Pular para o conteúdo principal

Texto, contexto e pretexto

Política, nos ensina o Professor Francisco de Oliveira citando Jacques Rancière, pode ser entendida como “a reclamação da parte dos que não tem parte e, por isso, se constitui em dissenso.”, noutras palavras os que “fazem política” distingue-se por pautar os movimentos do outro, do adversário, por impor-lhes, minimamente, uma agenda de questões, sobre as quais e em torno das quais se desenrola o conflito.

Enquanto a Presidenta Dilma Rousseff propõe uma agenda positiva ou afirmativa, que é a bandeira e a obsessão pelo desenvolvimento e pela elevação da qualidade de vida dos brasileiros a oposição e parcela da mídia tentar impor outra agenda, qual seja o combate à corrupção.

Não há contradição entre estes dois objetivos, ao contrário da insistência ardilosa da oposição que, no parlamento e na mídia, quer impor um roteiro político economicamente conservador e recessivo, oculto pela retórica frágil representada pela tal “faxina” contra a corrupção.

Ou seja, o “texto” do combate à corrupção está inserido num “contexto” muito claro, que é o da ausência de propostas da oposição, a qual passa a usar a retórica fácil e sedutora da moral e da ética a “pretexto” de recolocar a sua agenda conservadora em pauta, a agenda neoliberal, pois é isso que eles são: conservadores. O debate político em curso opõe, de um lado, a oposição conservadora e neoliberal que, sem poder bater de frente contra o programa de desenvolvimento, investimentos e distribuição de renda do governo dirigido por Dilma Rousseff, insiste naquilo que chama de “faxina”.

Sem forças ou argumentos honestos para criticar as ações de governos e os programas sociais ou as medidas e econômicos a oposição busca dissimuladamente desqualificar o governo de forma subliminar, busca criar um campo especifico dentro do qual procura aprisionar o governo e a presidenta.

Mas parece que a presidenta não “caiu” na cilada, pois recentemente ela afirmou que a melhor forma de “administrar é buscar o bem de todos os brasileiros, é buscar a construção de um projeto nacional acima dos interesses partidários e que articule as dimensões sociais”, e encerrou com uma frase que indica qual faxina temos de fazer no Brasil: “É o Brasil inteiro fazendo um pacto pela verdadeira faxina que esse país tem que fazer: a faxina da miséria”, e é evidente que colocando o fim da miséria no centro das ações de governo o combate à corrupção e ao malfeito estará contemplado.

Se nos deixarmos seduzir pela agenda do simples combate à corrupção o que há de mais importante será esquecido, que é o desenvolvimento sustentável do Brasil e nesse sentido Dilma afirmou no momento em que anunciou a criação de mais quatro novas universidades federais: “Meu desafio não é isso, meu desafio nesse país é desenvolver e distribuir renda. Esse é meu grande desafio. O resto a gente tem que fazer por ossos do ofício.”.

Fiquemos, portanto, atentos aos objetivos das sedutoras bandeiras das pessoas que se apresentam como sendo “do bem”, porque na verdade, o objetivo da “operação faxina” da oposição conservadora é trincar a unidade na base aliada, tentando separar a presidenta dos partidos que a apoiam, particularmente o PMDB.

A bandeira que resta à oposição de direita, o moralismo hipócrita, tem, contudo pouca repercussão entre o povo, basta que observemos que apenas 9% dos brasileiros avaliam o governo como ruim ou péssimo.

E as declarações feitas de maneira insistente por Dilma Rousseff nas últimas semanas ilustram a distinção correta entre as duas agendas, a falsamente moralista da oposição, que se opõe à pauta desenvolvimentista do governo.

A bandeira do governo não é a ética e a lisura no uso do dinheiro público, pois elas são obrigação de todos os homens públicos e pré-requisito para a função pública, e o governo Dilma tem demonstrado que não vai tolerar infrações deste princípio.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

SOBRE PERIGOSO ESTADO MINIMO

O governo Temer trouxe de volta a pauta neoliberal, propostas e ideias derrotadas nas urnas em 2002, 2006, 2010 e 2014. Esse é o fato. Com a reintrodução da agenda neoliberal a crença cega no tal Estado Mínimo voltou a ser professada, sem qualquer constrangimento e com apoio ostensivo da mídia corporativa. Penso que a volta das certezas que envolvem Estado mínimo, num país que ao longo da História não levou aos cidadãos o mínimo de Estado, é apenas um dos retrocessos do projeto neoliberal e anti-desenvolvimentista de Temer, pois não há nada mais velho e antissocial do que o enganoso “culto da austeridade”, remédio clássico seguido no Brasil dos anos de 1990 e aplicado na Europa desde 2008 com resultados catastróficos. Para fundamentar a reflexão e a critica é necessário recuperarmos os fundamentos e princípios constitucionais que regem a Ordem Econômica, especialmente para acalmar o embate beligerante desnecessário, mas sempre presente. A qual embate me refiro? Me ref...

DA FAMÍLIA CORLEONE À LAVA-JATO

A autolavaggio familiare agiu e reagiu, impondo constrangimento injusto ao atacar a reputação de advogados honrados. Me refiro a Roberto Teixeira e Cristiano Zanin. Já perguntei aqui no 247 [1] : “ Serão os jovens promotores e juízes "de baixa patente" os novos tenentes" Penso que sim, pois assim como os rebeldes do inicio do século XX, os jovens promotores e juízes, passaram a fazer política e interferir nas instituições e estruturas do Estado a seu modo. Mas em alguns momentos as ações e reações deles lembram muito a obra de Mario Puzzo. As ideais dos rebeldes do início do século XX, assim como dos promotores e juízes desde inicio de século XXI, eram ao mesmo tempo conservadoras e autoritárias; os tenentes defendiam reformas políticas e sociais - necessárias naquele momento -, e no discurso estavam presentes os sempre sedutores temas do combate à corrupção e defesa da moralidade política. Deltan Dallagnol e Sérgio Moro representam os jovens promotores e juízes d...

PALOCCI, UM GRANDE FILHO DA PUTA.

Todos que jogam ou jogaram futebol, bem como aqueles apaixonados que frequentam as arquibancadas para torcer pelo seu time do coração ouvem e, por certo, já proferiram a libertadora expressão “ filho da puta ” ou, com mais esmero, “ filho de uma puta ”, dentre outros palavrões de caráter igualmente libertador. E todos sabem que tal expressão tem semântica própria, pois ninguém que refere à mãe daquele a quem direcionamos qualquer dos necessários palavrões. O adequado uso de palavrões representa síntese e expressa indignação diante de um erro inescusável do Juiz ou de um dos jogadores de qualquer dos times, há, portanto, uma dialética nos palavrões e isso merece atenção. Ou seja, é há uma dialética do palavrão. Na literatura também encontramos o uso de palavrões. Entre os escritores mais lidos da literatura brasileira, o romancista baiano Jorge Amado (1912-2001) é um dos que mais usa o palavrão em sua vasta obra literária. E falando em romances, Amado não é o único int...