Li recentemente
uma entrevista interessante[1]
na qual Robert J. Shiller, economista, professor de Yale e que afirma que seu
objetivo “não é defender os líderes de Wal Street”, mas sim, segundo ele,
“sugerir alternativas que fortaleçam o capitalismo financeiro como instituição
democrática”.
Com todo
respeito ao “professor de Yale”, qualificação que tem vale muito no Brasil, não
acredito que seja possível que qualquer tipo de capitalismo possa ser ou
transformar-se numa “instituição democrática”. Como já escrevi baseado em
Sygmund Bauman, “o capitalismo é um sistema parasitário” e, como todos os
parasitas, prospera durante certo período desde que o organismo explorado lhe
forneça alimento, mas é impossível a esse sistema prosperar sem prejudicar o
hospedeiro, destruindo assim, cedo ou tarde, as condições de sua prosperidade e
sobrevivência.
E Bauman no seu
“Capitalismo Parasitário” [2]
lembra que Rosa Luxemburgo escreveu um estudo sobre a acumulação capitalista e nele
afirma que a acumulação capitalista, categoria sobre a qual se sustenta o
sistema, não pode sobreviver sem seguir descobrindo “terras virgens” para
expandir-se e expandindo, conquistar, explorar até que suas fontes sejam
exauridas.
O Professor
Robert J. Shiller parece falar com o coração quando afirma acreditar que o
“capitalismo financeiro tem o poder de transformar o mundo e a vida das
pessoas.”, mas quando lembro que segundo Celso Furtado a transferência liquida
de recursos do Brasil ao exterior na década de 80 foi maior que nos 322 anos do
Brasil colônia[3],
ou que o valor patrimonial contábil da VALE DO RIO DOCE era estimando em 140
bilhões de dólares, mas foi privatizada por FHC e José Serra por apenas 3,4
bilhões de reais (hoje 62% das ações da VALE pertencem a grupos internacionais
e a empresa enviou às suas matrizes no exterior, a titulo de lucros e
dividendos, 5 bilhões de dólares somente em 2010/11) não posso compartilhar com
seu otimismo.
O “tsunami
financeiro” que o mundo vive desde 2008 tem de ser entendido como o que é: o
capitalismo não é um sistema que soluciona problemas sociais, ele os cria e não
tem nenhum compromisso em solucioná-los, pois ele não consegue ser coerente com
seus princípios e justo, democrático ou generoso. O Sistema capitalista é
engenhoso, sedutor, criativo, mas não é justo nem democrático.
George Soros no
artigo “The Crisis and What t Do Abou it”
[4]
apresenta o capitalismo como uma sucessão
de bolhas de aparente prosperidade,
as quais se expandem muito além de sua capacidade e explodem. E explodem
sem compromisso social ou político, devastando economias nacionais e criando
dramas geracionais.
O Jornalista
José Arbex Jr. No seu artigo “500 anos de falcatruas” [5]
nos chama atenção para verdades desagradáveis de ler, mas são verdades,
ultrapassam pela sua natureza a versão da conveniência.
Ler o texto de
Arbex Jr me obrigou a ler novamente o capitulo 5 do livro “O Direito posto e o
Direito Pressuposto” [6]
do ex-ministro Eros Grau.
Eros Grau
brilhantemente afirma que “O direito
próprio ao modo de produção capitalista apresenta como peculiaridade, de uma
parte, sua universalidade abstrata.”, e explica que as leis das sociedades
capitalistas tutelam, protegem os bens,
direitos e interesses privados e o próprio mercado, sendo que os direitos
universais e abstratos das pessoas,
eles são mantidos como pressuposto necessário à validação do modo de produção
capitalista.
Sendo que a tal igualdade perante a lei, a própria legalidade e a liberdade estão
relacionadas ao conceito de Estado capitalista, e a ele incumbe tutelar para
que as instituições garantam, legalizem e legitimem a ação própria do sistema,
sem compromisso com a Justiça ou com a Humanidade.
O
que fazer? Bem, a primeira tarefa é compreender a História, o encadeamento dos
fatos, compreender a realidade sistêmica, para após levar à sociedade o inconformismo
da necessária mudança, sempre de forma genuinamente democrática.
[1]
Valor EU&FIM DE SEMANA, 20 de maio de 2012, p. 25
[2]
Capitalismo Parasitário, p. 8, Ed. Zahar, 2009.
[3]
Conf. João Pedro Stedille no artigo “O Maior saque colonial”, na Revista Caros
amigos, n. 182/2012
[4] In
“New York Books Review”, de 4 de dezembro de 2008
[5]
Revista Caros amigos, n. 182/2012, p. 6/7
[6]
Editora Malheiros, 3ª. edição, p. 83 e seguintes.
O capitalismo e a democracia caminham juntos. Célia Maciel
ResponderExcluirZuzu,
ResponderExcluirVc não concordou com a hipótese básica do artigo... Mas tudo bem.