O “sonho” de
muita gente é passear no Central Park em Nova York e fazer inúmeras selfies para instantaneamente postá-las
numa rede social, como que a dizer “faço parte disso tudo...”. Inegavelmente
Nova York é uma cidade interessante, assim como o Central Park é um lugar
icônico, mas não é mais bonito que o Parque do Ibirapuera em São Paulo, espaço
público que o “prefeito não-político” da capital paulista pretende privatizar.
Mas o Central
Park nem sempre foi um espaço público de convivência válida e saudável. Após a
Crise de 1929 onde hoje é o parque central havia uma das milhares de favelas (chamadas
de Hoovervilles, em “homenagem” ao presidente da república de então).
Todos sabemos
que a crise econômica de 1929 desempregou milhões de trabalhadores nos EUA,
legando a imagem de homens forçados a ficar na fila da sopa ou vendendo maças
nas esquinas[1].
O tempo da “Grande Depressão” o estudo da MACROECONOMIA, ramo da Economia que
estuda o desempenho da economia sem eu conjunto, não era tão desenvolvida
quanto hoje; tanto é verdade que o que ocorreu em 1929 (e em menor escala em
outras ocasiões e mais recentemente em 2008) foi um “...golpe na economia em seu conjunto...”[2],
ou seja: uma catástrofe.
A
MACROECONOMIA tem por objeto o estudo do desenvolvimento da economia como um
todo, enquanto a MICROECONOMIA, trata das decisões de produção e consumo, dos
produtores e consumidores individualmente. A Crise de 1929 ensinou muito aos
governos.
Bem, feita
essa introdução é possível afirmar, com base nas propostas da dupla Temer e
Meirelles, que o país caminha para o caos, pois esses senhores buscam aplicar
às questões macroeconômicas emergentes regras de natureza microeconômicas,
esquecendo-se que em economia o conjunto
é maior que a soma das partes. O triste é que o caminho para o caos conta
com a ajuda de um congresso incapaz e servil, dos meios de comunicação
corporativos e dos seus especialistas em
economia.
Me refiro ao
discurso da política de austeridade e dos cortes de gastos propostos pela dupla
citada; parece que esses senhores desconhecem o que em macroeconomia é
denominado “paradoxo da poupança”. O
tal paradoxo se faz presente quando
as famílias e as empresas, preocupadas com a possibilidade de tempos difíceis
na economia, reduzem gastos e investimentos. Essa redução de gastos e
investimentos deprime a economia à medida que consumidores gastam menos e as
empresas, em razão da redução do consumo, acaba por despedir trabalhadores.
Muitas vezes o que é uma virtude em microeconomia, em macroeconomia é,
repita-se, o caminho do caos.
Evidentemente
nem o governo, nem as famílias ou as empresas podem praticar gastos
irresponsáveis, pois gastos inadequados podem levar à recessão e até à
depressão; mas é dever dos governos usar a política fiscal e a política
monetária para ajudar a economia. Mas que fique registrado que as políticas de
austeridade falharam em todos os países em que foi aplicada, ou seja, esse não
é o caminho.
As políticas
de austeridade levaram diversos países que as adotaram ao agravamento do
desemprego, da recessão e à inflação. Em relação à inflação temos um paradoxo a
ser enfrentado: políticas que garantem o emprego podem gerar inflação, ao passo
que políticas que combatem a inflação sempre geram desemprego.
Não se pode esquecer que o neoliberalismo, doutrina
econômica combatida pela esquerda e renascida no Brasil pelas mãos de Temer e
Meirelles, recebeu críticas de um de seus maiores defensores, o Fundo Monetário
Internacional (FMI), em artigo[3]
publicado por três economistas da instituição.
O documento sugere que o receituário neoliberal, prescrito
pelo próprio FMI para o crescimento econômico sustentável em países em
desenvolvimento, pode ter efeitos nocivos de longo prazo, pois os almejados benefícios de algumas políticas de
austeridade, que são uma parte importante da agenda neoliberal, em vez de gerar
crescimento, algumas políticas neoliberais aumentaram a desigualdade, colocando
em risco uma expansão duradoura.
Os autores, três membros do departamento de pesquisa do
FMI, disseram que a abordagem tradicional para ajudar os países a reconstruir
suas economias através de corte de gastos do governo, privatização, livre
comércio e abertura de capital podem ter custos "significativos" em
termos de maior desigualdade e que o aumento da desigualdade prejudica o nível
e a sustentabilidade do crescimento e concluem dizendo que mesmo que o
crescimento seja o único ou principal objetivo da agenda neoliberal, os
defensores dessa agenda devem prestar atenção nos efeitos de distribuição.
Embora os pesquisadores do FMI reconheçam o que chamaram
de “pontos positivos na agenda neoliberal”, eles destacam dois grandes
problemas: (a) a remoção de todas as restrições ao fluxo de capital e (b) a
rigidez orçamentária dos governos.
Os economistas reconhecem as vantagens da abertura de
capital em países em desenvolvimento, mas dizem que o fluxo pode ser de um
capital de curto prazo, causando grande volatilidade nos mercados e aumentando
as chances de quebra.
Segundo os autores, de 150 casos desde a década de 1980
de economias emergentes que tiveram um forte aumento dos fluxos de capital, 20%
resultaram em crise financeira. Além disso, a abertura financeira gera um
aumento considerável da desigualdade na população do país, alertaram.
As políticas de austeridade, que frequentemente reduzem
o tamanho do Estado, não somente "gera custos sociais substanciais,"
mas também "prejudica a demanda", além de aprofundar o desemprego.
Ou seja, a agenda da dupla Temer e Meirelles ignora
autocritica do próprio FMI e, repito, conduz o país ao caos e o sonho de
caminhar pelo Central Park ficará cada vez mais distante para todos.
[1]Conforme
Paul Krugman e Robin Welles, no “Introdução à Macroeconomia”, p. 492.
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