF portar-se como
um golden-boy da neo-UDN, sucessora da ARENA e contraparente de golpistas,
torturadores e simpatizantes dos Atos Institucionais. Ou seria um miliciano da
neo-UDN?
Não estou a afirmar que o Ministro Gilmar é golpista ou
simpatizante da Ditadura, mas há quem já tenha afirmado nas páginas da própria
FOLHA que caso Gilmar Mendes se tornasse ministro do STF não haveria exagero em imaginar
que a nação estaria a correr sério risco a proteção dos direitos no Brasil, o
combate à corrupção e a própria normalidade constitucional.
Bem, o ex-presidente Lula encontrou-se com Gilmar Mendes, a
pedido do próprio Gilmar no dia 26 de abril, por que o constrangido Ministro
Gilmar demorou um mês para falar sobre o assunto? Por que não procurou
imediatamente as instituições republicanas? Volto a esse ponto mais a frente.
Sejamos razoáveis... Lula lutou pela democracia e pelas
liberdades, por isso acredito que não é razoável imaginar que ele fosse capaz
de um gesto, uma ação ou uma palavra que não fosse de natureza republicana.
O Ministro Marco Aurélio foi lúcido quando afirmou que “É
"legítimo" e "normal" que o ex-presidente Lula manifeste
opinião sobre a data que considera mais conveniente para o julgamento do
mensalão,...”, por isso qualquer afirmação, além ou aquém, dessa do
Ministro Marco Aurélio está contida num projeto estratégico que contém a Judicialização da Política, a politização do Poder Judiciário e a Midiatização da Política, dentre outras
ações táticas reprováveis que geram confusão e nada esclarecem.
Meu avô Pedro dizia “tudo
que é demais não é bom”. E o Ministro Gilmar Mendes, figura controvertida
faz décadas, passou do ponto. Ele é um dos responsáveis pela politização da
justiça, no sentido mais negativo
possível, suas declarações pretéritas e presentes reduzem a importância do STF
e do Poder Judiciário.
O Sociólogo Português Boaventura Santos, ensina que esse tipo
de militância pode comprometer significativamente a harmonia entre os Poderes e
a própria democracia e o quadro se agrava quando a mídia não se mantém altiva.
Acredito que parte da classe política (e Gilmar pertence a
ela e os representa) não se conforma em estar fora do poder no Planalto. Mas não
conseguindo apresentar-se como alternativa válida e vencer democraticamente eleições,
pelos mecanismos habituais do sistema político democrático, transfere para as
páginas dos jornais ou para os tribunais fatos nem sempre verdadeiros e fazem através
de denúncias seguidas da espetacularização
através da sua midiatização de alta
intensidade.
Isso na prática representa a renuncia ao debate democrático
e à própria democracia e é uma opção elitista, pois desloca para a seara do
Poder Judiciário ou para a mídia conflito inexistente e falsas crises, com um
único objetivo: a manipulação da opinião pública com propósitos eleitorais.
Gilmar Mendes é um agente político, o que seria legitimo se ele não
extrapolasse sua competência e atribuição constitucional.
E não se pode desconsiderar a repercussão político-eleitoral
que qualquer fato passa a ter a partir do momento em que uma simples denuncia,
com ou sem fundamento, é divulgada pela imprensa, antes mesmo de ser apreciado
pelo Ministério Público e pelo Poder Judiciário. Alguém escreveu “Gilmar
Mendes não é o STF”.
O objetivo da tática antidemocrática é Gilmar Mendes é
obter, através da mídia, a exposição negativa do adversário, pouco importando o
desenlace, o importante é enfraquecê-lo politicamente, algo no mínimo
questionável sob o ponto de vista ético e democrático.
Voltemos a um ponto que me parece importante. O Ministro Gilmar
demorou um mês para revelar o encontro e seu constrangimento, por quê? Porque
não formulou uma denuncia contra o ex-presidente? Por que não refutou as
alegadas insinuações de Lula durante o encontro? E principalmente, por que
procurou a imprensa e não as estruturas institucionais e republicanas?
Porque seu desejou é o espetáculo apenas. Obter a midiatização
do fato, a politização do fato, transportar versões da plácida obscuridade para
a trepidante ribalta midiática dos dramas espetaculares.
Excelentíssimo Senhor Ministro Gilmar Mendes, não é assim
que se constrói o debate democrático. Mas é assim que caminhamos para um Estado
Fascista travestido de valores pseudo-morais, conservadores e ultrapassados.
Essas
são as idéias postas ao debate.
Comentários
Postar um comentário