Li recentemente um belo artigo assinado pelo Professor Antonio Barros de Castro da UFRJ intitulado “Enfrentando rupturas” onde o articulista afirma sem meias tintas “a nave espacial terra não comporta a universalização dos padrões modernos de consumo”.
Com lucidez o professor argumenta que a ascensão da China, que só tem paralelo na emergência dos EUA no fim do século XIX, assim como a derrocada financeira de 2008 dos EUA (que só encontra paralelo na crise de 29) e a questão ecológica exigem que nós paremos um pouco para pensar em tudo que está acontecendo e na sua lógica.
Estamos diante de um mundo novo em que os protagonistas tradicionais como o Banco Mundial, o FMI, o G8, os EUA e sua lógica, precisam ser repensados.
E nesse contexto temos de repensar a lógica do consumo... Nossa sociedade não é, lamentavelmente, uma sociedade de generosidade, de solidariedade, de afeto. É uma sociedade de consumo. É verdade que a humanidade sempre consumiu, mas a geração anterior, segundo Bauman na fase industrial havia uma sociedade de produtores e soldados, hoje no fim da modernidade a lógica capitalista tem menos necessidade de produtores e soldados e mais necessidade de transformar e manter o indivíduo, o cidadão em consumidor. Hoje quem não tem, ou não pode ter pelas regras de concessão e manutenção de crédito, um cartão de crédito é praticamente um paria. A lógica é que devemos consumir, devemos desempenhar com competência nosso papel de consumidores. Será que consumir é tão bom assim?
Bauman traz à reflexão dois dilemas, igualmente cruéis aos individuo. “Se a geração anterior refletia se o homem trabalha para viver ou se vivia para trabalhar” na nossa geração o dilema é igualmente cruel, pois o que nos impõe a realidade é a dúvida “se consumimos para viver ou se vivemos para consumir”.
Bem, penso que é hora de rompermos com essa lógica que somente tem um caminho a perpétua insatisfação, pois o consumo pelo consumo nos leva a acumular falsas sensações de satisfação seguidas de vazios cada vez maiores, pois coisas não são capazes de criar valor, nem de produzir emoções e sensações verdadeiras como o faz a obra de arte, a convivência humana e o exercício cotidiano do afeto.
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