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Como é teu nome, meninazinha de olhos verdes?


Marionaldo Fernandes Maciel
é coordenador do Sindicato dos Trabalhadores Municipais de Campinas

Após a cassação do prefeito dr. Hélio de Oliveira Santos (PDT), a expectativa é de quem vai assumir seu papel. Sem querer apostar no caos e no quanto pior melhor, é necessário que Campinas seja passada a limpo, isto é, é preciso ver o quanto o vice-prefeito tem moral para governar ou não e apontar as soluções para os graves problemas políticos por que passa a cidade. A cassação do prefeito e a situação do vice impactam negativamente para a sustentabilidade da gestão pública

O cenário de expectativa faz com que Campinas necessite urgentemente ser reformada, de fato. Não obstante, os rumos da cidade é que passam agora a ser o centro da disputa política. O PT que está no poder há onze anos — quatro com Toninho/Izalene e sete com o dr. Hélio — herda o governo sem saber o que reserva o futuro, sob o risco de cassação também. Entretanto, o PT tem responsabilidade pela situação política por que passa a cidade. Por outro lado, os partidos que se colocam como uma alternativa real do poder precisam apresentar à sociedade a formulação de propostas para que a cidade volte à normalidade.

Nós, do Sindicato dos Trabalhadores Municipais de Campinas, procuramos contribuir dentro do nosso papel para a faxina instalada no poder municipal. Não é por outro motivo que sempre que possível apresentamos denúncias sobre desvio moral do governo encastelado no Palácio dos Jequitibás — desvio que resultou na cassação do prefeito. Postamo-nos vigilantes quanto à tentativa de manipulação, para que tudo não se transformasse em pizza. O povo ficou decepcionado e viu que seus direitos básicos de cidadania e de serviço público de qualidade foram barganhados pelo favorecimento ilícito de pessoas do primeiro escalão do governo, pela omissão governamental e, sobretudo, pela certeza da impunidade nas negociações fraudulentas de pessoas ligadas diretamente ao Prefeito. A cidade teve um retrocesso no crescimento, enquanto aguardava o desfecho da faxina moral.

Acreditamos, no entanto, que aqueles que estão interessados em ocupar o vácuo político deixado pelo governo cassado precisam elaborar políticas claras sobre as perspectivas econômicas, clareando a situação administrativa em que a cidade está; conjuntura política, desdobramento no âmbito político de um pacto por Campinas, cuja pauta é varrer a corrupção; políticas públicas, priorizando as políticas relativas ao combate à miséria social, em particular, propor soluções para as questões de saúde, ocupação de solo, urbanismo, meio ambiente; recomposição partidária na cidade, qualificando a atuação partido/mandato.

Quanto à corrupção, não dá para tolerar a política do toma lá dá cá. A população precisa ser protegida dos políticos desonestos que fazem da vida pública um espaço de enriquecimento, realizando negócios próprios para aferir privilégios e vantagens. É preciso fechar as portas por onde entra a corrupção, tapar os ralos por onde escorre o dinheiro público, cessar o loteamento ilícito dos cargos no governo, rateados entre os partidos para acomodar seus apaniguados.

Hoje, a pouco mais de um ano do pleito eleitoral, as cartas estão lançadas e a vida segue. Os próximos capítulos nos dirão além da imoralidade, como ficará a instituição Prefeitura. Anuncia-se um novo tempo para Campinas de esperança. Aliás, não dá para esquecer o poema A esperança, de Mario Quintana. Perdoe-me o poeta pela corruptela na sua obra-prima: “Lá do alto do quarto andar vive uma louca chamada Esperança. Ela será encontrada miraculosamente incólume na calçada. E em torno dela indagará o povo: — Como é teu nome, meninazinha de olhos verdes? E ela lhes dirá (É preciso dizerlhes tudo de novo!). Ela lhes dirá bem devagarinho, para que não esqueçam: — O meu nome é ES-pe-ran-ça...

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