Outro filme que assisti nesse feriado foi THE SQUID AND THE WHALE, EUA, 2005, de Noah Baumbach, que conta com Jeff Daniels, Laura Linney, Jesse Eisenberg, Owen Kline, William Baldwin e Anna Paquin no elenco, vale a pena conferir.
Transcrevo abaixo uma critica bem legal sobre o filme.
"Um jogo de tênis abre A LULA E A BALEIA e, como em MATCH POINT de Woody Allen, funciona como uma metáfora sobre o que virá em seguida. Enquanto Allen refletia sobre a relatividade da sorte, o diretor e roteirista Noah Baumbach prenuncia a guerra que está prestes a ser declarada entre Bernard (Jeff Daniels, ótimo) e Joan Berkman (a sempre competente Laura Linney).
Casados há 17 anos, vêem seu relacionamento deteriorando desde que Joan resolveu seguir os passos do marido e ingressar na carreira literária. A separação culminante é antecipada no jogo da abertura, assim como a tomada de posição entre os dois filhos, Walt (Jesse Eisenberg) e o caçula Frank (Owen Kline, filho de Kevin Kline e Phoebe Cates). O primeiro fica imediatamente do lado do pai, na quadra e no rompimento, enquanto Frank defende como pode a mãe.
Bernard, um escritor conceituado, mas ruim de vendas, o que na América configura em um perdedor, vê sua mulher alcançar o sucesso comercial que ele nunca experimentou. Há anos sem publicar um livro, sobrevive dando aulas de literatura. Já Joan desconta a frustração colecionando amantes na vizinhança. Os garotos ficam no meio da batalha, e, revezando-se entre as casas de ambos (“Custódia compartilhada é uma droga”, diz um colega de Walt, veterano de pais separados), aos poucos tomam posição e escolhem seus lados. Mas ainda assim terminam como baixas de guerra: enquanto Frank passa o tempo sozinho experimentando cerveja e outras bebidas alcoólicas, Walt se espelha no pai para criar uma imagem de intelectual que não corresponde à realidade. Até mesmo suas opiniões refletem as de seu progenitor.
Em um jantar familiar antes da separação, Bernard comenta com Walt que UM CONTO DE DUAS CIDADES é um Dickens menor, ao passo de que Joan o aconselha a conferir por ele mesmo. “Não quero perder meu tempo”, responde o garoto. Posteriormente, indica a uma namorada A METAMORFOSE só de ouvir o pai elogiar. Quando a tal garota vem comentar com ele sobre o livro, Walt só consegue observar que a obra “é bem kafkaniana”. O auge dessa farsa é quando Walt se apropria de uma letra do Pink Floyd e apresenta a canção num concurso escolar como se fosse composição sua.
Esse comportamento não é necessariamente conseqüência da separação dos pais, mas pode muito bem ter se originado na crise que já se estabelecia entre o casal. Baumbach sugere esta possibilidade em diálogos inteligentes e comentários saborosos, como os que Bernard despeja sobre seus filhos. Desprezando um dos amantes de sua ex-mulher, diz que “ele é um sujeito normal, não é um intelectual”. Em outro momento, explica à Frank que “Filisteus são aqueles que não curtem livros e filmes interessantes”, ao que o garoto humildemente responde: “Então acho que sou um filisteu”.
É através do ponto de vista dos garotos que a história será contada, o que permite uma leitura autobiográfica, acentuada pelo fato do cineasta situar a trama em meados da década de 80. E o faz com uma reconstituição impecável e ótimo senso de atmosfera. Baumbach captura suas imagens como se fosse um filme caseiro, com tons amarelados de um negativo vencido, aumentando a sensação de intimidade, como se estivéssemos presenciando a dinâmica daquela família de dentro. Baumbach demonstra um talento especial para construir personagens plausíveis, algo que não se percebe com a mesma clareza no trabalho do superestimado diretor Wes Anderson (que aqui atua como produtor), com quem colaborou em A VIDA MARINHA COM STEVE ZISSOU.
O título se explica por um trauma de infância de Walt. Quando criança, era levado pela mãe para visitar o Museu de História Natural, onde se encontra uma estátua reproduzindo a luta entre uma lula gigante e uma baleia, algo que amedrontava Walt a ponto deste tapar os olhos com as mãos. Após presenciar o embate paterno, a tal luta já não parece tão aterrorizante."
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