“Aquele pequeno
punhado de corruptos e de ladrões do dinheiro público, dentro da Petrobrás, que
atraiçoaram os mais de um milhão de filiados do PT e envergonharam a nação deverão
ser banidos da memória.” (Leonardo
Boff)
A
CRISE E O CAOS
- Os tempos são caóticos. Mas o caos não é apenas anarquia ou desordem, o caos
pode anteceder uma nova ordem. O caos pode ser visto como algo positivo, pois destrói
a ordem posta, ordem que não atende mais as demandas, é, portanto, generativo
porque a partir de um novo rearranjo dos fatores, instaura uma nova ordem que
faz a vida de todos melhor, assim reflete Leonardo Boff.
A atual crise
política - por mais artificiosa que seja, por mais que seja fomentada por
setores da imprensa – tem causas não são verdadeiras, mas os seus efeitos são.
Quando falo em crise política artificiosa me refiro à
“temporada de caça ao PT e a Lula” com vistas a 2018, me refiro à frenética
busca do impeachment de Dilma, às capas e manchetes da VEJA e dos “jornalões”.
A
LEGITIMIDADE DA OPOSIÇÃO
- A oposição, representada por setores do PSDB, aposta no caos,
desqualificando-se. Por que se desqualifica? Porque numa democracia deve
existir oposição, sob risco de a diversidade de opiniões não ser efetivamente
representada e comprometer a democracia em si, mas uma oposição republicana,
não histericamente irresponsável.
A
existência de uma oposição legitima a democracia e o que legitima a oposição, os
partidos de oposição enfim, é o fato dela ser oposição aos governos e suas
práticas e suas políticas, não ao regime democrático. E o caos vigente,
proposto por setores do PSDB (sustentado pela VEJA em particular), se opõe à
democracia, mesmo que de forma enviesada, o que retira dessa parcela da
oposição a citada legitimidade.
A função da oposição é
fiscalizar as ações dos governos, denunciar os malfeitos e debater com a
sociedade suas idéias e projetos, isso é fantástico. Aliás, a vantagem da
democracia é poder escolher nossos governantes através do voto direto e, mesmo
quando um grupo perde as eleições majoritárias, tem presença no congresso
nacional, nas assembleias legislativas e nas câmaras de vereadores, isso
garante o necessário equilíbrio; equilíbrio de representação algo fundamental à
democracia.
Penso que a garantia da
liberdade individual, dos Poderes e das instituições, gênese do regime
democrático, está nas mãos fundamentalmente da oposição nos três níveis, a
oposição deve ser a garantidora da democracia, por isso deve ser responsável,
propositiva e honesta.
Posto isso algumas críticas
podem ser feitas a atores que não exercem com legitimidade o seu papel
oposicionista, pois estão a atacar a democracia. Mas não é sobre isso que quero
escrever hoje... Hoje quero escrever sobre o PT e como eu vejo esse ente
coletivo.
A
NECESSÁRIA AUTOCRITICA DO PT
- O PT hegemonizou um processo novo na política brasileira, apresentou
políticas sociais de reconhecido sucesso, investiu, multiplicou o PIB, gerou
milhões de empregos, retirou duas dezenas de brasileiros da miséria... Há
legados inegáveis, mas esse partido deve fazer o que não fez até agora: uma autocrítica
pública e humilde dos erros cometidos. Que erros? Ora, não se justifica um
gerente da PETROBRÁS ter e manter milhões de dólares numa conta no Principado
de Mônaco, assim como não se justifica um Diretor da mesma empresa manter
“seus” milhões em conta da Suíça. É sobre isso que escrevo hoje.
Penso que alguns quadros do PT
não souberam usar do poder concedido pelo povo como legitimo instrumento de
mudanças, ao invés de representar vantagens corporativas e, o que é pior, o PT
perdeu a conexão orgânica com os movimentos sociais legítimos e com os setores
produtivos éticos.
Se o PT não fizer seu mea-culpa,
não me serve mais, pois alguns de seus quadros com poder delegado traíram
milhões de filiados e simpatizantes e macularam sua principal bandeira: a
moralidade pública e a transparência em tudo o que faria.
Aquele pequeno punhado de
corruptos e de ladrões do dinheiro público, dentro da Petrobrás (nomeados e
mantidos por, praticamente, TODOS os partidos) traiu os mais de um milhão de
filiados do PT, os seus simpatizantes, seus militantes anônimos e envergonharam
a nação, por isso devem responder por seus atos e pagar por suas escolhas.
A verdade é que em
12 anos o PT fez muita coisa boa, algumas excepcionais, mas não promoveu
nenhuma reforma estrutural necessária; nem agrária, nem tributária, nem
política.
O PT “perdeu a
mão” em nome da governabilidade; jogou a governabilidade nos braços de setores
não éticos do mercado e do Congresso. Se tivesse promovido a reforma agrária,
de modo a tornar o Brasil menos dependente da exportação de commodities e
favorecido mais o mercado interno; se ousasse fazer a reforma tributária
recomendada por economistas desenvolvimentistas, priorizando a produção e não a
especulação; se houvesse assegurado a governabilidade prioritariamente pelo
apoio dos movimentos sociais e os setores produtivos éticos, teria sido
possível desde o primeiro dia dissipar as estruturas de corrupção postas desde
antes de sua chegada ao poder.
O PT tem que
recomeçar com humildade, pois sua obra positiva é maior e mais vasta que seus
erros, mas os erros devem ser passados publicamente a limpo; o PT deve estar aberto
a aprender dos erros e com a sabedoria do povo trabalhador e dos empresários
éticos.
O
PT que surgiu para ser um partido diferente, e não é o responsável pela
implantação da corrupção no país, mas ele é responsável por não ter identificado
e acabado com ela e é também responsável pelos seus quadros que dela
participaram.
Penso
que agora cabe a Policia Federal, ao Ministério Público Federal e ao Poder
Judiciário (sem espetacularizar os fatos) investigar, denunciar e condenar
exemplarmente os responsáveis, cada um dos agentes do nojento esquema de
corrupção, mas o PT precisa reconhecer que afastou-se da ética e feita
a autocrítica vencer o delírio e voltar aos trilhos.
O
PT surgiu para representar os interesses da classe média urbana em especial,
nasceu socialdemocrata e foi caminhando para a esquerda, mas nos últimos 12
anos após chegar à presidência da republica fez uma inflexão conservadora e
aproximou-se das empreiteiras -corruptores históricos - e de
corruptos contumazes como os neocompanheiros do PP, que já foi
ARENA, por exemplo... E essa aproximação se não foi fatal ao PT, foi trágica,
pois se por um lado setores do PT e da esquerda foram capazes de implantar políticas
socialdemocratas da maior importância, de outro a economia foi quase o tempo
todo neoliberal e a roubalheira foi mantida como dantes no
quartel de Abrantes.
O
PT envelheceu, burocratizou-se e muitos de seus quadros, como afirmou Tarso
Genro, ficaram cada vez mais distantes da sociedade, excessivamente ligados ao
governo e às políticas públicas (as quais, num presidencialismo de coalização,
são as “políticas possíveis”) e, eu acrescento, outros corromperam-se.
Repito:
não estou a ignorar a existência, entre seus quadros, de muita gente boa,
políticos honestamente comprometidos com as lutas populares, com o
desenvolvimento social e econômico do país, não é isso, mas o Partido dos
Trabalhadores precisa de um choque que sociedade e de autocrítica.
O PT é, e sempre será, o partido da
minha adolescência e da minha juventude, mas nem todo o carinho do mundo pode
impedir, e não me impede, de fazer criticas necessárias, pois quem está em paz consigo, está em paz com todos. Esse é o grande
desafio.
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