"Quando, enfim, os bacharéis mais reacionários ocuparam o poder com
os militares, coube-lhes encontrar as fórmulas jurídicas para defender o estupro
do Estado de Direito" (Mauro Santayana)
A página 2
do CORREIO trouxe uma matéria assinada pelo Deputado Carlos Sampaio (PSDB) na
qual ele faz criticas ácidas ao ex-presidente Lula. É muito triste ver um Deputado Federal da minha cidade, um
pontepretano, por quem nutro afeto e procuro manter uma relação fraterna, filho
de um homem admirável, prestar-se a "jogar o jogo" dos setores mais
conservadores e atrasados desse país. Muito triste!
Quando falo em “setores conservadores” me refiro aos
mesmos setores que no passado "colaram" em Getulio, JK, João Goulart
o rotulo de "corrupto" para logo depois darem golpes à democracia.
Esse é o jogo da elite: o golpe.
Mas por quê?
Quais interesses esses senhores defendem?
Talvez os
golpistas e seus interlocutores estejam irritados e se reúnam porque o governo brasileiro
distribui renda, como no sistema escandinavo, a fim de sustentar um ainda tímido,
mas necessário, “welfare state”, como fez Lula e faz Dilma com o Bolsa-Família.
É contra políticas públicas como essas reúnem-se bacharéis e banqueiros,
políticos, alguns jornalistas e inocentes úteis.
Antes de partir para Portugal o Rei D. João VI teria
dito seu filho que tomasse ele a coroa “antes que algum aventureiro lance
mão” repetiu-se isso irrefletidamente como algo positivo o longo
do tempo, desde os bancos escolares. Mas quem eram os aventureiros? Os aventureiros
éramos nós, o povo brasileiro. A gente como Tiradentes, Simon Bolívar, Artigas,
Sucre, San Martin O´Higginsque é a quem referiu-se D. João VI. Tiradentes e
Simon Bolivar foram heróis que lideraram revoluções de independência nos seus
países, expulsando os colonizadores em processos articulados dos países da
região. Por conta dessa decisão da elite tivemos dois monarcas descendentes da
família imperial portuguesas, ao invés de uma República, perdemos décadas de
avanço institucional e atrasou-se a construção de um Estado Nacional
independente, os nossos colonizadores não foram expulsos, mantiveram-se
“pessoas de bem” e influenciam até hoje o país. Talvez esse tenha sido o primeiro
pacto de elite da nossa
história, no qual as elites mudaram a forma da dominação, para imprimir
continuidade a ela, sob outra forma política. Naquele 1822 a monarquia ganhou
quase sete décadas de sobrevida.
Ai vem o segundo pacto da elite: a República foi proclamada como um golpe militar,
que a população assistiu “bestializada”, segundo um cronista da época, sem
entender do que se tratava – o segundo grande pacto de elite, que marginalizou
o povo das grandes transformações históricas.
Outros pactos se seguiram a esses dois
(a História está ai para ser conhecida e compreendida, vou escrever sobre eles
um dia) e todos eles buscaram atender os interesses da elite nacional,
conservadora, preconceituosa e sem qualquer compromisso além da manutenção de
seus privilégios.
Estamos vivendo mais um pacto da elite que busca, com o diligente concurso de parcela da
mídia, tem desqualificar o governo de esquerda, suas realizações e conquistas e
criminalizá-lo.
Mas voltemos
a 1955... JK candidatou-se para suceder Vargas, e elegeu-se em três de outubro
de 1955 e a empossou–se em 31 de janeiro do ano seguinte, mas JK teve de lidar
com o ódio que a UDN - União Democrática Nacional endereçara a Vargas (UDN que
como o PSDB representa interesses distantes dos nacionais e populares). A UDN constituía-se
do velho resíduo do bacharelismo nacional, de origem oligárquica, que perdera
sua posição hegemônica na sociedade, a partir da Revolução de 30, mais ou menos
como o PSDB hoje.
Ai o médico
Juscelino, que fora um simples telegrafista e oficial da Força Pública de
Minas, que provinha da “low middle class”, filho de uma professora e de um caixeiro-viajante
morto aos 33 anos (que não pertencia, pela atividade, nem pela formação, ao
setor da sociedade tradicionalmente ligado à velha aristocracia remanescente do
Império, que a UDN representava e o PSDB é herdeiro legitimo) teve a ousadia de
vencer as eleições. O metalúrgico e sindicalista com mais evidência não
pertence à classe representada por esse grupo.
Então teve
inicio uma campanha para “colar” em JK o rótulo de corrupto, como fizeram com
Getúlio e depois com João Goulart. Não sou eu a dizer, é a História.
O “corrupto” Juscelino sofreu todas as
perseguições conhecidas. Foi humilhado por interrogatório movido por oficiais
inferiores.
Reproduziu-se com JK, o que pretenderam os
golpistas contra Getúlio, ao instaurar Inquérito Policial Militar em uma
dependência da Força Aérea: a fim de o interrogar, julgar e condenar o
Presidente - também sob o pretexto da corrupção – com o aplauso da UDN.
Essa gente levou Getúlio ao suicídio, apoiou o golpe militar que cassou e provavelmente matou Jk e João Goulart. Pretendem fazer o mesmo com Lula? É nesse
contexto que deve ser compreendido, inclusive, o PC 470 que tramitou no STF.
Muito bom artigo ! excelente !
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