Tenho a sorte de
vir de uma família grande e muito divertida, onde há pontepretanos, bugrinos,
corintianos, são-paulinos e palmeirenses; há católicos, protestantes, espiritas
e ateus; na paleta de cores das convicções políticas há de tudo também... Mas nossas
diferenças nunca nos impediram de conviver, sonhar e amar, o que nos fortalecia
eram essas diferenças.
Minhas irmãs e
eu tínhamos trinta e quatro primos, quase três dúzias de tios e tias, além das
avós, avô, tias e tios-avôs e até tios-bisavós.
As casas de
nossas avós eram locais mágicos e cheirosos, para onde íamos naqueles domingos após
a missa do Padre Geraldo Azevedo na Igreja do Carmo.
O Natal e a Pascoa
sempre foram datas tão especiais quanto os aniversários das avós e avô e nesses
dias nos encontrávamos em sorrisos infinitos e podíamos brincar e sonhar.
Enfim, acredito
que a família é instituição fundamental para a sobrevivência e desenvolvimento dos
indivíduos e da humanidade. Se não existe a família, a sobrevivência cultural
da humanidade corre perigo.
E uma família precisa
sonhar e compartilhar os sonhos.
Foi através do convívio
lúdico com minhas irmãs, primos e primas que aprendi que sonhos são dimensão
infinita e necessária, caminho onde o impossível não tem espaço. Sem sonhos não
há crescimento, amadurecimento ou movimento.
No convício familiar,
onde há amor genuíno, é mais vigorosa a possibilidade do sonho, o sonho
compartilhado é educativo, nos afasta da lógica nefasta do utilitarismo e
oferece um canal para a realização dos nossos desejos.
O desenho acima
é de uma família, como tantas outras, composta de pai e mãe, seus filhos e seus
sonhos. Mas, e as novas famílias nos seus desenhos atuais? Elas podem amar, sonhar
e educar? Segundo o Papa Francisco, em discurso à União
Internacional de Superiores Gerais, a
igreja deve reconsiderar
a nossa postura em relação aos filhos de casais homossexuais e de pais
divorciados.
Francisco
afirmou que a estrutura familiar está mudando na atualidade.
O
reconhecimento dessa mudança reconcilia a igreja com a realidade e isso é
fundamental para que a hipocrisia, algo nada cristão, deixe de fundamentar a
reflexão e de orientar nossas ações em relação à família que se transforma, mas
onde também é possível compartilhar os sonhos e amar.
Sobre os divorciados o papa Francisco aconselhou àqueles que se
divorciaram fazer um exame de consciência sobre como agiram com os filhos
quando o casamento entrou em crise, se é possível tentar uma reconciliação,
quais consequências um novo casamento pode ter na família, etc., mas defendeu o
acolhimento deles pela igreja e considerou a possibilidade de os católicos que
se casaram novamente participarem dos sacramentos, pois as pessoas divorciadas
que vivem uma nova união são parte da Igreja e não estão excomungados, pois
ninguém pode ser condenado para sempre, pois esta não é a lógica do Evangelho.
As novas famílias, como a dos divorciados, devem ser
integradas às comunidades cristãs e para isso é preciso analisar que várias formas
de exclusão são ultrapassadas, pois "os efeitos de uma regra não podem
sempre ser os mesmos".
Parte da igreja católica, frequentemente
em conflito com lésbicas, gays, bissexuais e a comunidade transgênero em
relação ao casamento homossexual, deveria ouvir mais o Papa. Francisco, apesar
de negar a possibilidade do casamento gay, recentemente ele declarou: "Se
alguém é gay e busca o Senhor com sinceridade, quem sou eu para julgá-lo? ".
Na
sua Exortação apostólica “Amoris laetitia - A alegria do amor”, que trata do amor na família, afirma que “um
ideal teológico do matrimônio demasiado abstrato, construído quase
artificialmente, distante da situação concreta e das possibilidades efetivas
das famílias tais como são”, ou seja, é
salutar aos cristãos prestar atenção à realidade concreta, porque os
pedidos e os apelos do Espírito ressoam também nos acontecimentos da história
através dos quais a Igreja pode ser guiada para uma compreensão mais profundado
inexaurível mistério do matrimônio e da família.
Enfim, sem escutar a realidade não
é possível compreender nem as exigências do presente, nem os apelos do Espírito.
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