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o necessário combate à verdadeira corrupção

Há em curso um movimento de combate à corrupção. O combate à corrupção vem sendo apresentado pela mídia e pela oposição como sendo a principal ou única agenda nacional, em torno da qual o Governo Federal deveria e seria obrigado a mover-se, quase que exclusivamente.


Será que é isso mesmo? Será que o combate à corrupção é a principal ação dos governos? Mas e o combate á miséria? O permanente combate à inflação? Os cuidados com a política macroeconômica? Os necessários investimentos em infra-estrutura? E as políticas públicas no campo da educação, da saúde e da cultura?

Penso que o combate à corrupção é necessário, mas não é uma agenda propriamente dita, não se deve suspender os programas e projetos de Estado ou de governo por conta disso, pois ele deve estar contido nas ações cidadãs, nas ações de Estado e de todas as estruturas e instituições publicas e privadas do país, por outro lado como afirmou Walter Pomar, dirigente nacional do PT, a uma revista recentemente a nossa postura em relação à corrupção deve ser “Denunciar, combater os efeitos e eliminar as causas. Para o que se faz necessário entender as raízes da corrupção” .



Mas esse movimento de combate à corrupção, que é apoiado pelos maiores veículos de comunicação do Brasil e por setores à direta, mas ainda não foi abraçado, assumido ou protagonizado pela esquerda brasileira.

Isso é curioso porque o combate à corrupção nunca foi bandeira dos setores conservadores, salvo episodicamente e de forma oportunista e distorcida (até porque há uma contradição lógica entre os valores do sistema capitalista, onde o que vigora são os interesses individuais e imediatos, e um sistema que respeite os Direitos Humanos que se contrapõe ao sistema capitalista liberal colocando no centro de preocupação e ação o coletivo e os interesses nacionais de longo prazo).

Então por que a esquerda não é protagonista desse movimento de combate à corrupção? Acredito que é porque a esquerda vê alguns de seus quadros envolvidos em denuncias e acaba se colocando na defensiva nesses episódios, o que é um erro tático.

A Presidente Estadual do PCdoB Nadia Campeão orientou recentemente os dirigentes presentes à reunião ampliada do Comitê Estadual exatamente o que Pomar sugeriu: denunciar, combater os efeitos e eliminar as causas.


É fundamental que o combate à corrupção volte a ser uma bandeira da esquerda, dos setores progressistas, dos partidos políticos, dos intelectuais, dos estudantes e das centrais sindicais, etc., mas não no sentido “moralista” da velha UDN, sucedida pela ARENA, pelo PDS, PFL, PSDB, DEM, PP, PSD, PPS e PSOL.

Combater a corrupção separando a luta genuína desse moralismo lacerdista é fundamental. E só a esquerda pode fazer isso. A presidenta Dilma segue a cumprir com serenidade e seriedade, vem ignorando na medida do possível aqueles que lançam mão de um discurso moralista e ressuscitam a mesma tática usada para alçar Collor ao cenário nacional como o “caçador de marajás” (a história está ai e precisa ser consultada) ela não se deixou seduzir ou constranger por essa imposição de pauta conservadora e propõe uma agenda positiva ou afirmativa, que é a bandeira e a obsessão pelo desenvolvimento e pela elevação da qualidade de vida dos brasileiros, até porque não há contradição entre a agenda positiva proposta pela presidenta e o combate à corrupção, ao contrário da insistência ardilosa da oposição que, no parlamento e na mídia, quer impor um roteiro político economicamente conservador e recessivo, oculto pela retórica frágil representada pela tal “faxina” contra a corrupção.

Mas o papel de enfrentar as estruturas conservadoras que se apropriam de uma bandeira da esquerda não é da Presidenta, o papel dela é tático e não estratégico, cabe aos partidos políticos, à mídia não corporativa, à imprensa livre, aos intelectuais, estudantes e às centrais sindicais o papel estratégico, cabe à sociedade.

Exemplo disso foi a ocupação de Wall Street que ocorreu recentemente, manifestação visitada pelo intelectual Slavoj Žižek Na as visita à Liberty Plaza, em Nova Iorque, falou aos manifestantes do movimento Occupy Wall Street (Ocupe Wall Street).

Os manifestantes protestavam contra a crise financeira e o poder econômico norte-americano e o discurso de Slavoj Žižek contém uma boa orientação para todos da esquerda assumirem, de forma estruturante, o combate à corrupção. Ele afirma: “... o problema não é a corrupção ou a ganância, mas o sistema que nos incita a sermos corruptos [o capitalismo]. A solução não é o lema “Main Street, not Wall Street”, mas sim mudar o sistema em que a Main Street não funciona sem o Wall Street.”, ou seja, o problema é que o capitalismo é essencial e fundamentalmente corrupto e corruptor.

E segue dizendo: “(...) a razão de estarmos reunidos é o fato de já termos tido o bastante de um mundo onde reciclar latas de Coca-Cola, dar alguns dólares para a caridade ou comprar um cappuccino da Starbucks que tem 1% da renda revertida para problemas do Terceiro Mundo é o suficiente para nos fazer sentir bem. (...) os verdadeiros perdedores não estariam lá em Wall Street, os que se safaram com a ajuda de centenas de bilhões do nosso dinheiro? Vocês são chamados de socialistas, mas nos Estados Unidos já existe o socialismo para os ricos. Eles dirão que vocês não respeitam a propriedade privada, mas as especulações de Wall Street que levaram à queda de 2008 foram mais responsáveis pela extinção de propriedades privadas obtidas a duras penas do que se estivéssemos destruindo-as agora, dia e noite – pense nas centenas de casas hipotecadas… (...). Nós somos comunistas em um sentido apenas: nós nos importamos com os bens comuns – os da natureza, do conhecimento – que estão ameaçados pelo sistema. Eles dirão que vocês estão sonhando, mas os verdadeiros sonhadores são os que pensam que as coisas podem continuar sendo o que são por um tempo indefinido, assim como ocorre com as mudanças cosméticas. Nós não estamos sonhando; nós acordamos de um sonho que está se transformando em pesadelo. Não estamos destruindo nada; somos apenas testemunhas de como o sistema está gradualmente destruindo a si próprio.”.

Por isso o que tem de ser denunciado e combatido é um sistema econômico que corrompe, um sistema que financia a eternização do debate da necessária reforma política no Brasil, sem que ela (a reforma) ocorra de forma efetiva e se capaz de introduzir o financiamento público de campanha, por exemplo.

Temos de combater a corrupção sistêmica e buscar um elemento estruturante como o financiamento público de campanha o qual haverá de diminuir o poder e a influencia dos interesses privados (aliás, esse conceito é harmônico com a nossa ordem econômica constitucional, basta darmos uma olhada nos artigos 170 e seguintes da CF).

Além do mais há certa confusão conceitual que merece ser observada e corrigida.

Moral é uma condição essencial de humanidade, segundo Bauman, e ela não é necessariamente boa ou ruim, a existência da moral como condição humana nos possibilita fazer escolhas, fazer as escolhas conhecendo a existência do bem e do mal, do justo e do injusto, do certo e do errado. Essa condição humana tem a companhia da utopia, outra condição inseparável da condição humana.


Quando fazemos as escolhas boas, justas e certas estaríamos, ainda segundo Bauman agindo eticamente. A ética, por seu turno, é produto social estaria relacionada aos conceitos de sociedade e de ordem social. E a cultura de uma sociedade e das estruturas (ordem social) relaciona-se também á ética e à necessidade de as escolhas não serem aleatórias, por isso é chegado o momento de a esquerda assumir o protagonismo do combate à corrupção, dos corruptos dos corruptores e denunciando a verdade: esse fenômeno negativo chamado corrupção decorre do próprio sistema, todo resto são conseqüências,

E se, lamentavelmente, algum companheiro ou camarada passou a agir de modo diverso dos padrões éticos da esquerda, deixando-se cooptar pelo sistema econômico corrupto, corruptor e corrompido, se passou a favorecer interesses particulares ou de grupo em troco de recompensa com ele teremos de agir com o rigor próprio dos revolucionários, pois o que fazemos de forma institucionalizada é verdadeira revolução.

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