A inação de
partidos como PSDB, PMDB, PPS, PV, dentre outros, em relação ao episódio
envolvendo o Deputado Bolsonaro me motivou a refletir sobre a seguinte questão:
a direita está de volta? Será que Bolsonaro
(que sempre considerei uma caricatura patética de uma direita reacionária e
praticamente extinta) representa de fato muitos bolsonaros? Será que há muitos
bolsonaros no Brasil?
Bem, após as o
primeiro turno escrevi que a esquerda no estado de São Paulo não foi exatamente
“varrida do mapa”, mas que a
votação expressiva de Aécio Neves no estado, quase 11 milhões de votos, contra
pouco mais de 5 milhões de votos dados à presidente Dilma, além da diminuição
significativa da bancada petista na Câmara dos Deputados, a perda de uma
cadeira no Senado, perda de cadeiras na Assembleia Legislativa e o desempenho
sofrível de seu candidato ao governo poderiam representar que a mesma classe média que sempre apoiou a
esquerda não a via mais como sua representante.
Ressalvei que a mídia nacional
tem sido implacavelmente contraria ao governo de coalizão que o PT comanda e amplamente favorável a Aécio Neves, sendo esse um
elemento inafastável para a análise responsável de um fato inegável: a opção da classe média pelos candidatos e
partidos de direita.
Teria sido a classe
média sido cooptada pelos setores mais conservadores com seu discurso sedutor?
É possível, e não teria sido a primeira vez. Foi assim no tempo de Getulio,
Juscelino e João Goulart e isso manteve o país em crise institucional por muito
tempo e criou as condições objetivas para o golpe.
Quando
ouvi a Marilena Chauí dizer que a classe média paulistana é fascista, violenta
e ignorante, tive a reação que provavelmente todos tiveram fiquei perplexo e
rejeitei a tese, afinal não dá para pensar em um país menos desigual sem uma
classe média forte e o aumento da classe média tem sido visto como sinal de desenvolvimento
do país, com de redução das desigualdades, de equilíbrio da pirâmide social, ou
mais, de uma positiva mobilidade social, em que muitos têm ascendido na vida a
partir da base. Contudo, a classe média - que seria como que um ponto de
convergência conveniente para uma sociedade mais igualitária, que indicaria uma
espécie de relação capital-trabalho com menos exploração – de fato passou a
rejeitar as políticas públicas propostas e executadas pela esquerda. Mas por
quê?
A classe-média
não votou na esquerda, porque historicamente não precisa do Estado e porque se
revelou reacionária e fundamentalmente
meritocrática. Esse é o ponto: a tal
MERITOCRACIA. Como sabemos, a meritocracia
está na base de sua ideologia conservadora e se opõe à democracia em vários aspectos estruturantes, em quase todos.
Por isso boa parte
da classe média é contra as cotas nas
universidades, pois a etnia ou a condição social não são critérios de
mérito; é contra o bolsa-família,
pois crê que “ganhar dinheiro sem trabalhar” além de um demérito desestimula o
esforço produtivo; quer mais prisões e
penas mais duras porque meritocracia também significa pagar caro pela falta
de mérito; reclama do pagamento de
impostos porque o dinheiro ganho com o próprio suor não pode ser apropriado
por um Governo que não produz muito menos ser distribuído em serviços para quem
não é produtivo e não gera impostos.
A classe média
revelou-se ser contra a ação Política e contra os políticos porque em uma
sociedade meritocrática é a técnica,
e não a política, a base de todas as decisões.
O fato é que a direita
brasileira, cuja opinião conservadora se expressa
facilmente na mídia e nas redes sociais, não aceita fazer concessões sociais, é reacionária mesmo frente às mudanças menos ofensivas
aos interesses dominantes (talvez seja herança do “espírito da Casa Grande” o
ódio aos pobres, aos nordestinos e aos negros e condescendência ao estuprador
confesso). Talvez a direita não suporte a ascensão
social das classes subalternas, mesmo quando isso reforça a posição
da classe ociosa no topo pela ampliação do mercado interno, como escreveu o
professor Fernando Nogueira da Costa.
A esquerda
democrática está perdida no meio disso tudo, pois tem que governar constituir maiorias,
transigir, negociar e buscar campos de não colidência e ação moderada,
irritando a própria esquerda e não satisfazendo a direita e sem o apoio de uma
classe média, no mínimo, conversadora.
Penso que parcela da sociedade não esta a enxergar no governo a
representação direta de seus interesses concretos, em razão dessa inflexão
conservadora, e nessa “polarização assimétrica”, a esquerda tenta contemporizar, cedendo
ministérios para governar, mas isso é insuficiente.
E a direita pretende voltar a governar até via ditadura militar, pois não negocia politicamente, não debate.
Para essa nova
direita, melhorias
adicionais de padrão de vida no Brasil não devem vir mais do Estado, via políticas
públicas, mas unicamente de conquistas
individuais baseadas no esforço e mérito reconhecidos por viés de auto validação dos próprios pares. Essa é a visão individualista da direita e os manifestantes
golpistas constituem uma minoria que necessita ser, mais uma vez,
isolada e condenada pelos democratas.
Penso que esse debate
tem de ser feito, a partir das fileiras dos setores progressistas, dos
trabalhadores e seus sindicatos, do micro, pequeno e médio empresário, pois o
Brasil pode e deve seguir avançando nas mudanças iniciadas em 2003, e buscar a reconciliação
com a classe média e com antigos companheiros que buscaram acolhida no PSB,
PSOL e PV, afinal todos tem muito a dizer, aprender e ensinar.
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