"Os shoppings-centers representam a ofensiva
avassaladora contra os espaços públicos nas cidades, são o contraponto das
praças públicas. São cápsulas espaciais condicionadas pela estética do
mercado." (Emir Sader)

Hoje quero falar sobre Metrópolis, que é um filme alemão de ficção científica produzido
em 1927, realizado pelo cineasta austríaco Fritz Lang e que na época tratou-se da mais cara produção
até então filmada na Europa (a obra que é considerada por especialistas um dos grandes
expoentes do expressionismo alemão e também uma obra à frente do seu tempo, já que pode
se dizer que continua bastante atual). O roteiro (baseado em romance de Thea von Harbou, esposa de Lang) foi escrito em parceria com Fritz
Lang. O enredo é ambientado no século XXI,
numa grande cidade governada autocraticamente por um poderoso empresário. E os
seus colaboradores constituem a classe privilegiada, vivendo num jardim
idílico, como Freder, único herdeiro do dirigente de Metropolis.
Os trabalhadores, ao contrário, são escravizados pelas
máquinas, e condenados a viver e trabalhar em galerias no subsolo. Num meio de
miséria entre os operários, uma jovem, Maria, destaca-se, exortando os
trabalhadores a se organizarem para reivindicar seus direitos através de um
escolhido que virá para representá-los.
Através de cenas de forte expressão visual, com o
recurso a efeitos especiais, algumas se tornaram clássicas, como a panorâmica
da cidade com os seus veículos voadores e passagens suspensas, há alusões
bíblicas, mistério, ação e romance, num leque de informações visuais que envolvem
o público e o mantém em suspense até ao final.
A obra apresenta uma preocupação crítica com a
mecanização da vida industrial nos grandes centros urbanos, questionando a
importância do sentimento humano, perdido no processo de desenvolvimento
econômico. Como pano de fundo há a valorização da cultura, expressa no filme
através da tecnologia e,
principalmente, da arquitetura.
Retomo e comento a obra de Fritz Lang no contexto dos, tão
comentados, “rolezinhos” e pergunto: estariam os jovens que organizam e
participam dos “rolezinhos” agindo como a jovem Maria de Metropolis? Estariam
esses jovens exortando os demais jovens a se organizarem e reivindicar o
inalienável direito a espaços públicos de lazer e convivência?

Por que penso assim? Porque há uma grande dose de
preconceito de classe nisso tudo, como retratado por Fritz Lang em Metropolis. Afinal
qual o crime exatamente esses jovens comentem? A priori nenhum. Essa é a
resposta honesta... Por isso andou mal o Judiciário e a saída não são
liminares, não são também as bombas de gás lacrimogêneo, as bombas de efeito
moral, as balas de borracha, truculência ou violação dos direitos civis usadas
durante as manifestações do ano passado?
Somente quem defende um Apartheid social - que ainda impera
em vários países e que existe dissimuladamente no Brasil – é que apóia a
judicialização e imediata criminalização do fato.
O verdadeiro
crime é a ausência de políticas sociais que incluam essa geração de jovens, que
gere um leque de oportunidades, emancipação e autonomia. Esses jovens são
diariamente excluídos do convívio social. Por isso afirmo: o verdadeiro crime é
submeter a vida de todos nós à estética e à ética dos shoppings centers. Talvez
o filme de Fritz Lang nos dê uma boa idéia do que fazer... O ponto alto do filme e grande mote é, sem dúvida, o
final - onde a metáfora "O
mediador entre a cabeça e as mãos deve ser o coração!" se concretiza no simbólico aperto de
mão mediado por Freder entre Grot (líder dos trabalhadores) e Jon Fredersen - o
empresário.
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