Os juros
estão caindo e a queda dos juros cobrados pelos bancos públicos e privados é mais do que
ponto de honra para o governo, que atribui às altas taxas o entrave para o
crescimento da economia brasileira.
A batalha pela queda dos juros é movimento tático
fundamental ao projeto estratégico em curso, o projeto de desenvolvimento sustentável
e diferenciado do país, diferenciado,
pois significará desenvolvimento econômico e social perene e referencia válida
para outras nações que buscam rotas diferentes da receita óbvia e cruel imposta
pela lógica neoliberal.
Aliás, Dilma vem deixando claro que deseja ver
as instituições privadas seguirem os bancos oficiais e derrubarem o que o
jargão econômico convencionou chamar de spread
(diferença entre o juro pago pelos bancos no mercado e o que cobram de seus
clientes).
Quem
duvidou da capacidade do governo de influenciar o mercado e reduzir os juros
talvez devesse ler a constituição no título que trata da “ordem econômica e
financeira”...
O fato é
que o bombardeio do governo aos juros vem dando certo e foi intensificado,
quando Caixa e Banco do Brasil anunciaram redução de suas taxas e o HSBC foi o
primeiro banco privado a seguir as instituições públicas, notem a importância
da presença do Estado como agente regulador da economia.
Está claro
que o Governo vem fazendo a sua parte e que agora cabe às instituições
financeiras, e não ao governo, reduzir as margens para baratear o crédito.
Nesse sentido o presidente da CNI, Robson de Andrade, disse apoiar
"integralmente" a estratégia do governo na batalha contra os juros
elevados.
Por que
esse movimento tático do governo Dilma é importante e o que ele revela? Penso o
compromisso da busca dos superávits primários, aliado à redução dos juros revela
uma mudança significativa de paradigma, pois para além de qualquer dúvida o
“tsunami financeiro” [1] de 2008
demonstrou que a ideia de “prosperidade para sempre”, de que os mercados e
bancos capitalistas eram métodos incontestáveis para a solução dos problemas
esta errada e que o capitalismo é, na realidade, uma usina de problemas, um sistema
parasitário que não tem nenhum compromisso em solucionar os problemas que
causa, cabendo ao Estado e aos governos comprometidos com uma sociedade e
cidadãos a construção de rotas alternativas, seguras, justas e - sempre que
possível - generosas.
O capitalismo,
segundo Bauman, como todo parasita prospera durante certo período, desde que
encontre um organismo ainda não explorado que lhe forneça alimento, mas não
pode manter-se sem prejudicar o hospedeiro, destruindo quem que dá condições de
prosperidade e sobrevivência. Essa é a grande mudança de paradigma. Mas a
mudança decorrerá de um processo e não um ato de ruptura.
O
professor Fernando Nogueira Costa, Professor Livre-docente do IE-UNICAMP, vice-presidente da Caixa
Econômica Federal de 2003 a 2007, meu professor de Economia Monetária na
Unicamp, lembrou que em sua intervenção durante a III Conferência
Internacional Celso Furtado, em maio de 2004, lançou texto intitulado “Os Desafios da Nova Geração” onde se
distingue dois programas. “O crescimento econômico, tal qual o conhecemos, vem se fundando na preservação dos privilégios das elites que satisfazem seu afã de modernização; já o desenvolvimento
[econômico e social] se caracteriza pelo seu projeto social subjacente. Dispor
de recursos para investir está longe de ser condição suficiente para preparar um melhor futuro para a massa da população. Mas quando o projeto social prioriza a efetiva melhoria das condições de vida dessa população, o crescimento se metamorfoseia em
desenvolvimento.”, penso que é isso que se busca desde 2003, uma
equação que compreenda DESENVOLVIMENTO como resultado do crescimento econômico
e desenvolvimento social, da presença de políticas sociais perenes e capazes de
transformar, transformar-se e evoluir com o país e através dele.
[1] A
expressão “tsunami financeiro” é encontrada no Capitulo “Capitalismo
Parasitário” do livro de mesmo nome de Zygmund Bauman, Ed. Zahar, de 2009.
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