Os liberais em Davos afirmam o mercado, a esquerda tradicional em Porto Alegre não passa da denúncia (os que arriscam a ir além tomam tortas na cara). O que fazer? É evidente que o convite dos liberais, de nos deixarmos guiar pelos mercados, é uma estultice, mas ficarmos limitados à denúncia da dominação liberal e seus efeitos nefastos é pouco... A humanidade precisa de mais.
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva apresentou-se ao mundo a partir de Porto Alegre e em Davos, na prática, rompeu com o que Alain Touraine chama de “idéia obsessiva de que estamos submetidos ao famoso pensamento único, ao qual direita e esquerda estariam aliados...”, e o fez quando, sem qualquer constrangimento, falou em nome dos 47 milhões de miseráveis do Brasil vítimas de um sistema econômico cruel, sustentado filosoficamente pelo liberalismo, o fez quando propôs a criação do fundo mundial contra fome.
O que Lula propõe, na realidade, vai além, muito além, daquilo que foi denominado de “ação solidária” ou simplesmente solidariedade. Ele propõe uma reflexão profunda da humanidade sobre o liberalismo, propõe a ação social e política como solução à desordem social causada pelo liberalismo e por suas contradições.
O combate à fome é mais que negação, mais que afirmação do direito à alimentação, é um convite a olharem adiante e nos convencermos que é possível instaurar uma nova ordem, que leve em consideração o ser antes e além do mercado.
Lembro-me quando o prefeito Jacó Bittar propôs a campanha “um milhão de árvores”... Foi criticado, muito criticado. Alguns diziam que seria impossível realizar o plantio. Estavam certos, no que diz respeito ao plantio propriamente dito, mas a campanha buscava, na realidade, semear na consciência de cada campineiro a preocupação com a questão ambiental. Jacó lançou o debate sobre o meio ambiente na cidade dois anos antes da ECO-92, e fez mais: criou a Coordenadoria Ambiental, mas foi criticado. Hildebrando Siqueira, conselheiro e consciência, está sempre certo: “em terra de cegos, quem tem olho é apedrejado”.
Lula quer mais que “matar a fome”, quer criar condições objetivas para que as pessoas possam alimentar-se de cidadania. Ele propõe que isso ocorra num contexto de revisão do liberalismo; sem radicalismo (que nos leva ao totalitarismo), afirma, criticamente, a necessária reforma ou reconstrução das relações entre as instituições, os Estados e suas estruturas. Somente assim será possível, continuamente, atingir progresso – este fruto não do positivismo, mas da ação individual e coletiva das forças sociais.
Quando Lula propõe o “fundo mundial” contra a fome, ele coloca o homem no centro do debate, critica a globalização financeira e o mercado. Essa proposição do presidente da República revela a profundidade do pensamento do qual Lula é o porta-voz, o símbolo e a maior expressão, no Brasil e no mundo.
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